‘Colégio já não se sustentava mais e o caminho correto era encerrar’

Por Wilma Anjos

Os sergipanos foram surpreendidos em julho passado com o anúncio da venda do tradicional Colégio Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus. A história do Arqui, como é mais conhecido, fundia-se à própria história de Aracaju. Não só por sua trajetória de 61 anos ligada à tradição católica, mas, sobretudo, por sua qualidade de ensino e destaque nos jogos esportivos escolares. O Arcebispo Dom João José da Costa acompanhou o declínio de quase quatro mil alunos para cerca de 810 matrículas este ano. A pandemia da Covid-19 sem dúvida contribuiu para as dificuldades, assim como em tantas outras escolas. Mas o compromisso com os débitos se avolumou de uma maneira que arcar com as dívidas ficou insustentável. Então, para evitar o colapso total, Dom João disse que tomou a difícil decisão de fechar as portas do Arquidiocesano, vendendo a unidade Farolândia por R$ 14 milhões. O novo Grupo que administrará a instituição pretende manter ao menos a identidade visual do Arqui, mas tudo indica que novos métodos de ensino serão adotados. Dom João chegou a receber duras críticas pela decisão, mas explica com bastante propriedade que a venda foi meticulosamente planejada, a fim de evitar danos maiores à Arquidiocese. Acompanhe:

Correio de Sergipe: Dom João, o colégio Arquidiocesano foi vendido, correto? O que aconteceu?
Dom João José da Costa
: Sim, o Arquidiocesano Farolândia infelizmente foi vendido. O colégio estava numa situação bastante difícil. Caiu demasiadamente o número de alunos, e frente a essa redução, o caminho mais seguro para nós foi justamente encerrar [as atividades]. Chegamos ao limite, em que não dava mais para continuar, devido ao número pequeno de alunos e os custos que se tem. Como medida preventiva e também os cuidados que a gente precisa, a gente resolveu encerrar.

CS: O senhor está satisfeito com a transação com o Grupo Master de Ensino?
DJJC:
Graças a Deus encontramos uma empresa que abraçou essa causa, vai dar continuidade à escola e a gente fica muito satisfeito. O Grupo Master, do Mitidieri, foi quem comprou. Ele muito interessado, vai dar continuidade à escola. A escola não vai ser, digamos assim, encerrada. Ele vai implementar e esta obra continuará.

CS: E o Arqui Centro? Qual será seu destino?
DJJC:
Nós vendemos o Arqui Farolândia. O Arqui Centro, o prédio continuará, embora a escola não. Inclusive, nós vamos disponibilizar para qualquer empresa que queira ali instalar um empreendimento.

CS: O senhor recebeu algumas críticas por esta decisão. Isso te aborrece?
DJJC:
Não. Chegou numa situação limite que o colégio já não se sustentava mais e o caminho correto era encerrar. Infelizmente não tinha mais como continuar. Chegou no limite, e como medida preventiva e cuidadosa, encerramos. Tivemos de encerrar essa obra que já tinha uma história de mais de 60 anos.

CS: Chegou a ser divulgado em alguns sites que o senhor agiu mal ao vender a escola.
DJJC:
Nós queremos o bem para a nossa Igreja, para a nossa Arquidiocese, mas também para aquele que está assumindo esta preciosa missão. Foi dessa maneira que encerramos. Foi uma medida que eu acho muito justa, verdadeira e necessária. Nós queremos o bem de todos. Não queremos nada de maltratar ninguém, nem perseguir. Mas quando uma situação não dá mais, a gente tem que tomar as medidas a tempo, para que o barco não afunde.

CS: Por que medida preventiva?
DJJC:
Para as dívidas não aumentarem.

CS: Então de fato não havia saída.
DJJC:
A gente sofre bastante com essa medida, mas foi um caminho promissor para que a gente pudesse superar uma dificuldade.

CS: Por quanto foi vendido, o senhor pode revelar?
DJJC:
Sim, sem problema. O Arquidiocesano Farolândia foi vendido por R$ 14 milhões.

CS: E como vai ser aplicado esse investimento?
DJJC:
Primeiro vamos encerrar as atividades das escolas. Vendemos esse prédio da Farolândia como uma forma de cobrir as despesas, pagar as dívidas que se têm acumulado e aquelas que virão com as demissões. Foram medidas necessárias e urgentes, porque tem um custo bastante alto. Mas a gente tem a nossa consciência tranquila, de que o dever foi cumprido verdadeiramente. Uma situação realmente lamentável que se chegou, mas não tendo mais como se sustentar, a gente encerrou. E para encerrar teria que vender uma das escolas e vendemos o Arqui Farolândia como uma forma também de cobrir as despesas com as demissões e com a dívida alta que tinha no Arqui. Diante de tudo isso a gente está tomando as medidas com bastante cuidado e com a graça de Deus vamos vencer tudo isso.

CS: O valor da venda é o tamanho da dívida da escola?
DJJC:
O Arquidiocesano Farolândia foi vendido por R$ 14 milhões justamente com essa perspectiva de cobrir as despesas com as demissões e também cobrir uma grande despesa que já existia, uma dívida. Mas graças a Deus foi tudo muito bem planejado, discutido, assumido bem com o interessado comprador e também com a Arquidiocese. De 75% a 80% do valor será usado para cobrir essas dívidas.

CS: A administração já foi passada para o Master?
DJJC:
A gente diz que encerrou, mas oficialmente vai encerrar final do ano. Até o final dezembro a gente continua.

CS: E a Rádio? É verdade que também será vendida?
DJJC:
A Rádio Cultura em hipótese alguma se pensou em vender. Nós vamos fazer um processo de migração de AM para FM. Mas a Rádio continuará sendo a Rádio Cultura de Sergipe, pertencente à Arquidiocese de Aracaju. Nós estamos seguros de que ela tem uma grande importância para a nossa Arquidiocese e para a sociedade. Diante de tudo isso nós vamos continuar com essa preciosa emissora, veículo tão importante de comunicação. Nada em absoluto para abrir mão da Rádio Cultura de Sergipe.

CS: Mas foi noticiada essa informação sobre a rádio.
DJJC:
É conversa indevida, nunca se pensou em vender. Claro, a gente se preocupa em mantê-la bem, e graças a Deus estamos dando passos significativos, e num futuro breve, ainda este ano, ela passará de AM para FM.

CS: O que motivou esta decisão?
DJJC:
Porque as emissoras FM são as mais usadas. A única emissora AM que existe no estado de Sergipe hoje é a nossa. Então vamos ficar todos numa mesma sintonia. Dessa maneira, queremos que ela cada vez mais avance cumprindo a sua missão.