“Enxergo a Academia Sergipana de Letras uma grande arena cultural”
Por Cláudia Lemos
Escolhido no último dia 07 de março para ocupar a Cadeira de número 30, da Academia Sergipana de Letras (ASL), o advogado e escritor Igor Leonardo Moraes Albuquerque, 39, conversou com o CS sobre o papel e a importância da ASL. Sobre a escolha do seu nome para ocupar uma cadeira na Academia, o futuro imortal atribui a um reconhecimento dos demais acadêmicos acerca da relevância de seus escritos ou até mesmo por sua atuação cultural. Natural de Itabaiana, filho de José Albuquerque de Jesus e Maria de Fátima Moraes Albuquerque, ele conta que seus pais sempre o incentivaram à leitura. Ávido leitor, um de seus bons hábitos foi frequentar bibliotecas e participar de clubes de leitura, daí a facilidade com a escrita, que ele define como uma forma de registrar o conhecimento adquirido ou produzido e de torna-lo acessível à sociedade. É Advogado com especialidade em Direito Constitucional e Educacional, aluno regular do mestrado profissional em Poder Legislativo pela Câmara dos Deputados, através do Cefor (Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento). Pela Fundação Getúlio Vargas tem formação complementar como Gestor Público Municipal. Já foi secretário do Planejamento, Orçamento e Gestão da Prefeitura Municipal de Aracaju. É Autor do Livro “Hierarquia Normativa no Direito Brasileiro” (2020) e de vários artigos em revistas, jornais e capítulos de outros livros. É, também, subsecretário-geral da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, onde já coordenou comemorações importantes para a história de Sergipe pela Instituição, a exemplo dos 20 e dos 30 anos de promulgação da Constituição de Sergipe (2009 e 2019, respectivamente), além do Bicentenário da Emancipação Política de Sergipe (2020). Casado com Marcelí Barbosa Albuquerque, é pai de Maria Cecília Barbosa Albuquerque. A data da posse de Igor Leonardo na ASL ainda não foi marcada.
Correio de Sergipe -Como você se sente tendo sido escolhido para ocupar a Cadeira de número 30 da Academia Sergipana de Letras, que tem como patrono José Jorge de Siqueira Filho e que era ocupada pelo professor e acadêmico Luiz Fernando Ribeiro Soutelo, seu colega no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e no Conselho Estadual de Cultura?
Igor Leonardo – Ser escolhido para ocupar qualquer uma das 40 cadeiras da Academia Sergipana de Letras é uma notável distinção para qualquer intelectual. No caso específico da Cadeira nº 30, herdaremos a responsabilidade de levar adiante os legados culturais de seu Patrono, o bacharel em direito e poeta José Jorge de Siqueira Filho (1845-1870), e de seus anteriores ocupantes, o desembargador Enoch Matusalém Santiago (1892-1957), o professor José Olino de Oliveira Lima (1900-1985) e o professor Luiz Fernando Ribeiro Soutelo (1949-2022). Tivemos atuação com o professor Soutelo, além do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) e do Conselho Estadual de Cultura (CEC), na Assembleia Legislativa, no Governo do Estado e na Prefeitura de Aracaju, sendo, nos dois últimos casos, em gestões comandadas pelo também acadêmico João Alves Filho, de saudosíssima memória. Além disso, sempre mantivemos com o professor Soutelo uma fraternal amizade, e, de nossa parte, um grande respeito e admiração pelo que ele representava e ainda representa no cenário cultural sergipano. Então, chegar à ASL, na sucessão do imortal Luiz Fernando Ribeiro Soutelo, um dileto amigo, além de constituir um desafio, nos dará a oportunidade de envidar esforços para manter vivo o seu legado cultural.
CS -Embora jovem, 39 anos, você tem uma extensa biografia. Advogado, escritor, atualmente é vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE), e subsecretário-geral da Mesa Diretora da Alese. Reconhecidamente ligado à cultura e apaixonado por História, você algum dia imaginou que se se tornaria imortal da ASL antes mesmo de completar 40 anos?
