Habitacional completa 50 anos se mantendo fiel aos seus princípios

O jornal Correio de Sergipe destaca nesta edição a entrevista especial feita com o empresário João Alves Neto, diretor-presidente da Habitacional, por ocasião dos 50 anos da construtora, completados em julho último. O jornal produziu um especial que está disponível no portal de notícias www.ajn1.com.br. No comando desde 1999, João Neto destaca os inúmeros desafios enfrentados e os ingredientes que fizeram desta, uma história de sucesso. Nascida pelas mãos dos então empresários João Alves Filho e sua esposa Maria do Carmo do Nascimento Alves, a Habitacional cresceu, cruzou fronteiras e deu incontáveis frutos. Faz parte da história de inúmeras famílias que habitam em “lares” por ela construídos, e de tantas outras pessoas que trabalham em prédios por ela erguidos. Abaixo você confere a entrevista com este ainda jovem administrador, aos 47 anos. Confira:
Correio de Sergipe –Em 1994 você se formou na Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) em administração de empresas com ênfase em finanças e marketing, e em 1996 assumiu o posto de diretor administrativo financeiro da Habitacional. Como foi assumir essa responsabilidade e chegar à presidência apenas três anos depois?
João Neto – No início de 1996 houve uma crise econômica muito forte, que também atingiu a nossa empresa. Sentimos o baque. O diretor financeiro da época pediu demissão, e outros diretores sugeriram a meu pai que eu assumisse a diretoria financeira da empresa. Na ocasião eu tive que deixar um emprego em São Paulo, no banco BBA-Creditanstalt, que depois foi comprado pelo ITAÚ e virou ITÁU-BBA. Já em 1998, após meu pai perder as eleições, ele acabou decidindo que realmente não queria mais ser empresário e político. Decidiu que queria ser só político. Foi então que eu assumi a presidência.
Confesso que eu não tinha planejado isso. A verdade é que sempre quis que meu pai abandonasse a política e fosse ser só empresário, mas com a decisão dele tive que assumir, até porque minha mãe (Maria do Carmo do Nascimento Alves) também não podia (pois tinha acabado de se eleger senadora em 1998, onde está até hoje) e nenhuma das minhas duas irmãs também tinha interesse. Continuei estudando, me preparando, e em 2003 fiz MBA em Gestão Empresarial, na Fundação Dom Cabral, considerada até hoje a melhor do país.
Correio de Sergipe – Seu avô, o Construtor João Alves, assim como seu pai, Dr. João, foram seus grandes incentivadores?
João Neto – Sem dúvida. Meu pai era com quem eu mais conversava, meu confidente, quem me aconselhava e a quem eu pedia ajuda quando precisava. Mas a cabeça dele, quando comecei a trabalhar aqui, já era mais política do que de empresário. Ainda assim, os ensinamentos dele foram importantíssimos para mim.
Já meu avô, como era só construtor, não tinha isso de política e a conversa com ele era mais direta. Pena que eu acompanhei pouco meu avô, pois quando cheguei aqui em 1995 de volta de São Paulo, apenas três anos depois, em 1998, ele morreu.
Mas as ideias do meu avô, ainda hoje adotamos aqui. Por exemplo, a Construtora Alves, de meu avô, financiava os clientes em até 10 anos, isso em 1960 quando ninguém fazia esse tipo de financiamento. Até hoje a Habitacional faz isso, financia seus clientes diretamente. Tem vantagem nisso sim, porque quando financiamos o cliente diretamente, temos uma carteira de títulos a receber que nos dá uma estabilidade em momentos de crise.
Outra coisa que meu avô fazia e que fazemos cada vez mais, é trabalhar com financiamento próprio. Faço as minhas obras financiando o mínimo possível. Lógico que construímos menos, lançamos muito menos empreendimentos, mas, pelo menos, quando acaba a obra, não há dívida. Meu avô fazia isso, então acho que a alma de meu avô continua aqui na Habitacional, pois estamos fazendo mais ou menos o que ele fazia. Foi o legado que ele deixou.
Não posso de forma nenhuma também esquecer dos ensinamentos de minha mãe, Maria do Carmo do Nascimento Alves. Mulher com uma força gigante. O exemplo dela, de nunca desanimar, nunca se abater com os desafios e problemas, me inspirou e continua me inspirando.
