Aécio Prado assume Presidência do Conselho Federal de Contabilidade

Por Wilma Anjos

No último dia 9 de fevereiro, em Brasília (DF), o sergipano Aécio Prado Dantas Junior tomou posse do cargo de Presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). É a primeira vez que um sergipano gere a instituição responsável por fiscalizar, registrar, normatizar e promover a educação continuada dos contadores de todo o Brasil. Como presidente do CFC, Prado tem acesso às demandas e necessidades de cada Conselho Regional, das 27 unidades federativas. Ele promete dar total apoio à Regional de Sergipe, Conselho que tem íntima relação devido aos anos que passou na Presidência e Vice-Presidência. A nova diretoria do CFC conduzirá os rumos da instituição na gestão 2022-2023. Aécio conversou com a reportagem do Correio de Sergipe (CS) sobre a sua trajetória profissional até alcançar o mais alto posto do Conselho de Contabilidade, suas intenções enquanto presidente e de que forma colaborará com os profissionais de Sergipe. Acompanhe:

Correio de Sergipe: Aécio, primeiramente parabéns pela conquista! Você possui uma sólida experiência em Conselho de classe, não é isso?
Aécio Prado:
Agradeço os votos. Iniciamos nossa trajetória no Conselho Regional de Contabilidade de Sergipe, em 2010. Fui eleito presidente para o mandato 2010/2011. Em 2012/2013 renovei meu mandato para mais dois anos de Presidência, totalizando quatro. Depois participei da chapa disputando a eleição no Conselho Federal de Contabilidade. Assumi como conselheiro para o mandato 2014-2017. Em 2014 assumi uma Vice-Presidência. No biênio 2016/2017 continuei nessa mesma Vice-Presidência de Desenvolvimento Operacional. Depois fui de novo reconduzido como conselheiro por mais quatro anos (2018-2021). Passei o biênio 2018/2019 de novo na Vice-Presidência de Desenvolvimento Operacional e o último biênio, 2020/2021, na Vice-Presidência de Desenvolvimento Profissional. Os Conselhos têm mais de uma Vice-Presidência, isso varia muito. Minha passagem em Sergipe, em Conselho de pequeno porte, me deu uma oportunidade de conhecer uma realidade que às vezes não atinge os Conselhos maiores, que possuem uma estrutura melhor de colaboradores, de modo que às vezes o presidente é mais um representante institucional. No Conselho de pequeno e médio porte a função vai além disso. Você tem que entrar na operação, estudar, aprender muita coisa, e eu sempre busquei me envolver. Isso fez com que eu entrasse no Conselho Federal já com uma relativa experiência. No CFC, essa Vice-Presidência Operacional que passei seis anos cuida de todos os Conselhos Regionais do Brasil. Isso também me proporcionou uma capacidade de percepção da carência de todos os Conselhos Regionais e também me deu visibilidade política, porque, quer queira, quer não, você se relaciona com todo o país. Depois fui para a área de Desenvolvimento Profissional, que cuida da educação continuada e eventos. De uma forma bem resumida, essas foram as minhas atividades no meio classista, que acabaram conspirando para que eu conseguisse unir um grupo e participasse de uma eleição agora em novembro de 2021, em que fui eleito. Em um ato contínuo à vitória, a chapa me escolheu para presidir o Conselho para o próximo biênio.

 

CS: Recapitulando: dentro de um Conselho, são quatro anos no mandato de conselheiro e nesse período você presidirá o CFC por dois anos.
AP: Isso. O mandato de conselheiro é de quatro anos e na presidência são dois, podendo ser renovado para mais dois. A diretoria, ou seja, o presidente e os vice-presidentes, passam dois anos, podendo renovar para mais dois.

 

CS: Essa é a primeira vez que um sergipano é escolhido presidente do CFC?
AP:
Sim. Eu diria que é uma construção política onde obtivemos o apoio de todos os estados da Federação. Ao longo da nossa jornada procuramos criar boas relações, fazendo um trabalho de forma muito humilde, com bastante envolvimento e aí, graças a Deus, conseguimos galgar esse importante espaço.

