Deputado vê problemas no ensino virtual e defende aulas presenciais

Por Cláudia Lemos

O deputado estadual Georgeo Passos (Cidadania) tem defendido o retorno do ensino presencial e considera esse um assunto importante e que precisa ser debatido na Assembleia, com a participação de todos os envolvidos no processo. Ele destaca as dificuldades que muitos alunos tem com relação ao ensino online e diz que os estudantes estão prejudicados. “Na minha avaliação, o ensino remoto ou virtual traz sérios problemas.  Fora que as escolas estando fechadas impacta diretamente no processo de desenvolvimento e socialização destes alunos. Por isso, a necessidade de pensarmos urgentemente neste retorno”, diz. Confira a entrevista a seguir:

 

Correio de Sergipe – O senhor defende o retorno das aulas presenciais para alunos de todas as séries tanto na rede particular como na pública. Em sua visão esse retorno já deveria ter acontecido?

Georgeo Passos – Inicialmente, defendemos que a Assembleia Legislativa realize o quanto antes um debate sobre o retorno das aulas presenciais. Não dá para um assunto tão importante não ser pauta na Casa Legislativa e é claro que nós não queremos que isso fique apenas nos discursos. Precisamos de ações concretas e para isso precisamos ouvir especialistas, pais e trabalhadores da Educação. Sabemos da importância que é salvar as vidas, sempre defendemos que as vidas estão em primeiro lugar, mas o tempo que já foi perdido, nós temos que correr para recuperar esse prazo com ações efetivas e seguras para este retorno.

 

CS– Estamos falando de quase um ano e meio dos alunos fora das salas de aula de forma presencial. Esse ano foi autorizado o retorno apenas para os pequeninos. A grande maioria continua com ensino virtual. O senhor vê prejuízo para os estudantes como um todo?

GP – Lógico que a saúde deve estar em primeiro lugar, nós também defendemos a vida. Agora, não temos como negar que os alunos estão sim sendo prejudicados. Na minha avaliação, o ensino remoto ou virtual traz sérios problemas principalmente na rede pública, onde não existem as mesmas condições da rede privada para que os nossos professores possam dar as aulas e os alunos terem um aprendizado melhor, fora que as escolas estando fechadas impacta diretamente no processo de desenvolvimento e socialização destes alunos. Por isso, a necessidade de pensarmos urgentemente neste retorno.

 

CS – O senhor disse que tem recebido relatos de pais sobre dificuldades que os filhos vêm tendo. Quais dificuldades seriam essas?

GP – Muitos pais já estão trabalhando de forma presencial ou mesmo não deixaram de trabalhar. Então para eles se torna muito complicado acompanhar essa rotina virtual de aulas, já que na maioria das vezes, no horário em que as crianças estão em aula, eles estão trabalhando. E isso também se aplica ao contraturno escolar, onde acontecem as atividades escolares o que também os impedem de fazer o acompanhamento necessário da execução destas atividades por seus filhos.  Além disso, tem também a questão da estrutura necessária para que seus filhos possam acompanhar os professores dando aulas, já que eles necessitam de pelo menos um bom celular que seja smartfone e uma conexão de internet com alta velocidade.

 

CS – O senhor também fala sobre uma disparidade em relação à estrutura de acesso ao conteúdo entre alunos de escolas públicas e privadas. Dá para explicar melhor isso?

GP – Sabemos a maioria dos alunos da rede pública de ensino tem o poder aquisitivo menor que os alunos da rede privada. Enquanto as escolas particulares viram uma forma de se adequarem ao novo modelo de aulas remotas ou virtuais para atender à demanda de seus alunos, muitas escolas públicas iniciaram as aulas já na metade do primeiro semestre. Também tem a questão dos computadores, notebooks e celulares smartfones que são mais acessíveis, vamos colocar desta maneira, aos alunos que fazem parte da rede privada de ensino. Sabemos que existem alunos da rede pública que moram em regiões onde o sinal de internet nem mesmo funciona. Enquanto os alunos das escolas particulares tem à disposição um computador ou um celular com internet, um ambiente de estudo tranquilo com ar-condicionado, lanche e todas as outras coisas que fazem parte da rotina do estudo remoto ou virtual, os alunos da rede pública muitas das vezes precisam procurar locais que se dispõe a ajudar e compartilham a senha do wifi para que eles possam estudar através de um celular que geralmente é dividido com os irmãos e como o volume de coisas é grande, o celular não aguenta. Fora que as refeições em algumas casas de alunos da rede pública são limitadas. Sabemos também que era na escola que estes alunos se alimentavam. Então, as realidades são muito diferentes e a disparidade na estrutura é cruel.

 

CS  -Como o senhor vê esse retorno das aulas presenciais?

GP – Bem, eu vejo com bons olhos esse retorno. É lógico que no primeiro momento será necessário fazer isso de forma híbrida, onde uma parte dos alunos fiquem presencial e a outra parte virtual. Essa decisão deve caber aos pais, se os filhos retornam ao presencial ou continuam no remoto. E cada um deve fazer essa escolha conforme a sua realidade ou pensamentos. As escolas não podem exigir, principalmente neste primeiro momento, que todos os alunos retornem presencialmente mesmo que as turmas estejam reduzidas, os pais é que devem fazer este filtro.

 

CS  – A sala de aula pode ser um ambiente seguro?

GP – Na minha avaliação sim, desde que respeitados todos os protocolos sanitários, principalmente os de distanciamento, o uso de máscara, trabalhadores vacinados. Sabemos que o risco sempre vai existir com este vírus, não podemos pensar que mesmo com boa parte das pessoas vacinadas não haverá mais riscos, por se tratar de um vírus, mas nós entendemos que com responsabilidade a sala de aula é sim um ambiente seguro, até porque hoje, nossos alunos depois de um ano, se reúnem e conversam com outros colegas, frequentam também os ambientes coletivos, mesmo com as restrições, isso é um fato e ninguém pode negar e a Educação é a base de qualquer sociedade e por isso precisamos avançar.

 

CS – De que forma o senhor entende que a Assembleia Legislativa pode contribuir nesse processo de retorno dos alunos às aulas de aula?

GP – Com falamos anteriormente, nós entendemos que a Assembleia enquanto uma Casa que representa a população sergipana não pode estar longe desta discussão. Nós precisamos ouvir todos os envolvidos nesta temática. E quando eu digo todos, faço referência principalmente aos representantes dos pais, especialistas, trabalhadores da Educação bem como representantes da Secretaria Estadual de Educação, para que juntos  possamos analisar inclusive os protocolos realizados até o presente momento e lógico, buscar com o avanço da vacinação uma data para o retorno presencial. Eu, enquanto um pai de uma aluna que não está estudando dentro da sala de aula, minha filha hoje estuda de forma remota, eu entendo que retornando as aulas, eu farei questão de analisar o protocolo adotado pela escola e este estando seguro, eu farei questão de leva-la para as aulas presencias, porque vejo que ela não consegue passar quatro horas seguidas por exemplo, acompanhando as aulas virtuais e isto significa um prejuízo enorme para ela que ainda está nas séries iniciais. Agora, imagina como estão os alunos da rede pública, onde muitos não tem sequer um celular para acompanhar as aulas, onde também muitos pais não tem como fazer este acompanhamento mais de perto e isso vai gerar um estrago enorme para estes alunos, trazendo problemas para eles nos próximos anos. E quanto mais demorarmos ao retorno presencial, este problema só vai aumentar. Agora é importante destacar que eu defendo sim este retorno às aulas presenciais com responsabilidade, segurança e protocolos rígidos de medidas sanitárias.