Pandemia agrava superexposição de crianças e jovens na internet

Por Wilma Anjos

Uma pesquisa feita em 2018 pela Tic Kids On Line revelou que 86% das crianças e adolescentes brasileiros, entre nove e 17 anos, já estavam conectados. Isso representa 24,3 milhões de usuários. Os dados foram extraídos de uma amostra de 2.964 famílias entrevistadas. O celular, de longe, é o preferido – 90% disseram que usam. Porém o mais preocupante foi que 71% dos entrevistados do sexo masculino responderam que estão conectados em jogos on-line. O uso exacerbado, dois anos antes da pandemia, já chamava a atenção da professora do curso de Psicologia da Universidade Tiradentes (Unit), Flor Teixeira, que, juntamente com a sua sócia, a psicóloga Luciana Uzêda, lançou este ano a campanha #DESCONECTA. Elas explicaram para o Correio de Sergipe o porquê de se mobilizarem a respeito:

Correio de Sergipe: O que você chama de hiperconectividade?
Flor Teixeira: É a necessidade que a pessoa tem de ficar conectada o tempo inteiro à internet e às redes sociais.

CS: Na pesquisa de 2018, soube-se que 86% das crianças e adolescentes brasileiros estavam conectados. Esse índice piorou na pandemia?
Luciana Uzêda: Sim, consideravelmente! O Brasileiro tem ficado, em média, 3h45min conectado. Tempo considerado acima da média, segundo pesquisas recentes.

CS: Mas existe um limite saudável para navegar?
Flor Teixeira: Sim, de uma a duas horas. O saudável é quando a criança e o adolescente não deixam de fazer nada para ficar jogando ou estar conectado.

CS: Segundo a pesquisa, os meninos eram os mais afetados, por quê? O sexo masculino desenvolve mais a compulsão?
Flor Teixeira: Pode estar relacionado a aspectos culturais, porque não existe uma explicação biológica para isso, já que a ação ou fisiopatologia da doença está associada à recompensa, que é igual nos dois sexos.  As compulsões mais comuns para o sexo masculino estão ligadas ao álcool, às drogas e ao sexo. Já para o sexo feminino, às compras, à comida.

CS: Em que momento os pais podem falar em comportamento compulsivo dos filhos por internet?
Luciana Uzêda: Quando há um prejuízo no sono, na socialização, na alimentação, alterações do humor, enfim.

CS: E com que frequência vocês se deparam com casos desta natureza em consultório?
Flor Teixeira: Tem sido muito frequente! De sete a cada dez adolescentes.

CS: Existem efeitos físicos por tanta exposição à internet?
Luciana Uzêda: Dores pelo corpo, problemas de visão, insônia, obesidade…

CS: Vocês notam algum tipo de ausência no lar dessas crianças e adolescentes para quererem fugir da realidade dessa forma?
Luciana Uzêda: Sim, todo excesso esconde uma falta.

CS: Dá para reverter a situação, como?
Flor Teixeira:
Tornamo-nos quem somos porque sentimos, e só sentimos porque experimentamos. Precisamos da convivência social para nos desenvolver. A aprendizagem humana é, antes de tudo, relacional. Ocorre nas interações com outras pessoas. A nossa comunicação não é só fala, é também o ver, o ouvir e sentir.

CS: O que vocês pretendem com a campanha #DESCONECTA?
Luciana Uzêda: Proporcionar às crianças, aos jovens, que existe uma vida off-line, que o importante é se conectar com pessoas.