Kickboxer assume compromisso de levar sergipanos às Olimpíadas

Por Wilma Anjos
Atual campeão brasileiro de Kickboxing profissional, na categoria 81 quilos, da modalidade Full-contact, Williames Silva Santos, ou simplemente Williames Chacal, como é mais conhecido, reafirmou seu nome como o maior representante de Sergipe no esporte. A competição aconteceu no final do ano passado, em Caruaru (PE). Além do título, Chacal também foi promovido à categoria de 5º Dan, o que o credencia a ser um Mestre da modalidade. Mas ele ambiciona metas ainda mais altas – levar os atletas sergipanos para as Olimpíadas, agora que o Comitê Olímpico Internacional (COI) elevou o Kickboxing a esporte Olímpico. Como presidente da Federação Sergipana de Kickboxing, ele está numa posição privilegiada na hora de identificar os potenciais atletas do estado. Inclusive, adiantou que Sergipe já vai sair na frente dos outros estados do Nordeste com uma atleta de apenas 14 anos, que já foi convocada para participar do primeiro treino da seleção brasileira Sub-17. Confira um pouco sobre da sua rotina de treinos, o modus-operande do esporte e as curiosidades da modalidade que têm tudo para destacar os sergipanos no cenário mundial:
Correio de Sergipe: Em novembro passado você trouxe de Caruaru (PE) o título de campeão brasileiro de Kickboxing – Full-contact Profissional. O que representa?
Williames Chacal: Primeiro, significa compromisso comigo mesmo, que, apesar dos 44 anos [de idade], mostro os benefícios da prática esportiva. E também sonho realizado, uma vez que não fui para os mundiais como atleta, então, quem sabe não possa ir como auxiliar técnico da seleção? Mas tenho mais dois títulos a conquistar: o de Low Kick, e K1 style profissioanl, já que campeão nas três modalidades foir no circuito amador. Posso ainda disputar os títulos profissionais agora em 2022, já que é o ano em que completo a idade limite do profissional, que é até 45 anos.
CS: Neste mesmo evento você foi promovido à categoria de quinto Dan. Pode nos esclarecer a dimensão desta façanha?
WC: Para as Artes Marciais este termo é uma designação a praticantes muito experientes e com longo tempo de estudo de sua arte. Os praticantes, depois de atingirem o estágio de faixa preta, reiniciam um outro caminho de aprendizagem e essa graduação é geralmente denominada Dan, do primeiro ao nono ou décimo.
O quinto Dan para mim é mais que um grau, é a realização e compromisso de anos de contribuição para o desenvolvimento marcial na sociedade, além do meu crescimento pessoal e profissional. Ele consuma mais responsabilidade e compromisso com o a modalidade em todos seus aspectos.
Um Mestre é alguém simples, humilde, que reconhece que não sabe tudo sobre viver e lutar, pois a vida é um constante aprendizado que nunca termina. Um Mestre não almeja a fama e o sucesso, mas não foge deles, buscando-os com perseverança e equilíbrio.
Infelizmente muitas pessoas colocam na cintura uma faixa preta, o que não lhe configura ser chamado de Mestre, e se dizem Mestre. Isso acaba denegrindo a imagem das Artes Marciais. Seja ela qual for.
CS: Teve curso de arbitragem em Caruaru, para quem era direcionado?
WC: O curso de arbitragem se faz necessário para praticantes e não praticantes de Artes Marciais, mas que se identifiquem com a modalidade, pois capacita a pessoa não só a atuar como árbitro de kickboxing, mas a entender como a modalidade funciona de modo geral.
CS: Vi que teve o exame de graduação de faixa preta lá.
WC: Então, o exame voltado para a formação de novos faixas pretas, onde se inicia um novo ciclo de aprendizagem, é semelhante ao sistema escolar. Por exemplo: faixa colorida, de branca a marrom, seria o equivalente ao ensino fundamental e médio. A faixa preta seria como uma pós graduação e o Mestre seria equivalente a um doutorado.
CS: Na sua opinião, por que Sergipe é considerado referência em Kickboxing?
WC: Por toda contribuição direta e indireta dos praticantes atuais. Ele teve seu auge na década de 1990, mas depois ficou adormecido.
De 2010 em diante o kickboxing vem crescendo através de frutos de geração da década 1990, e o principal feito foi a vinda do Mestre Paulo Zorello a Aracaju, em 2010, na Feira de Arte Marciais, organizada pela Secretaria de Esporte de Aracaju, que tinha como secretário em 2011 o hoje Deputado Federal, Fábio Mitidieri, e no seu corpo administrativo, Antônio Hora e Mariana Dantas, que até hoje contribuem para o crescimento da modalidade e do esporte de modo geral em Sergipe. A partir disso, o Kickboxing sergipano despontou no cenário estadual, nacional e internacional até hoje.
CS: E você, como conheceu o Kickboxing?
WC: Comecei aos 12 anos a prática marcial, inspirado no ator Bruce Lee. Daí pratiquei a Arte Marcial Chinesa kung Fu, quando conheci meu primeiro professor, o Osmar Teto, de Aracaju. Depois fui para o Kickboxing, onde conheci meu segundo professor, o Genildo Martins, também de Sergipe.
No meu currículo hoje sou faixa Preta de Kyukushsin Karatê e o meu mentor é Shihan Carllos Costa, de Maceió. Tenho mais de 30 anos de Artes Marciais. Sou presidente da Federação Sergipana de Kickboxing, única entidade em Sergipe filada à CBKB/WAKO [Confederação Brasileira de KickBoxing] ; sou mestre de Kickboxing 5º DAN CBBK/WAKO; faixa preta de Kyukushin Karatê; instrutor de Kung Fu e estudante de Educação Física. Apreendi muito conhecimento marcial através de seminários, cursos e Works Shops de capacitação de Kickboxing, Kung Fu, Muay Thai, boxe e Kyukushin Karatê. E durante quase dez anos atuei com o extinto projeto ‘Escola Aberta’, do Governo Federal; participei de várias competições de Artes Márcias, Free Stlaye (MMA) kung Fu, Muay Thai boxe e Kickboxing, sagrando-me campeão em quase todos.
