Alessandro Vieira pode ficar fora da corrida presidencial

Por Wilma Anjos

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) anunciou sua pré-candidatura à Presidência da República ainda ano passado. Desde então, seu nome aparecia nas pesquisas com média de intenções de votos que girava em torno de 1%. O parlamentar considera este quadro positivo, se, segundo ele, levado em conta a leitura da conjuntura do país, por exemplo, e quantitativamente o índice de rejeição dos adversários.  Mas o nome do delegado ganhou destaque mês passado, quando a Executiva de seu partido pensou em articular uma federação com outras siglas. Esta negociação pode acarretar o declínio do projeto de Vieira rumo ao Palácio do Planalto. Isto porque o nome do governador de São Paulo, João Doria, seria o mais cotado a pleiteante da federação nas eleições de outubro. Em declarações à imprensa, Alessandro reiterou várias vezes não ser contrário à federação, chegando em algum momento demonstrar simpatia para o MDB em detrimento do PSDB. Mas, recentemente, o parlamentar aliviou a postura e já considera abrir mão de sua pré-candidatura, se isto significar o melhor para o agrupamento e as regras ficarem claras.  A questão, segundo Alessandro, não se trata de aliança com partido A ou B, mas “ter ao menos um desenho básico de qual será o projeto defendido por esta federação”, afinal, ela durará quatro anos. Apesar de trocas de mensagens firmes com João Doria, pelo Twitter, Alessandro garante que seu diálogo com o governador paulista é tranquilo e direto. Confira o resultado da conversa que tivemos com o congressista:

Correio de Sergipe: Senador, não podemos deixar de mencionar a polêmica entre sua pré-candidatura, que esbarra na formação de uma federação do seu partido com outro postulante. Como ficou resolvido este imbróglio?
Alessandro Vieira
:  Estamos discutindo essa questão. O meu ponto essencial é garantir regras claras para uma eventual federação, pois é uma união verticalizada entre partidos pelo prazo de quatro anos, o que exige respeito a construções estaduais e municipais. Teremos uma nova reunião no dia 15 de fevereiro.

CS: Se consolidada a federação com o PSDB, o nome do governador de São Paulo, João Doria, deve ser o pré-candidato ao Palácio do Planalto?
AV:
A definição de nomes deve seguir regras, como já mencionado. Não faço nenhuma restrição à possibilidade de abrir mão da pré-candidatura, caso seja esta a decisão, mas exijo critérios objetivos e não imposição.

 

CS: O senhor prefere uma federação partidária com o MDB, não é isso? Qual seria a razão para esta predileção, se é que ela de fato existe?
AV: Não faço restrição a nenhum nome ou partido dentro do chamado centro democrático.

 

CS: Na sua opinião, o Cidadania está rachado? Roberto Freire [presidente do partido] é entusiasta de uma federação com o PSDB. O senhor já defendeu aliança com o Podemos num momento e em outro ficou mais inclinado ao MDB. Pode explicar aos seus eleitores o que está em questão?
AV:
Existe uma divergência de opiniões, que deve ser resolvida democraticamente no partido. As pessoas, inclusive de imprensa, estão confundindo as coisas. Sou contra uma federação sem boas regras de governança, não importa com qual partido, e sou favorável à construção de coligações majoritárias. É bastante tranquilo explicar para os eleitores, pois eles veem a coerência. Estou fazendo o que sempre disse que iria fazer: trabalhar por uma alternativa consistente à polarização entre Lula e Bolsonaro.

 

CS: O senhor mantém sua pré-candidatura como terceira via à polarização Lula-Bolsonaro, ainda que a federação opte por lançar outro nome à presidência, como o governador Doria, por exemplo?
AV: A pré-candidatura foi definida por decisão unânime da Executiva do Cidadania, de modo que ela permanece inalterada. Caso o cenário mude, vamos reavaliar a decisão.

 

CS: No último dia 27 de janeiro a direção tucana aprovou as negociações para se federar ao Cidadania. Como recebe esta notícia?
AV:
É muito positivo. PSDB, Podemos, PDT e MDB formalizaram esta intenção de construir uma federação. Isso mostra a relevância do Cidadania.

 

CS: O senhor acabou respondendo algumas mensagens do governador Doria no Twitter, em tom assertivo, até, quando ele comemorou a formação da federação. A relação de vocês estremeceu ou ainda há abertura para o diálogo?
AV: Tenho um diálogo direto e muito tranquilo com o governador Doria, mas sempre deixo claro que a construção política exige paciência e respeito.

 

CS: O que o senhor quis dizer com a necessidade de um “ajuste coerente de programa” em declaração dada à imprensa sobre este assunto?
AV: A federação vale por quatro anos e a própria legislação exige a construção de estatuto e programas comuns. É preciso desenhar, mesmo que em termos básicos, qual é o projeto de Brasil que será defendido.

 

CS: O senhor apareceu com 1% das intenções de voto na última pesquisa do Ipec. É uma margem que o senhor considera atraente de se trabalhar? Como alavancá-la?
AV: A análise de pesquisas, no momento em que estamos, exige uma leitura qualitativa, ou seja, qual é o perfil do pré-candidato e quais são as necessidades do eleitor, e quantitativa observando grau de conhecimento e rejeição. O resultado desta análise, no meu caso, é muito positivo.