Alunos de Direito gerem própria empresa de serviços à população

As Instituições de Ensino Superior brasileiras adotam legalmente o conceito de Empresas Juniores (EJs) desde 2016. O objetivo de uma EJ é aprimorar o conhecimento acadêmico através de situações reais de mercado e sem fins lucrativos. Com a supervisão de professores, as Juniores prestam serviços com qualidade universitária e preço mais em conta, ao mesmo tempo que estimulam esses alunos ao empreendedorismo. Com apenas 21 anos, Rodrigo Teixeira de Frades está animado e já pensa em empreender ao final de sua experiência. Ele se orgulha de ter sido o idealizador da primeira Empresa Júnior do curso de Direito, da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Em conversa com o jornal Correio de Sergipe, ele orienta o que a população deve fazer para acessar os serviços e também fala como funciona a troca de conhecimentos entre as EJs de todo o Brasil. Confira:

Correio de Sergipe: Quais os serviços que vocês prestam para a sociedade na Empresa Júnior de Direito?
Rodrigo Teixeira de Frades: De acordo com a própria natureza do projeto das Empresas Juniores,  reguladas pela Lei 13.267, de 2016, e respeitando a ética profissional definida pela OAB, nossos serviços estão predominantemente relacionados ao ambiente jurídico ou ao menos a situações em que o conhecimento jurídico possa diminuir riscos e otimizar resultados. Mas não são exclusivos de advogados. Prestamos serviços de registro de marca, notificação extrajudicial, elaboração e revisão de documentos jurídicos, como estatutos e contratos, capacitação sobre algum assunto jurídico em eventos, pesquisa de viabilidade jurídica e consultoria no geral.

CS: E o que as pessoas devem fazer para acessá-los?
RTF: Por diversos canais. Pelo nosso e-mail oficial de contato, que é o contato.themisej@outlook.com. Pelos telefones da presidência e vice-presidência (79) 98886-7967 e (79) 99661-2955 ou, ainda, pelo nosso Instagram @themisej_ufs

CS: Qual o seu papel?
RTF: Atualmente ocupo o cargo de Presidente-fundador. Tive a ideia da iniciativa quando percebi que diversos outros cursos possuíam esse projeto que propiciava um aprendizado prático e multidisciplinar para o aluno da graduação, mas no curso de Direito ainda não havia. Procurei as informações necessárias, alguns colegas de turma e iniciamos.

No meu dia a dia sou o representante legal da empresa, assino os contratos e os reviso, além de procurar estabelecer parcerias com outras EJs e empresas, motivo a equipe no sentido da nossa meta estratégica, forneço as informações para que os membros possam executar o trabalho de forma mais facilitada, monto as pautas das reuniões, presido as reuniões, verifico se os mecanismos de gestão estão funcionando adequadamente, coordeno os trabalhos das diretorias, mantenho a comunicação constante com os nossos professores orientadores, etc.

CS: Há quanto tempo faz parte?
RTF: Faço parte desde a fundação da Themis, que ocorreu em maio de 2020, em plena pandemia. Ficarei na presidência até junho de 2022.

CS: O que foi mais desafiador nesse período?
RTF: Sem dúvidas foi o processo de consolidação da EJ, ou seja, a formalização da estrutura burocrática. Passamos por diversos percalços e, como estávamos em um pico da pandemia, tivemos muita dificuldade para juntar toda a documentação. Em segundo lugar eu colocaria a realização do nosso primeiro evento, que foi bem sucedido, com mais de 60 pessoas, voltado para os alunos da graduação de Direito ou vestibulandos que pretendem cursar.

CS: Existe algum critério para fazer parte de uma EJ ou está disponível para todos os alunos?
RTF: Não existem critérios inflexíveis, apenas o de que é necessário que seja aluno da graduação da respectiva universidade. Muitas vezes as EJs fazem processos seletivos, mas o intuito principal apenas é o de traçar um perfil do candidato e analisar capacidades e aptidões técnicas.

CS: A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) supervisiona vocês?
RTF: Não necessariamente. Ela fornece diretrizes para a advocacia, o que, consequentemente, influencia em nossos trabalhos. Ou seja, por estarmos muito perto dos serviços ofertados por advogados, precisamos atuar de acordo com as diretrizes da OAB para que tudo ocorra bem. Em verdade, tivemos uma reunião com o núcleo da Advocacia Jovem e de Empreendedorismo que nos possibilitou uma aproximação mais semelhante a uma parceria.

CS: Que situação você vive na EJ que nunca imaginaria em sala de aula?
RTF: A possibilidade de lidar com diversas áreas de atuação de uma empresa e escritório reais. Numa EJ, você tem experiência com a parte financeira, administrativa, marketing, realização de eventos jurídicos, etc. Além disso, podemos aplicar o conhecimento da sala de aula nos serviços que ofertamos. Ou seja, é como se ocorresse uma aula prática na sala de aula.

CS: Durante a pandemia vocês prestaram alguma consultoria gratuita a empreendedores com dificuldades?
RTF: Como conseguimos entrar em pleno funcionamento recentemente, não conseguimos ajudar empreendedores dessa forma.

CS: Já teve a oportunidade de trocar experiências com outras EJs do país?
RTF: Sim! As EJs, por natureza, são bem acessíveis. Inclusive é bastante estimulado que as EJs entrem em contato com as outras para aprenderem como cada uma funciona e quais mecanismos podem ser adotados. É basicamente um caldeirão de boas ideias e troca de experiências.

CS: E já participou de algum Encontro Nacional? Como foi?
RTF: Já. O movimento como um todo proporciona encontros e eventos em que estão presentes diversas EJs do país. O mais famoso deles é justamente o Encontro Nacional de Empresas Juniores, o ENEJ, em que EJs do Brasil inteiro se encontram para dar prêmios às que mais se destacaram, para fornecer palestras com grandes personalidades, além de possibilitar a capacitação.

O nosso encontro foi em uma capacitação fornecida por uma EJ de Administração do Rio de Janeiro e foi muito importante para a nossa estrutura gerencial.

CS: O que difere a experiência numa empresa júnior do estágio?
RTF: A experiência em uma EJ é imensurável, podendo ser até mesmo mais relevante do que uma experiência em um estágio repetitivo. Numa EJ o aluno aprende como realmente funciona uma empresa, pois lidera pessoas, toma decisões estratégicas, cria mecanismos de gestão, negocia com clientes reais, faz serviços relacionados a sua área, sob a orientação de um professor, realiza processos seletivos de admissão, etc.

Tudo isso proporciona profissionais mais qualificados para o mercado, elevando o nível de qualidade nos serviços e, consequentemente, revertendo-se em benefícios para toda a sociedade.

CS: Depois dessa experiência, pensa em empreender quando sair da faculdade?
RTF: Sim, com certeza! Acredito que o empreendedorismo transforma vidas e o próprio ambiente em que viveremos e deixaremos para as próximas gerações, possibilitando o surgimento de soluções para diversas questões na sociedade. Atualmente já estou nesse caminho e possuo outra empresa relacionada ao marketing jurídico. Não pretendo parar.