Correio de Sergipe – O modelo de gestão mudou ao longo dos anos, o que você consegue enxergar como grande aprendizado?
João Neto – Mudou e continua mudando. Só que uma empresa como a Habitacional, que tem 50 anos, tem que aprender que embora venham as mudanças, não devemos deixar de lado o conhecimento dos mais velhos, a experiência deles. Então, aqui quase todo problema que acontece no Brasil, em Sergipe ou na própria empresa, temos alguém preparado que já sabe lidar com a situação porque já passou por alguma coisa parecida no passado.
A gente consegue juntar a modernidade contratando gente nova, com as experiências antigas. Eu acho que essa mistura é que é boa. E aqui até os mais jovens já tem 20 anos ou mais de empresa. Eu mesmo tenho 25 anos que estou na Habitacional. Já o Max, que é diretor técnico, tem 26 anos que está aqui. Ou seja, até os mais jovens têm muito tempo de experiência na empresa, pois já passaram por muitos problemas, até porque os últimos 25 anos no Brasil foram anos muito difíceis, de muitas crises.
Correio de Sergipe – Qual é o público alvo e o perfil dos empreendimentos oferecidos pela Construtora Habitacional?
João Neto – Temos três ramos de negócios. O primeiro deles é fazer empreendimentos próprios e vendê-los. Atualmente temos dois. Esses empreendimentos podem ser de prédios, de casas ou até mesmo loteamentos. Mas o que mais temos feito ultimamente são condomínios fechados de casas. No entanto, não somos presos a isso, depende do momento.
No segundo ramo nós fazemos obras para empresas privadas. A gente não faz obra pública porque esse foi um pedido do meu pai na época em que ele ainda estava ativo. E eu também nunca quis fazer obra pública com meus pais envolvidos na política. Pois qualquer licitação que eu ganhasse para fazer a construção, iam dizer que era porque sou filho de João Alves e Maria.
O terceiro segmento é o de aluguel de equipamentos, porque para termos competitividade é preciso estarmos atentos às novas tecnologias e as novas tecnologias são quase sempre novos equipamentos. Então, a gente tem que ter um setor de maquinário. Aí, como já tínhamos muitas máquinas, preferi transformar isso em uma unidade de negócios, que trabalha para nossas obras e também para outras empresas. Então, são esses os três segmentos da Habitacional. Digo que 60% do nosso faturamento é de obras para empresas privadas, 35% são das obras da incorporação imobiliária e 5% de aluguel de equipamentos.
Correio de Sergipe – Qual o maior obstáculo em administrar esse legado?
João Neto – Eu acho que nesse tempo os meus maiores obstáculos foram os problemas trazidos pela política para a empresa. Não porque a gente se metesse com política, mas simplesmente porque meu pai era muito visado e queriam atingi-lo, atingindo as empresas dele. Um exemplo disso foi o que passamos com o Banestado durante a campanha de 1998 e em 2000.
Foi o maior problema que a gente teve. Depois disso meu pai foi inocentado e a empresa foi inocentada anos depois. Só que na época essa situação quase quebrou.
Foi um monte de clientes distratando, entrando na justiça, parando de comprar os imóveis, parando de pagar o que tinha comprado, parando de contratar a gente para as obras de empreitada. Foram dois anos de caos e a gente sobreviveu. E foi nessa época que tivemos que vender quatro rádios: de Aracaju, de Estância, de Propriá e de Tobias Barreto. Vendemos para poder atravessar esses anos de pancadaria.
Correio de Sergipe – Em tempos de vacas gordas, quantos empregos diretos a Habitacional chegou a gerar?
João Neto – De 1995 para cá, a época em que tivemos mais funcionários foi em 2007 e 2013, quando chegamos a ter dois mil funcionários. Hoje temos 250.
Correio de Sergipe – Seus pais são reconhecidos gestor dos setores privado e público. Quais ensinamentos deles foram determinantes na sua vida profissional?
