Paulinha Abelha: A saudade em manchete de jornais
“Desde o dia em que você se foi / Eu não consigo mais dormir / Eu não consigo te esquecer / Está faltando alguma coisa em mim / Porque uma parte está aqui / A outra ficou com você…” (Chrystian da Silva Lima / Ivo Lima / Ivonaldo de Souza Lima Junior – Calcinha Preta, vol. 8, 2002).
Hoje parece profecia, mas é a mais pura e dura realidade. Precocemente falecida aos 43 anos de idade, a vocalista e dançarina da banda sergipana, Calcinha Preta, deixou milhões de fãs órfãos em todo país. Não resistindo a complicações de uma crise renal, Paula de Menezes Nascimento Leça Viana (nossa inesquecível Paulinha Abelha), morreu no dia 23 de fevereiro de 2022, no Hospital Primavera, em Aracaju-SE.
Em Lagarto-SE, em junho de 2010, na primeira gestão do prefeito Valmir Monteiro, realizou-se mais uma edição do Festival da Mandioca, na antiga praça do Tanque Grande, entre o Mercado Municipal (hoje em homenagem a José Correa Sobrinho) e o Parque de Exposições Nicolau Almeida. Entre as principais atrações, o grupo Calcinha Preta.
Fã do grupo há alguns anos, sobretudo da época em que animava as chamadas festas de pé de cerca do interior lagartense, naquele ano eu fui apresentado a Paulinha Abelha pelo amigo Marcos Clay, da MC NEWS. Um momento que foi registrado em vídeo e em fotografia que marcou minha vida. O que poucos sabiam, era que eu curtia o trabalho do grupo e o carisma da cantora. Ainda mais com a imagem que eu construí ao longo dos anos de “intelectual”.
Foi um uma noite mágica. Paulinha sorriu prá mim com sinceridade e afeto, abraçou-me carinhosamente e me presenteou com um beijo na face. Fiquei alguns minutos abraçado com ela, enquanto seu pai, com lágrimas nos olhos, concedia entrevista para Marcos Clay, e Paulinha acenava para os fãs. Jamais esquecerei daquele dia!
Ao receber a notícia de seu internamento, fiquei surpreso e aflito e passei a acompanhar atentamente o desenvolvimento. Ninguém imaginava com o desfecho fosse fatal. Ainda mais depois de dois anos tão difíceis às voltas com a COVID-19, sobretudo, quando não faz pouco tempo que outra importante cantora brasileira falecia em acidente aéreo: Marília Mendonça (26 anos, 5 de novembro de 2021).
Natural da cidade sergipana de Simão Dias, aos 16 de agosto de 1978, aos 12 anos, já cantava em trios elétricos, tendo direcionado a carreira depois para o forró, principalmente o que se convencionou chamar de “forró eletrônico”. Foi por muito anos, uma das principais atrações do grupo Calcinha Preta, fundado em Aracaju em dezembro de 1995, pelo empresário e produtor musical Gilton Andrade. Na banda, viveu dois momentos: desde 1998, tendo participado da gravação de 22 álbuns, com enorme sucesso e repercussão nacional; e o seu retorno em 2014, depois de ter tentado emplacar outros projetos pessoais.
Atualmente o grupo Calcinha Preta é composto por Daniel Diau; Silvânia Aquino e Bell Oliver. Vinha retomando seus tempos áureos, de novo na estrada, apesar dos últimos acontecimentos, envolvendo as mortes de: José Aparecido da Silva (Sidney, 2001), primeiro vocalista da banda; Wesley Cristan da Silva Santos (2014), assistente administrativo; Gilson Batata (2009), baixista e produtor musical.
Paulinha Abelha não deixou filhos e estava casada com o modelo Cleverton Santos. O que mais me encantava nela era a sua performance no palco. Aliás, sempre deixava claro para a minha esposa, que me acompanhava aos shows do Calcinha Preta, que não se tratava de um fetiche sexual, mas de um encantamento de fã. Paulinha enchia o palco, não somente com a beleza, com o canto, com a dança, mas principalmente com seu sorriso franco e com os olhos que procuravam os fãs em cada metro quadrado. E entre eles, ali estive eu a cantar os sucessos da banda, entre eles um que dizia: “Estou sentada aqui no bar / No mesmo lugar / Que a gente se encontrava / Pra tomar umas / E conversar / Pensando em você / E o que vou fazer / Pra não te perder” (Calcinha Preta, vol. 2009).