CS: Quais são seus principais títulos?
WC: Campeão Sergipano há dez anos invicto; Hexacampeão Campeão Brasileiro de kickboxing CBKB/WAKO; Hexacampeão Campeão Copa Brasil CBKB/WAKO; Campeão sul-americano CBKB/WAKO; Campeão Panamericano CBKB/WAKO; Quatro vezes classificado para Campeonatos Mundial CBKB/WAKO (por falta de Patrocínio não consegui participar); Atleta do WGP Kickboxing maior evento da América Latina Pro. De 2013 a 2016.
O estado de Sergipe, através do trabalho que venho desenvolvendo com os filiados, é o primeiro do Nordeste a ter atletas no WGP kickboxing [principal circuito profissional de kickboxing da América Latina], títulos internacionais WAKO [sigla em inglês para Associação Mundial de Organizações de Kickboxing] e somos a segunda e terceira melhor equipe do país de kickboxing, na modalidade LOW KICK de 2016 a 2018.
CS: Ou seja, o pódio já virou lugar comum para você.
WC: Sim e não. Apredemos muito com as vitórias, mas, principalmente, com as derrotas. Elas deixam a gente com os pés no chão e nos ensinam humildade e a buscar sempre por evoluir e que não somos imbatíveis.
CS: Me fale um pouco da sua rotina de treinos.
WC: Treino todos os dias. Em época de competição que intensificamos os treinos, dividido-os por etapas dentro do planejamento anual de competições. No treino normal são quatro horas por dia fracionadas por turnos, de segunda a sábado. Nos períodos de competição variam de seis a oito horas por dia. Estes também são treinos fracionados durante o dia, de segunda a sábado.
CS: Recentemente você esteve no Paraná para o Sul-Americano. Conte-nos como foi sua experiência por lá.
WC: Após a conquista do título Brasileiro Profissional de Kickboixng (Full Contact) em Caruaru, fui convocado diretamente pelo Mestre Paulo Zorello, na oportunidade [para o Sul-Americano]. O meu terceiro Sul- Americano vem confirmar que Sergipe está num caminho certo e promissor do esporte e da modalidade, agora que se tornou Olímpico. Até a participação do Kickboxing nos Jogos Olímpicos teremos muito que trabalhar e ajustar para que Sergipe alcane esse feito. Já iniciamos esse trabalho agora em 2022, nas categorias de base Sub 17 de Kickboxing do nosso estado.
Para mim, cada evento é uma experiência diferente e de muito aprendizado, e também uma grande oportunidade de acompanhar a evolução do esporte, já que não podemos ficar para trás. Já estamos há uma década trabalhando duro para chegar onde chegamos.
CS: Já que mencionou, o Kickboxing foi promovido a esporte Olímpico, pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Como incentivar a prática?
WC: Apresentar a modalidade em todos os seus aspectos, esclarecer que ela pode ser praticada para manter a saúde, formação marcial de atletas amadores, profissionais e de alto rendimento.
A própria Confederação vai começar a trabalhar o futuro olímpico a partir deste ano, na formação do time olímpico com as categorias Sub-17. Inclusive, Sergipe já vai sair na frente dos outros estados do Nordeste. A atleta Ariane Oliveira, de 14 anos, já foi convocada para participar desse primeiro treino da seleção brasileira Sub-17, que tem como objetivo selecionar os melhores atletas para o futuro olímpico.
CS: Quais os principais nomes do Kickboxing hoje em dia?
WC: Mestre Paulo Zorello, que começou a praticar a modalidade como atleta e hoje é uma das maiores autoridades do Kickboxing do mundo. Meu principal mentor.
CS: Quem sagrou-se campeão sul-americano foi o atleta sergipano Michael Pereira, o ‘Tigrão’. Você o conhece?
WC: Sim. É um atleta com foco, disciplina e humildade, que buscar seu lugar ao Sol, como muitos. Merecedor dessa e futuras conquistas. Está na família Chacal Fight desde 2017 e de lá para cá, com muita paciência e persistência, vem galgando sua trajetória no Kickboxing. Seu currículo é extenso: faixa preta Kickboxing WAkO; faixa preta Taekwondo; campeão invicto no PFK Kickboxing; campeão sergipano desde 2017; bicampeão brasileiro 2018/2021; campeão sul-americano 2021; e muitas experiências em outras Artes Marciais. Faz jus a todo potencial do atleta e do trabalho da equipe Chacal Fight.
CS: Aproveitando esse momento de gratidão, gostaria de dedicar sua carreira a alguém?
WC: Primeiramente a Deus, pela saúde e pela vida diante dessa pandemia, porque infelizmente perdi meu pai para a Covid-19. A todos que acompanham meu trabalho, minha luta para a fomentação da modalidade no estado, aos alunos, clientes e amigos por acreditarem no meu potencial. A todos os meios de comunicação que têm nos ajudado a propagar a modalidade o melhor possível. E em especial a Fábio Mitidieri, Antônio Hora e Mariana Dantas, que contribuíram e contribuem para o crescimento da modalidade no esporte. Ao Mestre Paulo Zorello, por acreditar no meu compromisso com a modalidade e a Ana Maria, minha esposa, que está comigo em todos os momentos bons e ruins dentro e fora do esporte.