Menino de 9 anos levou irmão nas costas para ambos sobreviverem em floresta

 

O garoto de nove anos que ficou perdido junto ao irmão de sete na floresta amazônica por 26 dias, disse que precisou carregar o caçula nas costas por parte do tempo em que estiveram na selva. A declaração da criança foi repassada por uma das enfermeiras que acompanhou os meninos no hospital. Segundo ela, o mais novo tinha dificuldades para andar por causa de feridas nos pés, provocadas pelo contato com o solo. Eles se encontram em tratamento especializado em Manaus (AM) e já ganharam 2 kg após serem resgatados por um cortador de lenha na última terça-feira (15).

“O mais velho protegia o mais novo. Então o colocava nas costas e andava um pouco até que o outro conseguisse se recuperar”, relatou a profissional de saúde Marcilene Mereth, da Casa de Apoio à Saúde Indígena.

Segundo a enfermeira, Glauco e Gleison disseram aos pais que não conseguiram encontrar comida e usavam folhas de árvores para tomar a água que caía das chuvas. Mereth informa ainda que, em média, uma criança poderia sobreviver apenas 40 dias sem alimentos, a depender da estrutura corporal, desde que tenha acesso a água.

“Chovia, conseguiam tomar um pouquinho de água e seguiam dessa forma. No hospital, a gente percebeu que o mais velho olhava para o pequeno e dizia ‘calma maninho, calma’, dando uma tranquilizada no irmão. Ali a gente já conseguiu ver que o mais velho é que apoiava o outro”, contou.

O sumiço das crianças ocorreu numa região de selva da Comunidade Indígena Palmeira, em Manicoré (AM), a 390 quilômetros de Manaus. Os garotos foram encontrados na terça-feira (15) por um homem que cortava madeira na mata.

Mereth destacou que a distância do local onde os garotos se perderam até a região na qual foram encontrados é de, em média, 35 quilômetros. “É bem longe, então eles andaram muito e não em linha reta, às vezes dando voltas no mesmo lugar”, ressaltou.

Recuperação com dieta

Os garotos foram achados em estado grave de desnutrição e desidratação, mas ganharam dois quilos cada um após serem resgatados, informou a médica Suzy Sertaty, que atendeu os pacientes durante a noite. Eles permanecem com lesões de mosquitos e formigas por todo o corpo.

Segundo a médica, os irmãos ainda não podem ingerir alimentos sólidos por causa do risco de falência de alguns órgãos e estão sendo mantidos com medicações, além de uma dieta específica.

“A dieta inicial é para, principalmente, a recuperação dos órgãos e melhora das condições de órgãos internos, rins, sangue, coração”, explicou Serfaty.

“Maior aflição já passou”

O tio dos garotos, Adamor Leite, contou que os pais estão mais tranquilos após o resgate, e que “a maior aflição já passou”. Ele disse que a família teve transtornos com a transferência dos sobrinhos para Manaus, na manhã de ontem (17).

A remoção foi realizada em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) aérea e acompanhada por um enfermeiro e um médico, informou a Secretaria de Estado da Saúde. Eles estão sendo atendidos no HPSC (Hospital e Pronto-socorro da Criança) da Zona Oeste de Manaus.

“Agora é mais tranquilidade, né? É o aparecimento dos filhos. Não tem uma coisa mais preciosa que vá tranquilizar eles [os pais], que estavam em desespero, como encontrar o que a gente estava em busca”, disse o tio dos garotos, Adamor Leite.

O deslocamento na aeronave foi realizado após o Ministério Público expedir um ofício recomendando que as crianças fossem transferidas para a capital, caso não fosse possível atendimento especializado – em até quatro horas – no Hospital Regional de Manicoré, onde estavam internadas.

Buscas chegaram a ser suspensas

O desaparecimento foi registrado no dia 18 de fevereiro. À época, o Corpo de Bombeiros informou que as crianças não retornaram para casa após saírem para caçar passarinhos. A guarnição encerrou as buscas no dia 25 de fevereiro, mas familiares e moradores continuaram a procurar os garotos.

No dia do resgate, uma multidão aplaudiu a chegada dos irmãos no porto de Manicoré. Eles estavam com os corpos e rostos cobertos, e saíram da embarcação em macas direto para a ambulância que os transportou até o hospital do município.

Fonte: Uol