Economista fala da inflação alta e dá dicas de como contorna-la

Por Wilma Anjos

Os constantes reajustes nos preços dos combustíveis em 2021, aliados à crise hídrica nacional que reflete no aumento da tarifa da energia elétrica, a redução na oferta de alimentos no mercado interno e a instabilidade do real perante o dólar americano, entre outras coisas, estão pressionando a economia do país e, consequentemente, a resposta vem em forma de aumento na inflação – prevista para fechar o ano em 8,5%, segundo o Banco Central, número acima dos 5,25% planejados. O professor de Economia Josenito Oliveira conversou com o Correio de Sergipe sobre as causas deste cenário e também deu algumas sugestões de como driblar a crise. Confira a conversa completa:

Correio de Sergipe: Qual o índice de inflação que temos hoje?
Josenito Oliveira:
O índice oficial de inflação do Brasil é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE. Em agosto foi de 0,87%. No ano de 2021, o IPCA acumula alta de 5,67% e, nos últimos 12 meses, de 9,68%.

CS: É uma marca ruim ou ainda está dentro do esperado para o ano?
JO:
É ruim, pois o índice acumulado em 12 meses tem ficado cada vez mais acima do teto da meta estabelecida pelo governo para a inflação deste ano, que é de 5,25%.

CS: Aliás, por que temos tantos índices diferentes que medem a inflação?
JO:
Cada índice tem uma metodologia própria, e a medição é feita por diversos órgãos especializados, como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a FGV (Fundação Getulio Vargas), a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Entre as diferenças de método estão os dias em que os índices são apurados, as regiões, os produtos que incluem, o peso deles na composição geral e a faixa de população estudada.

CS: Quem estabelece a inflação no país?
JO:
A inflação por definição é o aumento no nível geral de preços. Existem três tipos de inflação: a inflação de demanda, provocada por um aumento no consumo, estimulando os empresários a aumentarem os seus preços; a inflação de custos, causada por um aumento nos custos de produção, que por sua vez são repassados aos preços e a inflação inercial, foi um caso atípico que aconteceu no Brasil na década de 80, quando os empresários passaram a aumentar os preços dos produtos, apenas como mecanismo de proteção, criando a chamada cultura inflacionária.

CS: Atualmente, o que mais contribui para esse aumento?
JO:
Três fatores estão causando a inflação: o primeiro é o constante aumento dos preços dos combustíveis, considerado um importante item de custo na produção; o segundo, o aumento das exportações de alguns produtos, como a proteína animal e os grãos tem provocado a redução de oferta no mercado interno, fazendo com que seus preços sejam elevados e o terceiro, o aumento da tarifa da energia elétrica, por conta da crise hídrica. Além da taxa de câmbio elevada que encarece as matérias-primas importadas.

CS: Qual alternativa para superar a crise hídrica?
JO:
A solução não é de curto prazo, pois exige investimentos de médio a longo prazos em alternativas energéticas que venham a contribuir com a energia hidráulica.

CS: Chegamos no ponto em que é preciso reduzir a qualidade dos produtos que consumimos por causa da alta na inflação?
JO:
Infelizmente, sim. É necessário fazer escolhas, substituindo produtos similares que tenham menores preços.

CS: Já ouvi pessoas “prevendo” que até dezembro o litro da gasolina chegará a R$ 10. Isso tem fundamento ou é só uma conversa à toa?
JO:
Tem fundamento. O aumento do preço da gasolina e de outros combustíveis é fruto da política de preços da Petrobrás. A empresa passou a praticar o Preço de Paridade Internacional (PPI), que se orienta pelas flutuações do mercado internacional.

Além disso, o aumento da demanda no mercado internacional, por conta da vacinação contra a covid-19 tem permitido que diversos países reabram suas economias. E se a demanda por petróleo e derivados cresceu de um lado, a oferta não acompanhou. E por fim, a alta do dólar, pois a valorização do barril de petróleo tem um duplo efeito para países como o Brasil, que passam por uma profunda desvalorização cambial.

 

CS: O salário mínimo é R$ 1.100. Pode dizer como administrar tão pouco, em tempos de inflação galopante?
JO: Sei que não é fácil, pois quem ganha salário mínimo não vive, sobrevive. As pessoas que ganham, já sabem. Fazem as escolhas para atender o básico das suas necessidades.

CS: E para quem tem apenas uma fonte de renda, o que dizer?
JO:
Duas coisas, uma é fazer um bom planejamento financeiro para usufruir o máximo dessa renda. A outra é buscar outra fonte de renda para não ficar dependente de apenas uma. Procure descobrir suas habilidades, seus talentos. Com certeza ajudará a complementar sua renda.

CS: Nesses momentos de crise, o que sugere cortar primeiro?
JO: Cortar os supérfluos, ou seja, aquilo que você pode passar sem eles. Priorize o essencial: a alimentação, habitação, saúde, educação, transporte, etc.

CS: Parece um círculo vicioso: com a inflação alta, diminui consumo. Daí o país para de crescer, gerando desemprego. Então voltamos para a diminuição do poder aquisitivo. Como parar isso?
JO:
Nós estamos vivendo um período de várias crises juntas. Parece a tempestade perfeita. Uma crie sanitária com a pandemia, uma crise econômica, uma crise hídrica, uma crise política, uma crise institucional e uma crise moral. Para todas as crises existem soluções, mas nem todas são fáceis. Por exemplo, para combater uma crise econômica é necessário investimento público e privado, mas para isso acontecer é necessário um ambiente de estabilidade que gere confiança, do contrário, os empresários não investem.

CS: Tem previsão de melhora para os próximos anos?
JO:
Infelizmente, não. O Relatório Focus do Banco do Central do Brasil, divulgado toda segunda-feira, traz previsão de aumento da inflação para esse ano de 2021 e para os próximos três anos.