Estudante da UFS lança filme ‘Ímã de Geladeira’ na 25ª Mostra de Tiradentes
Estrear um filme na Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais, é um desejo de muitos realizadores audiovisuais do Brasil, graças ao respaldo do evento em revelar filmes nacionais e à tradição de abrir o calendário anual do cinema brasileiro. É esse gostinho de realização que o estudante do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Sidjonathas Araújo está experimentando.
“Ímã de Geladeira”, filme que dirige ao lado de Carolen Meneses, roteirista da obra, foi selecionado entre mais de 900 produções cinematográficas e vai representar Sergipe na 25ª edição do evento, que acontece de forma virtual pelo segundo ano consecutivo.
O filme integra a Mostra Praça e ficará disponível durante 24 horas a partir das 19h do dia 24 de janeiro, de forma online e gratuita, no site oficial do evento, por onde também ocorrerá o bate-papo com os diretores ao vivo no dia 25, às 21h.
Narrativa afro-surrealista
O curta-metragem de ficção transita entre os gêneros cinematográficos terror e fantasia para narrar a vida de um jovem casal preto que vive numa periferia sergipana. Com uma narrativa afro-surrealista, o filme discorre sobre a violentação aos corpos negros e periféricos e a respeito de sua espetacularização pelos meios de comunicação de massa.
“A fabulação através do surreal é uma maneira de falar de algo tão profundo como o genocídio da população negra sem tocar diretamente nos traumas sofridos por nosso povo. E, mais, sem contribuir para as narrativas hegemônicas que mantêm o imaginário social sedento pelo espetáculo sangrento”, explica Sidjonathas.
A locação do filme não poderia ser outra, senão o Rosa Elze, bairro que hospeda o campus de São Cristóvão da UFS. Emigrado do município baiano de Barrocas, Sidjonathas vive no Rosa Elze desde que ingressou na universidade no ano de 2016. Um ano depois já estava envolvido na produção universitária “Rosa Importa”, documentário que reflete sobre questões políticas e demográficas do bairro.
Em “Ímã de Geladeira”, o Rosa Elze mais do que ambienta as cenas, pois é decisivo para a construção estética e narrativa do filme, interessada nos modos de vida das periferias nordestinas, onde a vida pulsa nas esquinas e vielas através do sol, do brilho das peles racializadas, das cores vibrantes e da sobreposição de sons.
“O próprio modo de trabalho e relacionamento dos moradores do Rosa inspirou a construção das personagens do filme. A herança africana presente nas relações comunitárias do bairro, por exemplo, tem tudo a ver com perspectiva afro-surrealista de unir a ancestralidade preta à fabulação crítica sobre o racismo”.
Ao lado de Carolen Meneses, Sidjonathas também dirigiu os curtas “Babá Eletrônica” (2018) e “Corre” (2020). A dupla ainda integra a produtora Floriô de Cinema que, entre outras ações, realiza o Cine de Rua Infantil de Sergipe (CRIAS).
Cinema universitário em evidência
Já faz algum tempo que os filmes realizados por estudantes se expandem para além dos festivais universitários e são exibidos juntamente com produções de variadas origens, formatos e orçamentos. Com baixa participação na Mostra ao longo de suas duas décadas e meia de existência, Sergipe está sendo representado no evento com filmes universitários pelo segundo ano consecutivo.
O filme “Abjetas 288”, dirigido pelas estudantes da UFS Júlia Costa e Renata Mourão, foi lançado e recebeu o prêmio de melhor curta pelo júri oficial da Mostra Tiradentes em 2021 e segue em cartaz em eventos de cinema no Brasil e no mundo.
“A experiência proporcionada pela universidade pública sem dúvidas é muito rica e abre caminhos. Ter contato com pesquisadores e realizadores audiovisuais; com projeto de extensão em educação e cinema; e com o movimento estudantil, foram essenciais para meu desenvolvimento enquanto cineasta”, encerra Sidjonathas.
Fonte: Ascom/Filme Ímã de Geladeira