“Villa Boa de Goyaz”, de Cora Coralina, é dica de leitura deste fim de semana

Villa Boa de Goyaz” é o retrato da vida e tradições goianas pela perspectiva da tão querida Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, eterna Cora Coralina. Não só composto de poesia, mas também de prosa, Aninha fez (mais uma vez) surgir um sentimento enorme de nostalgia daquilo que nunca vivi. Com uma escrita simples e bela, ela nos transporta ao tempo antigo da época em que Goiás se escrevia com “y” e “z”, e em que hospitalidade, tradição e fé fervorosa ainda mantinham-se vivos nas pessoas. Escrito com ternura, os contos e poesias envolvem o Rio Vermelho, festas tradicionais, as pedras da cidade — sempre tão presentes em sua poesia! —, os moleques de rua, a Catedral de Goiás, e, entre outras coisas, não poderia deixar de fora: a devoção à Santa Luzia.

Sobre a autora

Cora Coralina (1889-1985) foi uma poetisa e contista brasileira. Publicou seu primeiro livro quando tinha 75 anos e tornou-se uma das vozes femininas mais relevantes da literatura nacional.

Ana Lins dos Guimarães Peixoto conhecida como Cora Coralina, nasceu na cidade de Goiás, no Estado de Goiás, no dia 20 de agosto de 1889. Filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador, nomeado por Dom Pedro II, e de Jacinta Luísa do Couto Brandão. Cursou apenas até a terceira série do curso primário.

Primeiros Poemas
Cora Coralina começou a escrever poemas e contos quando tinha 14 anos, chegando a publicá-los, 1908, no jornal de poemas “A Rosa”, criado com algumas amigas. Em 1910, seu conto “Tragédia na Roça” foi publicado no “Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás”, usando o pseudônimo de Cora Coralina. Em 1911, fugiu com o advogado divorciado Cantídio Tolentino Bretas, indo morar em Avaré, no interior de São Paulo. Em 1922, Cora Coralina foi convidada para participar da Semana de Arte Moderna, mas foi impedida pelo marido.

Em 1934, depois da morte do marido, Cora Coralina tornou-se doceira para sustentar os quatro filhos. Viveu por muito tempo de sua produção de doces. Embora continuasse escrevendo, produzindo poemas ligados à sua história e aos ambientes em que fora criada, se dizia mais doceira do que escritora. Considerava os doces cristalizados de caju, abóbora, figo e laranja, que encantavam os vizinhos e amigos, obras melhores do que os poemas escritos em folhas de caderno.

Já em São Paulo, em 1934, trabalhou como vendedora de livros. Em 1936, muda-se para Andradina, onde começa a escrever para o jornal da cidade. Em 1951 candidata-se a vereadora. Passados cinco anos, resolve voltar para sua cidade natal. Em 1959, com 70 anos, decidiu aprender datilografia para preparar suas poesias e entregá-las aos editores.

Primeiro Livro
Em 1965, com 75 anos, Cora Coralina conseguiu realizar o seu sonho de publicar o primeiro livro “O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais”. Em 1970, toma posse da cadeira nº. 5 da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás. Em 1976, lança seu segundo livro “Meu Livro de Cordel”. O interesse do grande público só foi despertado graças aos elogios do poeta Carlos Drummond de Andrade, em 1980.

Nos últimos anos de sua vida, sua obra foi reconhecida sendo convidada para participar de conferências e programas de televisão. Cora Coralina foi agraciada com o título de Doutor Honoris Causa da UFG. Recebeu o “Prêmio Juca Pato” da União Brasileira dos Escritores, como intelectual do ano de 1983, com o livro “Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha”. Em 1984 é nomeada para a Academia Goiânia de Letras, ocupando a cadeira nº. 38.

A poetisa que escreveu sobre o seu tempo e sobre o futuro, destacando a realidade das mulheres dos anos de 1900 é o principal nome da cidade de Goiás. Em 2002, a cidade de Goiás com sua paisagem urbana predominantemente marcada pela arquitetura dos séculos 18 e 19, recebeu o título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, dado pela Unesco. A casa onde morou a poetisa Cora Coralina é hoje o museu da escritora.

Obras de Cora Coralina
Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, poesia, 1965
Meu Livro de Cordel, poesia, 1976
Vintém de Cobre: Meias Confissões de Aninha, poesia, 1983
Estórias da Casa Velha da Ponte, contos, 1985
Os Meninos Verdes, infantil, 1980
Tesouro da Casa Velha, poesia, 1996 (obra póstuma)
A Moeda de Ouro Que um Pato Engoliu, infantil, 1999 (obra póstuma)
Vila Boa de Goiás, poesia, 2001 (obra póstuma)
O Pato Azul-Pombinho, infantil, 2001 (obra póstuma)