Sapato velho e Roupa Nova num começo, meio e fim

O ano de 2020 tem sido, definitivamente, cruel demais para o campo cultural. Anos de muitas e significativas perdas, boa parte delas vítimas da COVID-19. Atores, artistas de um modo geral, de várias cenas, e principalmente na área musical. No último dia 14 de dezembro, quem faleceu foi o cantor Paulo César dos Santos, o Paulinho, vocalista do grupo Roupa Nova, deixando órfãos uma legião de fãs e um vazio na música romântica e pop/rock brasileira.

Natural do Rio de Janeiro, no dia 6 de setembro de 1952, Paulinho havia se submetido a uma cirurgia de transplante de medula óssea e contraiu o coronavírus. Foram meses de luta, mas não resistiu à animosidade do maldito vírus. Ele também era um talentoso percussionista, embora tivesse se notabilizado mesmo como o vocalista do Roupa Novo, uma referência para os demais integrantes: Ricardo Feghali, Cleberson Horsth, Serginho Herval, Kiko e Nando.

Segundo Tony Goes, da Folha de São Paulo, apesar do estrondoso sucesso, o grupo Roupa Nova “(…) nunca teve sua importância plenamente reconhecida pela crítica”. Surgido nos anos 80, teve seu embrião ainda em 1967, com o nome de Os Famks, tocando juntos até 1975, depois passaram a se chamar Os Motokas. Até adquirirem personalidade própria e autoral com o Roupa Nova, em 1981.

O sucesso veio com o tempo, emplacando hit atrás de hit, com grande repercussão nas emissoras de rádio e principalmente na TV, com participações em vários programas e com 40 temas inesquecíveis de novelas, entre eles: Anjo – Guerra dos Sexos (1983); Dona – Roque Santeiro (1985); Whisky a Go-go – Um sonho a mais (1985). Mas, nada se compara à música tema na novela A Viagem, de 1994.

Há 35 anos, nas várias edições do Rock in Rio, seus versos estão lá a embalar o festival: “se a vida começasse agora e o tempo fosse nosso outra vez”.  Quem, desde 1983, e com as inúmeras proezas de Ayrton Senna, não lembrará e não se emocionará com o Tema da Vitória, do maestro Eduardo Souto e execução musical de Roupa Nova?

Outros sucessos também marcaram a trajetória de Paulinho no Roupa Nova: Seguindo no trem azul (1985); A força do amor (1987); Meu universo é você (1988); Coração pirata (1990); Os corações não são iguais (1994); Começo, meio e fim (1999); Um sonho a dois (2006), só para citar algumas de uma discografia riquíssima e vastíssima, com 19 álbuns de estúdio, 5 ao vivo, 15 compilações, 3 EPs e 6 DVDs.

Roupa Nova, além de recordista de vendagem, colecionou vários prêmios, tais como: Sharp, por sete vezes entre 1987 e 1997; Troféu Imprensa; Prêmio Caras de Música Brasileira (2020); Prêmio da Música Brasileira; Prêmio Tim de Música (2005); e o Grammy Latino, em 2009, na categoria melhor álbum pop.

Durante anos, como acontece até hoje na vida de várias pessoas, a trilha sonora principal de meu romance com a professora Patrícia Monteiro foram as canções do Roupa Nova, em particular Sapato Velho (1981), Linda Demais (1985), Dona (1985) e Volta pra mim (1987). Esta então, cantei várias vezes pensando nas dificuldades que nossa relação juvenil enfrentava desde o seu nascedouro, mas que depois teve um final feliz ao som de muito whisky a go-go e noites e noites de um bom bate-papo, cerveja e sexo, claro, isto há quase 25 anos de casamento.

Roupa Nova estava se preparando para comemorar 40 anos em 2021, com uma série de projetos, incluindo shows e gravação de DVD. Não sabemos como vão ficar as coisas depois do falecimento de Paulinho, mas espero que o grupo se recupere da perda e em sua homenagem sigam em frente. Os fãs irão agradecer e, certamente, se emocionar. Paulinho, de roupa nova, agora a celestial, estará a emanar luzes e boas vibrações.

Autor

Claudefranklin Monteiro Santos

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