“Final de semana é fundamental para a sobrevivência do setor”

Em Sergipe, estima-se que cerca de 40% do total de bares e restaurantes devem fechar as portas em consequência das restrições de funcionamento que ocorrem desde o ano passado por conta das medidas de distanciamento social para conter a contaminação pelo novo coronavírus. A previsão é da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Sergipe (Abrasel/SE). O setor está impedido de funcionar pelo terceiro final de semana e mesmo durante a semana, vem sendo proibido de receber o público à noite. Nessa semana o governador Belivaldo Chagas anunciou uma linha de crédito para socorrer o setor. Em entrevista ao CS, o presidente da Abrasel em Sergipe, Bruno Dória, fala sobre as perdas do setor e sobre o que os empresários tem feito para sobreviver.  Ele diz que o faturamento do segmento aos finais de semana corresponde a 70% do total, o que torna a situação dos empresários do setor ainda mais complicada diante do fechamento imposto aos sábados e domingos.

 

Correio de Sergipe – Desde o dia 06/03 Sergipe não abre mais bares e restaurantes em seus horários normais nos finais de semana. Já existe um balanço do impacto econômico dessa medida para o setor?

Bruno Dória – O final de semana é fundamental para o nosso setor. Acumulamos agora com o novo decreto, o terceiro final de semana seguido sem funcionar, e com certeza isso será fatal. O final de semana corresponde a 70% do nosso faturamento e nossa estimativa é que 40% dos restaurantes não abram mais as portas.

CS – A linha de crédito de R$ 50 milhões anunciada esta semana pelo governador Belivaldo Chagas para setores afetados pelas restrições atende às necessidades de vocês? Estão satisfeitos ou esperavam mais?

BD – Acenar com um empréstimo do Banese é um ato, mas não resolve. Seguimos buscando alternativas para diminuir o impacto da crise que o setor de alimentação fora do lar enfrenta há um ano. Essa é a nossa luta.

CS – A Abrasel chegou a procurar o governo para pedir algum tipo de ajuda? planeja se encontrar com os governantes para buscar um equilíbrio nesse novo contexto. Qual a pauta de discussão?

BD – Sim, entramos com pedido de protocolo junto ao Governo do Estado e da Prefeitura, no qual pedimos isenção de alguns impostos e benefícios. também pedimos redução do IPTU, de taxas da prefeitura. Precisamos de uma série de benefícios. Isso, na verdade, chamamos de reparo. Tendo em vista que nosso setor está fechado por conta da pandemia, que na verdade é um problema mundial.

CS – Pode nos fazer um comparativo do movimento nos bares e restaurantes antes e durante a pandemia ?

BD – É um comparativo muito difícil de fazer, já que estamos há mais de um ano em pandemia. Porém, a gente vinha em recuperação de economia, era um setor que vinha crescendo. Com a pandemia tivemos que moldar nosso negócio, direcionar para o Delivery, enfim, se reinventar. Mas a maior dificuldade foi o aumento da matéria prima e dos insumos. Todos sabem que aumentaram muito durante a pandemia e isso deixou o nosso lucro praticamente a zero e inviável a manutenção de preços do jeito que estava.

CS – Quem mais perde com essa restrição?

BD – Eu acredito que todos estão perdendo com essa restrição. Não só economicamente, mas também a saúde está fragilizada. Mas o mais importante é chamar a responsabilidade para cada cidadão. As pessoas têm que entender que nós precisamos nos cuidar. Usar máscara, manter o distanciamento, usar álcool em gel, enfim, todo o protocolo, onde quer que esteja, e evitar lugares com muita aglomeração. A gente precisa aprender a conviver com esse vírus que ainda está aí e não sabemos, tendo em vista que um ano já se passou, quanto mais tempo ele vai durar.

CS – Sergipe tem cerca de quantos bares e restaurantes? Quantos já fecharam por conta da pandemia ?