João Neto – Foram dois: primeiro o respeito à palavra dada e ao compromisso assumido. Meus pais sempre me ensinaram isso: “se você fechou um acordo não volte atrás. Mesmo que apareçam dez melhores negócios que aquele que você já acordou, mantenha. E mesmo que dê muito trabalho, cumpra com o que você acertou”. Um exemplo foi quando aconteceu a crise do Banestado, quando a gente estava com cerca de 19 obras em andamento e aproximadamente dois mil Imóveis em construção que a gente tinha para entregar. E com aquela crise a gente pensou como iria conseguir entregar sem vender os imóveis, sem fazer financiamento de banco. E meu pai disse, “meu filho vamos entregar, vamos vender tudo o que tivermos se necessário for, mas vamos entregar tudo”, e assim foi feito.
Outra coisa que meus pais me ensinaram é que a gente tem que ser amigo dos amigos e que amigo vale muito mais do que dinheiro. Temos que respeitar as pessoas nos relacionamentos comerciais e pessoais, elas estejam por cima ou por baixo, não interessa, tem que ser amigo dos amigos. E o mundo dá voltas, muitas vezes estamos por baixo e é atrás dos amigos que a gente vai quando precisa de ajuda.
Correio de Sergipe – O Brasil vive uma eterna crise, e este momento, em especial, é único. Como você lida com a pressão?
João Neto – Todo dia de manhã faço minhas orações e repito duas que são de São Paulo. A primeira é “não fiqueis ansiosos por coisa alguma, mas em tudo fazei chegar ao pai as vossas petições, em orações e ações de graça”. Então não ficar ansioso, dizer ao Pai o que você precisa e trabalhar, acreditando que as coisas vão dar certo, funciona. E a outra oração, que considero até mais importante e que também é de São Paulo é: “Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus”. O que isso quer dizer? Que mesmo quando acontecerem coisas que você acha que são ruins, tenha a certeza de que aquilo é para o seu bem. Que em algum momento aquilo vai ser bom para você. Se você perder um negócio, uma venda ou qualquer coisa, não fique triste nem com raiva. Vai trabalhar que vai vir coisa melhor. Isso serve para deixar a pessoa calma, sempre. É assim que administro os meus problemas e os da empresa e não foi nada que aprendi na faculdade. Aprendi com meus pais, em casa, e na minha formação religiosa.
Correio de Sergipe – A crise é uma realidade. Você consegue avaliar o nível de possibilidades e expectativa no mercado sergipano?
João Neto – As perspectivas são boas para os próximos anos para a construção civil, por causa dos juros baixos, tanto que no Brasil inteiro as vendas de imóveis estão melhorando, mesmo durante a pandemia. E isso está acontecendo porque o povo está com dinheiro no banco e não está rendendo nada. Então as pessoas querem investir em imóveis, em ações, em novos empreendimentos. Mas o momento atual é apenas de lutar para sobreviver à crise econômica causada pelo coronavírus, o que não tem sido fácil para ninguém.
Correio de Sergipe – No Brasil as dificuldades que uma empresa enfrenta para sobreviver são inúmeras. Muitas não chegam ao primeiro ano de vida, quem dirá 50 anos. Qual o segredo da longevidade da Habitacional, na sua visão?
João Neto – Três coisas: a primeira de todas é que era vontade de Deus que chegássemos aqui, digo isso porque sentimos tantas vezes a mão forte DELE nos levantando, tantas que não dá para contar. Então ELE tinha e acho que tem um plano para nós.
Em segundo lugar, temos uma equipe veterana, acostumada a lidar com dificuldades, com muita competência técnica e que veste a camisa da empresa.
Em terceiro lugar, temos o compromisso dos donos, primeiro meu pai, minha mãe e depois o meu com a qualidade da construção em si e com a segurança no trabalho. Tem a cultura de qualidade de fazer bem feito, e a cultura de fazer com segurança, porque eu estou aqui há 25 anos e nesse tempo não houve uma morte em canteiro de obras.
Correio de Sergipe – Algo mais que você queira destacar?
João Neto – Preciso reconhecer a importância de todos os nossos colaboradores, os atuais e todos que já passaram pela empresa. Destaco o nosso Diretor-Financeiro, o economista Alberto Dantas, e os Diretores Técnico Marx e Comercial Flávio. Nossos gerentes e engenheiros, advogados e funcionários, porque sem eles nada seria possível. Aos nossos clientes e fornecedores e à sociedade sergipana de forma geral.
Frase
“Meus pais sempre me ensinaram isso: “se você fechou um acordo não volte atrás. Mesmo que apareçam dez melhores negócios que aquele que você já acordou, mantenha”