Estudo aponta aumento no percentual de água destinada à irrigação na Caatinga

Nesta publicação experimental, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traz os resultados da condição dos ecossistemas do reino aquático do território brasileiro, inserida no escopo metodológico dos indicadores que caracterizam o estado químico, físico e biótico dos corpos hídricos, através dos recortes ecológicos dos biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampa, retratando a sua dinâmica ambiental entre os anos 2010 a 2017.
A atualidade desta publicação está em consonância com o mais recente manual da Divisão de Estatística das Nações Unidas. Nele são apresentadas as premissas metodológicas aplicadas neste estudo para a realidade brasileira, com o objetivo de informar à sociedade acerca da qualidade dos hídricos e suas características.
Estas estatísticas são classificadas como experimentais e devem ser usadas com cautela. Estatísticas experimentais são novas estatísticas que ainda estão em fase de teste e sob avaliação, pois podem não representar o que realmente ocorreu com os recursos hídricos de determinado local. O objetivo desta publicação é envolver os usuários no desenvolvimento dessa estatística e garantir a qualidade e compreensão dos seus resultados ainda no seu estágio inicial.
A captação na Mata Atlântica foi a principal responsável pela retirada direta de água no Brasil, seguida do Cerrado, Pampa, Caatinga e Amazônia. No entanto, a proporção de retirada por bioma mudou ligeiramente. Entre 2010 e 2017, houve crescimento na proporção da retirada no Cerrado e na Caatinga e redução na proporção da Mata Atlântica e Amazônia.
Um destaque em relação ao bioma da Caatinga, que é conhecido por apresentar alguns episódios de restrição hídrica e de abastecimento da região semiárida, é que em 2010, 73% da captação de água era destinada à irrigação, um percentual que subiu para 75% em 2017. Este aumento pode estar associado aos déficits na agricultura de sequeiro que é existente neste bioma, diante das suas características climáticas.
De acordo com o IBGE, a população do Brasil em 2017 era de 206.735.662 de pessoas. Combinando a população dos municípios com o bioma, verifica-se que o bioma Mata Atlântica concentrou mais da metade da população nacional em 2017 (58%), seguido do Cerrado (15%) e Caatinga (13%).
Pontos de monitoramento dos corpos hídricos da caatinga
Existem pontos de monitoramento dos corpos hídricos lóticos, que são locais onde há o escoamento rápido de água, como é o caso de rios e riachos, assim como os corpos hídricos lênticos, que são os lagos, represas e poços, locais com circulação lenta da água. Na caatinga, os principais resultados obtidos para os corpos hídricos lóticos indicam uma queda do número dos pontos de monitoramento que apresentaram bons níveis de demanda bioquímica de oxigênio (DBO) com -15 p.p e Fósforo total (PT), com -12 p.p.
Este número indica que a situação apresentou uma piora nestes dois pontos, pois a redução no número de pontos com bons níveis indica que houve aumento nos índices de DBO e PT na caatinga, o que pode causar uma degradação do ambiente aquático.
Por outro lado, houve uma importante melhora dos que apresentaram bons níveis de E.coli (micro-organismo Eschirichia coli), que está associado a dejetos orgânicos (85 p.p) e de Oxigênio dissolvido (OD, com 26 P.P). Nos corpos hídricos lênticos (lagos, poços) houve uma importante queda de demanda bioquímica de oxigênio (DBO) com -52 p.p e importante melhora em relação aos níveis de E.coli (97 p.p).
Espécies aquáticas ameaçadas de extinção
Em relação às espécies aquáticas que estão ameaçadas de extinção no Brasil, por Bioma, essa divisão ocorre levando em consideração a fauna e flora, em 2014. No grupo de vertebrados foi possível analisar a referida proporção. De acordo com essa proporção, a maior parcela de espécies ameaçadas de vertebrados se deu no bioma Mata Atlântica (11,30%), seguido do Cerrado (9,14%), Pampa (7,76%) e Caatinga (7,38%).
Considerações finais
O bioma da Caatinga possui grau de interferência antrópica caracterizado pela diminuição contínua de suas coberturas naturais dando lugar, sobretudo, ao crescimento das áreas de mosaicos,ou seja, de áreas onde ocorre atividades concomitantes agrícolas e de pastagens com manejo. Isto pode estar relacionado aos resultados obtidos neste estudo, que mostram uma grande participação da agricultura irrigada na captação direta de água azul no bioma e redução da quantidade de pontos de monitoramento que apresentaram bons níveis de fósforo total entre 2010 e 2017.
Estas evidências chamam a atenção porque a caatinga se refere a uma área frequentemente afetada por secas, onde ocorrem episódios recorrentes de restrição hídrica e de abastecimento humano. Isto é, a maior parte das microbacias que compõem a caatinga (44%) apresentou um balanço hídrico quantitativo muito crítico, entre 2013-2015.
É importante ressaltar que o balanço hídrico quantitativo tem a ver com a relação entre a quantidade e chuva (precipitação) que caiu em um bioma menos a quantidade extraída por captação (para abastecimento público, irrigação de lavouras e outras) e que foi perdida por evaporação e transpiração (evapotranspiração). Em 2008, este balanço hídrico para a caatinga mostrou que a condição dos recursos hídricos era ótima em 75% das microbacias. Já na análise de 2013 a 3015, o percentual muito crítico de 44% pode estar associado aos anos de seca intensa que o bioma vivenciou.