BD – Em torno de 5.200 CNPJs com o final de bares e restaurantes, alimentação fora do lar e lanchonetes. Como eu disse anteriormente, é previsto que 40% do setor, pelo menos de CNPJ, fechem as portas de vez.

CS – Você acha a restrição eficiente para conter a disseminação do coronavírus ?

BD – O mundo adotou essas restrições como a saída para evitar aglomerações. Pode ser sim a melhor maneira de encarar o vírus, porém, é necessário que se faça com uma maneira mais energética. Que se faça um toque de recolher durante 15 dias proibindo tudo. Praias, o acesso aos coletivos. Só com uma restrição de vez em toda sociedade para ter impacto no vírus. Na verdade ninguém sabe a maneira certa de lidar com ele, mas é muito difícil para nosso setor ser o único que para diante dessa realidade que temos hoje. A culpa não é nossa! Entendemos que o problema é da sociedade, porém, tem um setor que está impedido de trabalhar. E esse merece reparos diante disso.

CS – Existe algo positivo nessa forma que o governo escolheu nessa forma de enfrentamento da Covid-19 ?

BD – Sim, acredito que exista algo positivo. As pessoas precisam criar uma consciência que na verdade deveria ser complementada com um pouco de educação. Ensinar as pessoas que o vírus está em todos os lugares, independente de shoppings, bares e restaurantes. As pessoas deveriam também evitar de estar em [ônibus] coletivo, de estar na praia, nas igrejas, nas praças. O importante é a população saber que quando voltarmos das restrições, o vírus permanecerá. E é importante que as pessoas se cuidem e cada um use seus protocolos e evite os lugares aglomerados.

CS – O que você acha que faltou para a situação chegar a esse ponto de estabelecer horários de abertura de bares e restaurantes ?

BD – O que faltou exatamente nós não sabemos. Mas o que sabemos é que a gente não consegue viver. Nossas empresas não conseguem permanecer abertas sem o final de semana. Isso é fato! A gente acredita que deve existir restrições e se for, que seja um toque de recolher, que pare de vez a todos e não só um setor.

CS – Pela Resolução, são permitidos delivery (serviços de entrega ) e drive thru (retirada no local). Como vocês receberam essa notícia ?

BD – Nós de bares e restaurantes tivemos que evoluir para o delivery e drive thru, diante desse cenário que estávamos passando aí na pandemia. Foi um setor que cresceu muito, um braço do nosso setor. Evoluímos muito nesse sentido. Apareceu atendimento digitalizado, os marketings places, fortaleceu muito o setor de delivery.  Tivemos que nos adaptar a essa realidade. Infelizmente ou felizmente, acreditamos que é um caminho sem volta. As pessoas cada vez mais estão em suas casas, em home office, e é fundamental que esse serviço evolua para o bem de todos.

CS – Você teme uma demissão em massa caso o segmento não se sustente mais, com essas restrições impostas?

BD – As demissões já estão existindo e continuarão. Não só demissões, como o fechamento de muitas casas. É triste essa notícia, mas infelizmente é a nossa realidade.

CS –  Para encerrar, o que você pensa sobre a ideia de que o agravamento de casos da Covid-19 possa estar relacionado a aglomerações em bares e restaurantes ?

BD – Para nós não existe esse comparativo, porque nós somos ambientes acostumados a lidar com protocolos da Vigilância Sanitária. Nós lidamos com segurança alimentar sempre, todo o dia. Simplesmente nos adequamos a essa nova realidade dos protocolos para a Covid-19. Por isso foi muito comum todos virem os restaurantes adequados com espaçamento, com álcool em gel, com os equipamentos necessários. A respeito dos locais que existe aglomerações, se tiver alguém errado, a fiscalização, e somos a favor da fiscalização, está aí para isso. Que sejam punidos e sejam multados, mas não se pode generalizar o ramo. Tem muita gente muito preocupada, inclusive nós, como pessoas, como seres humanos, estamos morrendo de medo também do vírus. O que nós pedimos é que a população evite lugares que não se preocupem com a segurança, com a saúde coletiva.