Ave-Maria, Batman e Nirvana
Antes de analisar essa curiosa tríade de elementos inusitadamente correlacionados, permitam-me antes discorrer sobre a principal questão que envolve o mais novo sucesso da DC Comics nos cinemas: qual foi a melhor interpretação do super-herói Batman de todos os tempos, desde quando apareceu nos quadrinhos pela primeira vez em maio de 1939?
A minha primeira lembrança do Batman nas telas, nesse caso na TV, remete ao seriado norte-americano “Batman e Robin” (1966-1968). Embora eu tenha nascido antes, em 1974, lembro de ter visto uma das reprises. Poderia encerrar a discussão aqui e cravar que o melhor foi o interpretado por Adam West (1928-2017), ao lado de Burt Ward (1945), no papel do “Menino Prodígio”.
Mas, aí eu seria muito injusto com Michael Keaton (Batman, 1989 – Batman, o Retorno, 1992), Val Kilmer (Batman Forever, 1995), George Clooney (Batman e Robin, 1997), Christian Bale (Batman Begins, 2005 – Batman, o Cavaleiro das Trevas, 2008 – Batman, o Cavaleiro das Trevas Renasce, 2012). E também com Ben Affleck, em: Batman x Superman, 2016 – Liga da Justiça, 2017.
O fato é que o Batman da vez é Robert Pattinson, superando em definitivo a associação de sua imagem ao filme de Crepúsculo (2008). E posso assegurar que é um dos melhores filmes do Homem Morcego dos últimos anos. Dirigido por Matt Reeves, o filme BATMAN (2022) é longo (cerca de três horas de duração), mas não é cansativo. O enredo e a trama são fascinantes, prendendo-nos a cada detalhe. Os diálogos não são cansativos e a cenas de ação priorizam a luta corporal, sem abrir mão dos efeitos visuais.
Particularmente, quero destacar a trilha sonora que vai ao encontro do tema do presente texto. Além das criações do compositor norte-americano Michael Giacchino, canções muito conhecidas, entre elas “Something in The Way”, da banda Nirvana e a “Ave Maria” de Franz Schubert (1797-1828).
Do início ao fim, a música instrumental clássica, “Ave Maria” de Franz Schubert, de 1825, embala o filme BATMAN. Como católico, isso logo me chamou a atenção. Fiquei curioso para saber do uso dessa ideia e ela se processa melhor ao longo do filme. Aliás, não é a primeira vez que essa relação entre os filmes de super-heróis da DC e o imaginário católico são evidenciados. Em Liga da Justiça (2017), há uma cena que remete ao Calvário, quando Louis Lane recebe Superman morto no colo, lembrando a Pietá.
“Something in The Way”, da banda Nirvana, foi composta por Kurt Cobain em 1990, e foi inspirada no tempo em que o vocalista e líder do grupo viveu maus bocados, tendo que dormir na rua e embaixo de pontes. “Por uma grande coincidência, a soturna faixa combina perfeitamente com o tema do filme”, refere-se o jornalista André Luiz Fernandes (UMESP).
O fato é que esse ecletismo do novo filme de um dos famosos super-heróis do universo da DC Comics deu conta de unir religiosidade e rock in roll, numa pegada poucas vezes antes tentada. Ao tempo em que o herói luta por vingança e justiça, no fluxo próprio de canções mais do tipo pesada, a leveza e a poesia da Ave Maria de Schubert, representa o tom de empatia de Batman com alguns de seus vilões, nesse caso específico o Charada, sujeito cuja infância foi atormentada em ambientes de internato.
Não tenho nada contra a spoilers, mas também não gosto muito de estragar prazeres. Mas, se você não quiser permanecer para as cena pós-créditos fique à vontade. Não vai perder muita coisa para entender a sequência do novo filme de Batman, comum aos de super-heróis, não somente da DC mas também da Marvel. Eu, particularmente, experimentei aquela sensação de surpresa e de irritação, que acabou em risos.