Prédios residenciais são atacados em Kiev durante ‘pausa’ em negociações

 

A capital da Ucrânia, Kiev, amanheceu nesta terça-feira (15) com bombardeios em prédios. Em um dos ataques, o serviço de emergências da Ucrânia confirmou ao menos duas mortes após um edifício residencial ter sido atingido. A Prefeitura de Kiev —que receberá a visita de líderes europeus hoje— já determinou 35 horas toque de recolher a partir da noite de hoje, terminando na manhã de quinta-feira (17). “Hoje é um momento difícil e perigoso”, disse o prefeito da capital, Vitaliy Klitschko.

Os ataques acontecem no 20º dia da invasão russa ao território ucraniano. Hoje, delegações dos dois países pretendem retomar a reunião iniciada ontem, que teve uma “pausa técnica”, segundo Mikhailo Podolyak, assessor da presidência da Ucrânia. Até o momento, não foi anunciada uma previsão de horário. O governo russo diz que é cedo para fazer previsões sobre as negociações.

O governo ucranino anunciou hoje mais corredores para evacuação de civis. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), uma criança torna-se refugiada a cada segundo na Ucrânia; mais de 3 milhões de pessoas já deixaram o país.

Ataques em Kiev

Na capital, um prédio residencial de 16 andares foi atingido no distrito de Sviatoshynskyi. Houve incêndio em todos os andares, segundo o serviço de emergências. “Os corpos de duas pessoas foram encontrados no local”, disse o serviço, que relatou ter resgatado 35 pessoas.

No mesmo distrito, um edifício residencial de nove andares também foi danificado após ataques na manhã desta terça. Uma casa de dois andares foi atingida na área de Osokorki, também na capital. Até o momento, não há informação de vítimas.

A polícia ucraniana, por sua vez, registra que ataques com bombas também atingiram edifícios residenciais nos distritos de Podilskyi e Darnytskyi.

A entrada de estação de metrô de Lukyanivska foi danificada após explosões, segundo o prefeito.

Toque de recolher e apelo

A Prefeitura de Kiev já anunciou um toque de recolher a partir das 20h de hoje (15h, em Brasília) até as 7h (2h, no Brasil) de quinta. “Proibição de circulação pela cidade sem passes especiais. Você só pode sair para chegar ao abrigo”, explicou o prefeito.

Klitschko pediu que os moradores da capital prepararem-se “para o fato de que terão que ficar em casa por dois dias ou, em caso de alarme, em um abrigo”.

O prefeito fez um apelo, em outra mensagem, para que cidadãos voltem à capital para sua defesa. “Homens de Kiev! Voltem! Precisamos proteger nossa cidade e nosso futuro! Em vez de sentar em algum lugar e simpatizar!”, escreveu. “A capital —o coração da Ucrânia— será defendida!” Para ele, “todos que amam Kiev e querem que ela sobreviva devem ajudar o máximo que puderem”.

Visita de líderes europeus

Os primeiros-ministros da Polônia, República Tcheca e Eslovênia viajarão nesta terça-feira a Kiev como representantes do Conselho Europeu.

Mateusz Morawiecki, Petr Fiala e Janez Jansa “viajam hoje (terça-feira) a Kiev na qualidade de representantes do Conselho Europeu para um encontro com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o primeiro-ministro Denis Shmyhal”, afirma um comunicado divulgado pelo governo polonês.

O objetivo da visita é “reafirmar o apoio inequívoco do conjunto da UE (União Europeia) à soberania e independência da Ucrânia e apresentar um conjunto de medidas de apoio ao Estado e sociedade ucranianos”, acrescenta a nota.

Pausa em negociações

As delegações de Rússia e Ucrânia interromperam momentaneamente as negociações após a reunião de ontem para tratar sobre a invasão russa ao território ucraniano. Ela deverá ser retomada hoje. “Uma pausa técnica foi feita nas negociações até amanhã [terça]”, escreveu Podolyak, em mensagem no Twitter, ontem.

O período será utilizado para debate de pontos em subgrupos de trabalho. “As negociações continuam…”, completou o ucraniano. A Ucrânia quer “paz, cessar-fogo, retirada imediata das tropas e garantias de segurança”.

Podolyak, que tem reafirmado que as conversas são difíceis, hoje criticou a atuação de outros países sobre o conflito na Ucrânia. “A Rússia luta apenas com cidades pacíficas, destruindo-as à noite com mísseis. Nosso exército vence os russos em todas as direções. Os parceiros ainda ficam de lado, com medo de se tornarem líderes globais”, escreveu nesta terça.

Aeroporto destruído

O aeroporto da cidade de Dnipro, no leste da Ucrânia, sofreu uma “destruição maciça” após dois bombardeios russos na madrugada de terça-feira, anunciaram as autoridades locais. “A pista foi destruída. O terminal está muito danificado. Destruição maciça”, escreveu o governador da região de Dnipro, Valentin Reznichenko, no Telegram.

Atenção em Mariupol

As Forças Armadas da Ucrânia relataram hoje que o “inimigo está tentando capturar Mariupol”. “Os soldados ucranianos repeliram com sucesso os ataques dos invasores.” Mariupol é uma cidade portuária, ao sul do país, considerada estratégica no conflito entre russos e ucranianos.

Para os militares, a Rússia não teve “sucesso significativo em todas as áreas de avanço”. “Os principais esforços [dos russos] continuam a centrar-se na manutenção das fronteiras ocupadas”, diz o comunicado desta terça, que também pontua que “o inimigo continua a lançar ataques com mísseis e bombas em infraestruturas críticas”.

O Ministério da Defesa da Rússia, por sua vez, ressalta que apreendeu “10 sistemas de mísseis antitanque Javelin de fabricação americana e vários outros tipos de armas fornecidas por países ocidentais à Ucrânia”. Segundo o ministério, esse armamento será destinado às “unidades da milícia popular das repúblicas populares de Donetsk e Luhansk”, em referência a áreas separatistas na Ucrânia.

Mais lento que o esperado

O avanço das forças russas é mais lento e problemático que o esperado. O comandante da Guarda Nacional da Rússia, Viktor Zolotov, admitiu que a operação “não está seguindo tão rápido como gostaríamos”.

O presidente russo, Vladimir Putin, havia ordenado até o momento a suas forças para “conter qualquer ataque imediato às grandes cidades”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, embora não tenha descartado a possibilidade de ações contra as grandes cidades “que já estão quase cercadas sob controle total”.

Fonte: Uol