Relatório técnico sugere medidas de segurança para evitar acidentes nos Cânions

Relatório publicado semana passada pelo Serviço Geológico do Brasil, empresa vinculada ao Ministério de Minas e Energia, classifica 13 das 19 áreas dos Cânions de Xingó  submetidas a avaliação geotécnica como de perigo algo, três como perigo moderado e três como perigo baixo de deslizamento, processos hídricos e erosão. Como consequência, foram sugeridas 14 medidas preventivas para evitar acidentes como o ocorrido esse ano nos cânions de Capitólio, em Minas Gerais.

Realizada em atendimento à solicitação protocolada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade de Sergipe, a vistoria ocorreu entre os dias 14 e 24 de fevereiro, contemplando os municípios de Canindé do São Francisco (SE), Piranhas (AL), Delmiro Gouveia (AL), Olho D’Água do Casado (AL) e Paulo Afonso (BA). A avaliação na região foi realizada pelos geólogos do SGB-CPRM Anselmo Pedrazzi, Fernando Cunha e Rubens Dias, com o acompanhamento de representantes da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros dos três estados, além de técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).

Entre as medidas de prevenção sugeridas estão a utilização de boias flutuantes na demarcação de perímetros de interesse; manter o tráfego de embarcações a uma distância mínima de uma vez a altura do paredão; evitar visitas e passeios em dias com elevadas previsões de chuva; fiscalizar e proibir a construção ou visitação em áreas protegidas pela legislação vigente; instalar sistema de alerta para as áreas suscetíveis; avaliar a remoção e/ou contenção de blocos soltos e instáveis localizados entre a borda e o topo dos paredões, acima de áreas onde é comum a presença humana; evitar a manutenção de estruturas de visitação, em locais que estejam a uma distância mínima menor que meia vez a altura do paredão; dar preferência a locais onde a face do paredão se afasta da margem do lago, com amplitudes reduzidas e inclinações mais suaves, para a implantação de novas áreas de banho; criação de um plano de contingência, para ser usado na eventualidade da ocorrência de acidentes; promover campanhas de conscientização para os perigos intrínsecos ao ambiente, com divulgação de material orientativo; adoção de equipamentos de proteção individual, como capacetes, em locais que apresentem um teto rochoso, como a Furna do Morcego e a Gruta do Talhado; desenvolver estudos geotécnicos e hidrológicos com a finalidade de embasar os projetos e/ou obras de contenção de encostas ou de blocos rochosos; fiscalizar e exigir que novos empreendimentos turísticos apresentem laudos técnicos ou estudos correlatos que autorizem a visitação turística ao local; Adequar os projetos de engenharia às condições geológicas e topográficas locais, evitando realizar escavações e aterros de grande porte.

A avaliação foi motivada pelo evento ocorrido no lago da Represa de Furnas, na região do município de Capitólio, em Minas Gerais, no mês de janeiro desse ano. A semelhança entre os cenários, de ambas atrações turísticas, serviu de alerta aos responsáveis pela administração das áreas turísticas na região do Cânion do Xingó, de que algo semelhante pudesse ocorrer. Chegaram, então, à conclusão de que era necessário realizar uma vistoria preventiva com o intuito de fomentar o aumento da segurança dos visitantes e demais frequentadores.

Segundo os pesquisadores em geociências do SGB-CPRM, devido a sua vastidão e sua complexidade geológica, existem variadas conformações de terreno nos Cânions. Todavia, em geral, as margens do Lago de Xingó são suscetíveis a movimentos gravitacionais de massa em praticamente toda sua extensão. Seus paredões, nos trechos de maior amplitude, podem chegar aos 80 metros de altura, o equivalente a um prédio de 25 andares e suas inclinações chegam a ser negativas, literalmente formando tetos sobre as águas do lago.

Os principais processos identificados foram: Tombamento rochoso, causado por um movimento em arco de um fragmento de rocha solto, apoiado apenas pela base; Queda de blocos, causado por um movimento de queda livre, de fragmentos de rocha, normalmente ligados ao paredão apenas lateralmente, sem apoio para a base; Rolamento de blocos, causado por fragmentos de rocha que podem rolar ou quicar devido a perda de apoio ou atrito em superfícies inclinadas; Desplacamento, causado pelo desprendimento de lajes ou placas rochosas, em um movimento deslizante sobre superfícies inclinadas.

Os locais analisados foram organizados nas seguintes classificações: áreas associadas a movimentos gravitacionais de massa; áreas de risco geológico associadas a processos hídricos; áreas a serem monitoradas e áreas sem necessidade de monitoramento. Ao detalhar as peculiaridades de cada local, os pesquisadores descrevem no relatório que a região dos cânions do lago Xingó, apresenta, em sua maior parte, condições potenciais para a ocorrência de movimentos gravitacionais de massa, ao longo de seus paredões e taludes naturais.

“Suas amplitudes e declividades, ultrapassam consideravelmente e frequentemente, os parâmetros mais conservadores, requeridos nas normas em vigor. O padrão de fraturamento, bem como a frequência das fraturas no maciço rochoso, contribuem para as condições de erodibilidade e consequentemente, sua oferta de material rochoso suscetível a instabilidades. Além de sua vulnerabilidade natural, foi constatado em alguns dos pontos visitados, a existência de infraestruturas permanentes e móveis, onde ocorre a permanência de turistas e moradores da região, de forma frequente. Essas estruturas usadas durante as visitações, estão localizadas principalmente junto aos paredões do cânion, a distâncias menores que a própria altura dos paredões. Diante destes fatos, deve se afirmar, que existe a possibilidade de ocorrer acidentes movimentos gravitacionais de massa (deslizamentos, queda e rolamento de blocos, desplacamentos, tombamentos) a processos e hídricos de alta energia”, diz trecho do relatório.