Localização estratégica determinou Mudança da capital para Aracaju
Foi em 17 de março de 1855 que o então Povoado de Santo Antônio do Aracaju foi elevado à condição de capital da Província de Sergipe Del Rey. O nome, Aracaju, é derivado da língua Tupi e significa cajueiro dos papagaios. Hoje, ao completar 167 anos, Aracaju tem uma população estimada em 672.614 habitantes (segundo estimativas de 2021 do IBGE). Para conhecer um pouco mais da conjuntura política e social da época e das transformações até os dias atuais, o Portal AJN1 e o Correio de Sergipe entrevistaram o sociólogo Igor Salmeron, um apaixonado por história de Sergipe.
Correio de Sergipe -Em qual contexto se deu a mudança da capital da Província de Sergipe Del Rey de São Cristóvão para Aracaju, que na época desbancou não apenas São Cristóvão, mas Estância, Itaporanga, Laranjeiras e Maruim, que ambicionavam o posto?
Igor Salmeron- O contexto histórico dessa época era marcado pela grande produção de açúcar e o então presidente da Província era Inácio Joaquim Barbosa. Ele foi pressionado a fazer a transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju, porque Aracaju era o local mais adequado e mais próximo ao mar, então por motivações tanto logísticas, como econômicas, se deu essa mudança, para que pudesse escoar o açúcar de maneira mais viável e rentável. Então essa mudança se dá pelo caráter econômico e logístico, por meio dessa decisão política e pela pressão dos grandes proprietários de engenho da época, que perceberam que Aracaju, em detrimento das outras que você citou, era mais adequada pela proximidade com o mar. Aracaju é cortada pelos Rios Poxim e Sergipe, o que facilitava o escoamento da cana de açúcar.
CS – Foi uma mudança fácil, ou houve resistência?
IS – Sim, houve resistência.
IS – Como era Aracaju na época dessa mudança? Há relatos de que alguns a consideravam inóspita?
IS – Segundo relatos, Aracaju apresentava situações inóspitas, no sentido de ter muitos terrenos alagadiços, pântanos e, aos poucos, ao longo dos anos, isso foi se modificando.
CS – Como seu deu o desenvolvimento da nova capital?
IS – Aracaju foi crescendo, se modernizando. Sua arquitetura se modernizou bastante. São vários lugares que temos como símbolos históricos, muitos revitalizados. Outros que preservam a sua arquitetura original, fazendo lembrar fatos da época, como é o caso da vinda do imperador, com a Ponte do Imperador, e o Palácio Olímpio Campos.
IS – Aracaju foi uma das primeiras capitais brasileiras a ser planejada, como seu deu isso?
Foi um projeto. Aracaju é uma das pioneiras nesse sentido. Foi o engenheiro Sebastião Pirro que pensou Aracaju naquele formato de tabuleiros de xadrez. Podemos perceber isso no centro da cidade. Uma das primeiras cidades brasileiras a ser planejada.
CS – Aracaju realmente surgiu a partir do Bairro Santo Antônio?
IS – O bairro Santo Antônio é o marco zero. O bairro mais antigo da nossa Aracaju. É justamente lá que tem a colina de Santo Antônio. Percebemos da época a edificação da Igreja de Santo Antônio, uma das mais belas vistas de Aracaju.
CS – Historiadores relatam que nos primeiros anos, eram muitas as adversidades políticas e sociais da nova capital. Que adversidades eram essas?
IS – Muitas foram as políticas públicas que não acompanhavam o desenvolvimento da sociedade . Ao longo do tempo os políticos acabaram tendo que adaptar-se aos novos regimes de governo e as pressões da população. No começo realmente foi difícil. A população passou por uma série de adversidades, até no quesito mais básico de sobrevivência e só ao longo do tempo, com o desenvolvimento de políticas públicas é que a sociedade pode desfrutar dessa nova capital.
CS – Você pode citar as principais transformações no aspecto econômico?
IS – No começo a economia era focada na cana de açúcar, então o PIB sergipano se localizava nessa produção, nesse escoamento do açúcar, sendo inclusive a principal motivação da transferência. Depois disso Aracaju passou por transformações, com o início da exportação de outros tipos de matérias primas ligadas à agropecuária.
CS – E sobre o aspecto urbanístico, quais as principais transformações até a atualidade?
IS – Podemos destacar a questão da arquitetura, que é uma questão que conversa muito com a população. Se observarmos Aracaju, suas praças, suas ruas, elas sempre foram formuladas pensando na história da população, do seu próprio contexto. Se formos olhar para os espaços públicos, há uma série de episódios relacionados, a Praça Fausto Cardoso, onde se concentram os três poderes, a Ponte do Imperador e tudo isso conversa com essa perspectiva urbanística, justamente porque foi sofrendo alterações ao longo do tempo. Alguns mantiveram os espírito da época, mas aos poucos foram sendo reformuladas. Essas reformulações residem nisso, o aperfeiçoamento constante da questão de arquitetura como dos próprios costumes da população, que sempre foi um povo aguerrido, acolhedor, povo hospitaleiro, características essas que sempre existiram. Sempre combativa e que acolhe o diferente.
CS – Como Aracaju chega aos seus 167 anos?
IS – Aracaju é aquela menina moça que sobrevive as intempéries do tempo e que preserva o seu aspecto mais crucial que eu acho que é de se reinventar, mas sobretudo de preservar o seu espírito hospitaleiro, que eu acho que é o que nos evidencia enquanto sergipanos e enquanto pessoas que valorizam a sergipanidade, que é o nosso modo de ser e nosso modo de agir que são uma referência nacional. Sergipe é um estado afortunado e Aracaju, nossa capital, é essa menina moça, que sempre está se reinventando e se aperfeiçoando, tanto seus modos, quanto seus costumes, mas sobretudo preservando esse aspecto de sermos uma população acolhedora, onde quem vem que ficar e realmente indica a outras pessoas para conhecerem. Somos conhecidos como a capital da qualidade de vida, pessoas que têm o costume de praticar atividade física, justamente pela nossa condição privilegiada de desfrutar dessa natureza tão bela e exemplar. Nesses 167 anos, temos muito o que repensar no aspecto de melhoras, mas acredito que temos muito mais o que comemorar. Sergipe é um estado referência e sua capital Aracaju, nesses 167 anos, continua fazendo bonito, tanto no aspecto histórico como social.