Estudo analisa índices de criminalidade durante eclosão da pandemia
O Laboratório de Economia Aplicada e Desenvolvimento Regional (Leader) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) divulgou, nesta terça-feira, 27, uma análise dos índices de quatro modalidades de crime no estado. O levantamento considera o período de eclosão da pandemia do coronavírus, entre os meses de março e julho de 2020, em comparação ao mesmo período do ano anterior.
A análise no âmbito do Projeto EpiSergipe aponta a redução no registro de casos de violência doméstica, roubos e furtos nos primeiros cinco meses de contágio do novo vírus respiratório em Sergipe. Na contramão dessa tendência, o número de homicídios dolosos – quando há intenção de matar – aumentou no período analisado.
Com base em dados da Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal da Secretaria de Estado da Segurança Pública (CEACrim), os pesquisadores da UFS observaram que os casos de violência doméstica caíram 18,9% entre março e julho de 2019 e de 2020, respectivamente. Já o número de furtos diminuiu 39,7%, e o de roubos 51,7%. Os homicídios dolosos, por sua vez, aumentaram 10,2% entre março e julho.
Para o professor Marco Antônio Jorge, que desenvolve pesquisas sobre economia do crime junto ao Leader na UFS, “em decorrência da pandemia da covid-19, era possível esperar por uma queda em crimes como roubo e furto, em função da menor presença de indivíduos nos espaços públicos, bem como do fechamento de diversos negócios. Já a presença de potenciais agressores por mais tempo em casa poderia exacerbar os casos de violência doméstica, mas o registro desses casos caiu no estado”.
“No que diz respeito aos homicídios dolosos, o número de casos no estado se eleva, revertendo a queda apresentada no período de pré-pandemia, o que pode decorrer do recrudescimento na competição do crime organizado pelo mercado de drogas. Ainda pode-se notar que enquanto as localidades mais populosas concentram a maior parcela da criminalidade estadual, municípios de menor porte apresentaram elevações expressivas, ainda que sobre um número de casos muito menor”, complementa.
Homicídios dolosos
Entre março e julho de 2020, quatro municípios – Aracaju, Nossa Senhora Socorro, Itabaiana e São Cristóvão – concentraram 56,7% dos registros dessa tipologia de crime, com 190 dos 335 homicídios dolosos ocorridos no estado no período. “E parece ter havido uma concentração ainda maior, visto que esses municípios representavam 47,7% dos casos no mesmo período ano passado”, explica Marco Antônio Jorge.
A análise ainda sinaliza que, embora o estado seja pequeno em termos de extensão, há diferenças significativas regionalmente. Isso porque 23 municípios não tiveram nenhum caso de homicídio entre março e julho deste ano. Houve também queda de registros em 24 cidades, aumento em 23, e 28 municípios não apresentaram variação no período.
Violência doméstica
Em Sergipe, os casos de violência doméstica caíram de 482 para 391 na comparação de março a julho de 2020 com março a julho de 2019. Porém, há uma preocupação em relação a subnotificações. “A magnitude da redução do número de casos, reforçada pelo fato de que Sergipe foi um dos estados que possibilitaram a realização de boletim de ocorrência online para casos de violência doméstica, permite inferir que de fato pode estar havendo uma queda nesta modalidade de crime em plena pandemia. Mas convém ficar atento para checar se, de fato, não se trata de um problema de subregistro,” diz.
Vale ainda observar que dentre os quatro municípios com mais casos, somente Aracaju apresentou uma redução significativa de 167 para 119 casos (28,7%). São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro registraram aumento: 13,3% (de 15 para 17 casos) e 12,5% (de 40 para 45), respectivamente. Já em Lagarto o número passou de 16 para 17.
As informações são da UFS.