Mais riso e menos pranto

Tenho muito orgulho de minha formação e sou grato a Deus pelas oportunidades que tive na vida. Entre elas, a de ter estudado numa escola cenecista. Tive o privilégio de fazer o antigo Primeiro Grau no Colégio Cenecista Laudelino Freire, entre os anos 1980 e 1988, na cidade de Lagarto-SE, localizado na Avenida Cel. Francisco Garcez, 248. Hoje, o prédio tristemente abandonado causa revolta em quem por ele passa e saudosismo nos seus entusiastas. Ao contrário do que diz uma linda canção cenecista, há mais pranto do que riso naquele lugar.

Eu era muito menino, mas ainda guardo com precisão alguns daqueles hinos que nos ensinavam no Tremendão, apelido carinhoso para a escola. Este ao qual me reporto é de autoria de Dulce de Oliveira Vermelho (letra) e Juca Chagas (música). Eu tinha um compact disc que tocava na vitrola de meu irmão mais velho, também cenecista, prof. José Cláudio Monteiro. Eu conhecia de cor cada um daquele hinos, inclusive os pátrios. Mas, nenhum tocava tanto a gente quanto aquele.

“Tu que tens mais riso e menos pranto. / Tu que tens mais paz e menos luta. / Fica em silêncio um minuto só; / Pára e escuta: / Uma luz que a Escola Irradia. / E afugenta da treva o pavor. / Há de o povo lutar e vencer / Sem temor! Sem temor!” Era uma das estrofes, cantadas com graça e alegria. É fato, hoje mais maduro, que a letra também refletia o ideário educacional tecnicista do Regime Militar, sobretudo quando dizia: “Trabalhar! / Trabalhar”. Mas, ao mesmo tempo era um convite à superação e à propagação de uma escola aberta e idealista.

Fundada em Recife-PE no final da primeira fase da Era Vargas, em 1943, a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC), tem como propósito “atender crianças e jovens que não possuíam ofertas de estudos pelo poder público ou não tinham condições financeiras para ingressar em colégios privados”. Eu fui uma daquelas crianças, que por meio de bolsas de estudos, consegui estudar numa escola privada e filantrópica com excelente nível de ensino, a exemplo do Colégio Cenecista Laudelino Freire.

Este sonho nasceu da sensibilidade de um acadêmico em Direito, Dr. Felipe Tiago Gomes, e ganhou o país inteiro, rompendo barreiras e colaborando para a formação de inúmeras gerações, hoje figurando nas mais diversas áreas trabalhistas, do conhecimento e culturais. Impossível não ter sido cenecista e não se transformado em alguém diferenciado, sobretudo os que souberam aproveitar a oportunidade.

Infelizmente, as mudanças educacionais no país tornaram a vida dessas instituições cada vez mais difíceis. A desculpa era a de fortalecer o ensino público, que segue ainda necessitando de melhorias urgentes e agora, então, em razão do “legado” da pandemia de COVID-19. Muitas escolas fecharam, com dificuldade de se manterem e seus prédios, se não alugados ou vendidos, seguem, a exemplo do Tremendão, abandonado desde 2012, portanto há dez anos.

O Colégio Cenecista Laudelino Freire foi instalado em Lagarto no dia 26 de setembro de 1956, passando a funcionar oficialmente no ano seguinte. Durante anos, foi uma das instituições escolares mais importantes de Sergipe. Como egresso daquela instituição, a quem sou eternamente grato, fica aqui o meu apelo cenecista: “mais riso e menos pranto” para aquele lugar. Ele merece respeito! Não pode continuar sendo um túmulo de nossas melhores lembranças.

A propósito do conteúdo do presente texto, há em Lagarto um vergonho hábito de abandonar seus bens culturais materiais, cujo maior exemplo é o Grupo Escolar Sílvio Romero, de saudosa memória, quase centenária. O poder público, seja ele federal, municipal ou estadual, ao invés de investir recursos na restauração e recuperação funcional desses prédios, têm alugado e até reformado casas de particulares para acomodar órgãos da administração. Enquanto isso, representantes significativos da cultura escolar e da arquitetura patrimonial tombam a céu aberto, quando não, são derrubados sem a menor dó sob a alegação de que são coisas velhas.

Autor

Claudefranklin Monteiro Santos

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