Primeiro milagre de Odetinha, nascida em Madureira, seria a cura da mãe
O Papa Francisco autorizou nesta semana a promulgação do decreto que reconhece as virtudes heroicas de Odette Vidal Cardoso, conhecida como Odetinha. Até então considerada serva de Deus, a menina, que nasceu no município do Rio de Janeiro em 1931 e morreu aos 8 anos, recebe agora o título de venerável e avança mais um degrau no processo de beatificação.
O título foi dado na quinta-feira (25), dia em que a morte de Odetinha completou 82 anos.
O processo de beatificação de Odetinha foi iniciado em janeiro de 2013, com uma cerimônia na Igreja Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado. No início de 2015, foi encaminhada à Santa Sé a documentação reunida pelo Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese do Rio, que recebeu parecer favorável pela Congregação da Causa dos Santos, em 2016. Após ser considerada venerável, o próximo passo é a beatificação, quando houver um milagre atribuído à intercessão daquele venerável que seja reconhecido pelo Vaticano.
Para virar santo, são quatro etapas. O processo pode demorar décadas. Ou pode ser rápido. Não há prazo determinado.
No Rio, outras três pessoas passam pelo processo da Igreja Católica e podem virar santos nos próximos anos: o casal Zélia, de Niterói, e Jerônimo, de Magé, que se casaram na Barra; e Guido Schäffer, que nasceu em Volta Redonda mas passou a vida em Copacabana. Todos ainda estão na primeira etapa, são servos de Deus. Veja mais sobre eles no fim da matéria.
Odetinha nasceu em Madureira
Filha de portugueses que emigraram para o Brasil, Odetinha nasceu em Madureira, na Zona Norte do Rio, em 18 de fevereiro de 1931. A mãe, Alice, ficou viúva quando ainda estava grávida da menina. Já com a filha nascida, Alice se casou com um rico comerciante, Francisco, que acolheu a menina como pai.
Odetinha ia todo dia à missa e rezava o terço com a família todas as noites. Dedicada à caridade com os que mais precisavam, gostava de ajudar a mãe, que fazia uma feijoada aos sábados para os pobres.
Aos 5 anos, começou a frequentar o catecismo no Colégio São Marcelo, da Paróquia Imaculada Conceição, em Botafogo. O padre Alfonso percebeu a “extraordinária maturidade” de Odetinha na fé e admitiu que ela fizesse a primeira comunhão em 15 de agosto de 1937.
Depois de ter adoecido com tifo em 1º de outubro de 1939, Odetinha, durante os 49 dias em que ficou doente, mostrou uma fortaleza fora do comum. Suportou os sofrimentos com serenidade e paciência e nunca se queixou. Recebeu a comunhão diariamente e, nos últimos dias de vida, também recebeu os sacramentos da crisma e a unção dos enfermos.
O primeiro milagre de Odetinha seria a cura de sua própria mãe. Segundo relatos, após a morte da filha, Alice foi atropelada. Um grave ferimento fez com que houvesse risco de amputação de uma das pernas. Então, um afilhado de Alice foi ao túmulo de Odetinha, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, pedir a cura da madrinha e prometeu à menina que o ferimento seria lavado com água e pétalas de rosas. No dia seguinte, a ferida havia sumido.
Arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta comemorou a notícia. Em entrevista ao site “Vatican News”, o cardeal descreveu Odetinha como “uma menina que rezava, cuidava dos pobres, tinha uma grande preocupação com os necessitados e que deixou belos exemplos”.
“Pedimos a Deus para que, cada vez mais homens e mulheres, jovens e adultos, adolescentes, crianças e idosos possam se santificar nesta grande cidade. Odetinha é a primeira venerável dessa nossa arquidiocese, dessa nossa cidade. E nós bendizemos a Deus, que muitos outros sejam reconhecidos na sua caminhada de santidade nesta cidade “, disse Orani.
Neste fim de semana, Dom Orani vai rezar duas missas em ação de graças pelo reconhecimento das virtudes heroicas de Odetinha: neste sábado (27), aconteceu às 8h30, na Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro, e no domingo (28), a celebração ocorre às 10h30, na Paróquia Imaculada Conceição, em Botafogo, onde estão os restos mortais da menina.
Oração de Odetinha
“Ó, querido Jesus, que escolhestes as criancinhas, curando-as e as abençoando, demonstrando particular predileção por elas, vos louvam com um louvor perfeito e revelando, assim, o reino de Deus aos menos favorecidos da sociedade, aos simples e aos humildes. Olhai com carinho o nosso pedido, pelos méritos infinitos de vosso Santíssimo Coração e do Coração Imaculado da Santíssima Virgem que, se for para a vossa maior glória e bem de nossas almas, vos digneis glorificar, diante de toda a igreja, a menina Odette Vidal Cardoso (Odetinha), lírio de pureza e caridade da Igreja Particular de São Sebastião do Rio de Janeiro e exemplo de vida para o povo de Deus. Unidos em comunhão eucarística e guiados pela doçura do Espírito Santo, concedei-nos, por sua intercessão, a graça que vos pedimos. Amém”.
As etapas do processo para virar santo
Servo de Deus – Cinco anos após a morte do candidato, o responsável pela arquidiocese dá início à compilação dos documentos que contenha toda e qualquer informação relevante sobre ele.
Venerável – Após o nihil obstat (nada consta) ser concedido, um tribunal eclesiástico investiga a santidade do Servo de Deus.
Beato – Esta fase consiste em provar se os milagres atribuídos ao candidato têm explicação científica. Um junta médica é convocada para analisar. Após o primeiro milagre ser confirmado, o candidato a santo passa então a ser chamado de beato.
Santo – Após ser confirmado o segundo milagre, a Congregação Para a Causa dos Santos do Vaticano encaminha o processo para o Papa. Depois, o processo é encerrado com a canonização do candidato.
Surfista também pode virar santo
A primeira causa de beatificação de um casal no Brasil foi aberta em janeiro de 2014, para Zélia e Jerônimo de Castro Abreu Magalhães. Zélia nasceu em Niterói, e Jerônimo, em Magé, mas eles se casaram na Barra, em 1876. Tiveram 13 filhos, dos quais nove entraram para a vida religiosa. Tratavam escravos como pessoas livres desde antes da Lei Áurea e tinham grande compaixão pelos pobres. Após a morte do marido, em 1909, Zélia entrou para uma ordem religiosa.
O mais recente processo de canonização aberto na arquidiocese do Rio foi o de Guido Schäffer. Médico, seminarista e surfista. Ele morreu de forma trágica, no mar, aos 34 anos, em 2009. Guido nasceu em Volta Redonda, mas foi muito cedo para Copacabana. A ele são atribuídos milagres e curas, o que fez com que uma legião de fiéis passasse a pedir sua canonização. Seu processo de canonização foi iniciado no fim de 2014 e enviado para o Vaticano em 2015.
Tanto Guido quanto o casal estão na primeira etapa do processo, sendo considerados servos de Deus.
Fonte: Extra