IL – Em verdade nunca imaginei que seria candidato. Não creio que a chegada à Academia seja um objetivo a ser perseguido; trata-se, bem mais, a meu ver, de um reconhecimento dos demais acadêmicos acerca da relevância de seus escritos ou de sua atuação cultural. A idade não é determinante. De fato já passamos por diversos órgãos do Estado e do Município de Aracaju, além de instituições culturais. Em toda a nossa atuação profissional, sempre procuramos conferir um olhar mais atento às questões culturais. Por exemplo: enquanto secretário municipal do Planejamento, Orçamento e Gestão de Aracaju, sendo prefeito o Dr. João Alves, junto com a Profª Aglaé Fontes, então presidente da Funcaju, tivemos a oportunidade de cuidar da conclusão das obras e da entrega do Centro Cultural de Aracaju, na Praça General Valadão, no prédio da antiga alfândega, ainda hoje um dos mais importantes equipamentos culturais da capital. Talvez, essa e outras ações culturais, além, é claro, da produção bibliográfica, tenham sido notadas e valoradas pelos acadêmicos da ASL que generosamente sufragaram meu nome na eleição do último dia 7 de março.
CS -Qual o papel e qual a importância da Academia Sergipana de Letras para a literatura sergipana?
IL- A Academia Sergipana de Letras, como instituição cultural das mais antigas em atuação em Sergipe, deve exercer, e exerce, um papel de absoluto destaque não somente na literatura, mas em todo o cenário cultural do Estado. Na Academia é mantida viva a memória e a obra dos mais notáveis intelectuais sergipanos. Nela, novos escritores têm a oportunidade de apresentar suas obras e de discutir literatura e cultura. A Academia constitui, pois, um privilegiado espaço de convivência cultural, de debates e discussões e de disseminação do conhecimento, residindo aí a sua importância.
CS -Como você enxerga a Academia Sergipana de Letras de Sergipe?
IL – Enxergo a Academia Sergipana de Letras como uma grande arena cultural, onde todos são muito bem-vindos para conhecer e discutir não só literatura, mas as diversas outras dimensões da produção cultural, atentando para a preservação do patrimônio cultural sergipano.
CS -Como você pretende contribuir para as ações da ASL?
IL – Pretendo contribuir, com as minhas experiência e conhecimento, nas discussões e debates sobre literatura e questões culturais. Pretendo, também, evidentemente, aprender com tais discussões e debates. Além disso, será nossa missão contribuir para a preservação do acervo da própria Academia, procurando torná-lo cada vez mais acessível. É minha intenção, inclusive por participar também de outras instituições como o IHGSE e o Conselho Estadual de Cultura, auxiliar em ações que concorram para a preservação de nosso patrimônio cultural.
CS -Autor do Livro “Hierarquia Normativa no Direito Brasileiro” (2020) e de vários artigos em revistas, jornais e capítulos de outros livros, quando surgiu seu gosto pela leitura e escrita?
IL- Desde tenra idade, e devo isso a meus pais, José e Fátima Albuquerque, que foram puro incentivo. Sempre tive muita facilidade com redação e sei que, para isso, muito contribuiu o gosto pela leitura. Também foram importantes os bons hábitos de frequentar bibliotecas e de participar de clubes de leitura. Escrever termina por ser uma necessidade; é a forma de registrar o conhecimento adquirido ou produzido e de torná-lo acessível à sociedade.
CS -Como você avalia a produção literária em Sergipe e o que pode ser feito para incentivar o surgimento de novos escritores?
IL- A produção literária em Sergipe tem crescido bastante; e isso se deve a diversos fatores, tais como a certa facilidade que se tem para publicar hoje em dia (não obstante ainda não ser uma atividade de baixo custo), a disseminação de feiras e eventos literários no Estado, e a atuação da própria Academia Sergipana de Letras. A nossa Academia tem capitaneado um movimento para estimular a criação de academias municipais, com destaque nesse particular, para a atuação dos acadêmicos José Anderson do Nascimento, presidente da ASL, e Domingos Pascoal de Melo. A criação dessas academias nos municípios acaba por servir de incentivo para que mais e mais sergipanos possam escrever e publicar suas obras. Além disso, o poder público tem papel fundamental de promover iniciativas que estimulem a produção literária, inclusive entre os estudantes.
CS -Que conselho você deixa para os jovens que quiserem seguir seu exemplo?
IL – Não me coloco propriamente como um exemplo. Cada um tem a sua individualidade e a sua trajetória; cada um tem o seu talento e as suas aptidões. O conselho que deixo aos nossos jovens refere-se à necessidade absoluta e inegociável de estudar, de concluir sua educação formal, de ser um ávido leitor de publicações que lhe acrescentem conhecimento. Mas não somente leitores: que possam cultivar os bons hábitos de acompanhar o mundo cultural, de conhecer e ajudar a preservar nossos equipamentos culturais (como museus e bibliotecas), inclusive se utilizando das novas tecnologias que tornam tudo isso mais prático e acessível.