“O cego e a dançarina”, de João Gilberto Noll, é a dica de leitura para este fim de semana

Este primeiro livro de contos de João Gilberto Noll, publicado em 1980, revelando o autor gaúcho no circuito literário brasileiro. Nos contos de Noll predomina a sensação de atordoamento, asfixia e urgência, características da literatura sombria do autor.

O Cego e a Dançarina é aberto pelo conto “Alguma coisa urgentemente”, em que Noll, ainda durante a ditadura, percebe o surgimento de uma geração abandonada, a dos filhos dos guerrilheiros mortos pelo Estado. À euforia que tomaria conta da década, o escritor já aponta a fragilidade das instituições, que se espelham nos laços muito fracos que suas personagens instalam com o mundo externo. O Rio de Janeiro para ele não tinha nada de terra do amor. Sobram pessoas sozinhas, gerações fraturadas e afetos sufocados. Não é exagero dizer que “Alguma coisa urgentemente” é o melhor conto da literatura brasileira publicado desde 1980. O texto também inspirou um ótimo filme, Nunca Fomos Tão Felizes, de Murilo Salles.

Sobre o autor

João Gilberto Noll (1946, Porto Alegre) é dono de uma das escritas mais provocantes e inovadoras da literatura contemporânea brasileira. Escritor e jornalista, Noll ganhou o Prêmio Jabuti com cinco de suas obras, entre elas O cego e a dançarina (1981), Harmada (1994) e A céu aberto (1997).

A máquina do ser (2006), recebeu o Prêmio Bravo!Prime de melhor livro. Extremamente visuais, suas obras flertaram com o cinema em diversas ocasiões, caso do conto “Alguma coisa urgentemente”, que virou o filme Nunca fomos tão felizes, de Murilo Salles, vencedor do prêmio de melhor roteiro do Festival de Gramado em 1984. Acenos e afagos (2008) é seu último romance.

João morreu na madrugada do dia 29 de março de 2017, aos 71 anos.