 

CS: O que um Conselho Regional de Contabilidade faz e de que forma isso afeta a sociedade?
AP:
A principal função é fiscalizar o exercício da profissão e dessa forma proteger a sociedade. Essa proteção se dá na medida em que os Conselhos coíbem o exercício irregular da profissão, por aqueles que não são formados e registrados dentro do Conselho. É um poder de fiscalização delegado que o Estado confere aos Conselhos. Existe a função de registrar todos os que se formam em Ciências Contábeis, e é bom deixar isso registrado, porque às vezes as pessoas não sabem, assim como existe o exame da OAB para os advogados, a Contabilidade, penso eu, é a segunda profissão onde se aplica o exame, que chamamos de exame de suficiência, realizados duas vezes ao ano. Além da graduação em Ciências Contábeis, o pretenso profissional precisa ser aprovado no nosso exame de suficiência para ser registrado no Conselho Regional de Contabilidade e assim estar apto para exercer a profissão. A terceira atribuição é o desenvolvimento da educação profissional continuada. Ou seja, criar programas. A gente tem isso, por exemplo, na auditoria, na perícia, para que você exerça a função de auditor, de perito. Existem dois cadastros que foram criados no Conselho Federal, que é o CNAI, Cadastro Nacional de Auditores Independentes e o CNPC, Cadastro Nacional de Peritos Contábeis. Eles exigem que essas pessoas tenham um determinado número de horas de capacitação durante o ano. Essa é uma forma que o Conselho tem de desenvolver a educação continuada, forçando os profissionais a estarem sempre atualizados. A quarta atribuição é normatizar. Temos a função de emitir normas brasileiras de Contabilidade. Tanto técnicas, quanto profissionais. Todos os profissionais precisam atender, além da legislação federal, estadual e municipal, as normas editadas pelo Conselho.

CS: Em qual dessas atribuições você atuará enquanto presidente do CFC?
AP:
Como disse, o Conselho tem seu rol de atribuições. Não há muito que se inventar. Dentro dessas atribuições, o desafio de cada gestor é aprimorar as ações. Não tem nada bom que não possa melhorar. É o que pretendemos fazer. Viemos de uma gestão extremamente ética, responsável e que desenvolveu bastante o Conselho do ponto de vista do olhar da sociedade. Estreitamos inúmeras relações com os órgãos que são do dia a dia do profissional, a exemplo da Receita Federal, Tribunal Superior Eleitoral, nas questões que envolvem prestações de contas eleitorais. Ministério do Trabalho em todas as questões que envolvem o eSocial. Eu diria que um desafio que temos hoje é tentar trabalhar junto à classe é naquela atribuição de educação continuada, tentar mostrar a importância de uma mudança no perfil de atuação. Hoje o profissional da Contabilidade é muito mais consultor do que executor. Não existe mais aquela imagem de técnico preenchendo guias de impostos e que era, eu diria assim, um mal necessário. Essa imagem ficou para trás. Hoje o profissional precisa se posicionar como braço direito do gestor público ou do empresário, no sentido de auxiliá-los na tomada de decisão. É preciso que o profissional tenha uma expertise na área de tecnologia. Ela jamais ocupará o espaço do contador, porque deixamos de fazer uma atividade muito mais operacional e passamos para atividades muito mais qualificadas. Hoje, de forma automatizada, usamos informações para uma série de situações. Hoje eu diria que o contador tem múltiplas facetas que podem ser exploradas no dia a dia dos negócios. Sempre falo que o profissional da Contabilidade é um agente do desenvolvimento econômico e social do país, parceiro de primeira hora do empreendedorismo.

 

CS: A tecnologia, portanto, é o grande aliado do contador.
AP:
Sem dúvida! Não tem inteligência artificial que substitua a capacidade de análise do profissional da Contabilidade. O que temos é que cada vez mais mergulhar no mundo da tecnologia e entender sobre todas essas mudanças. Temos a inteligência artificial, a computação em nuvem, enfim, uma série de ferramentas tecnológicas que permeiam o dia a dia da nossa profissão e que os contadores precisam conhecer, eu não diria a fundo, mas pelo menos de uma forma que possibilite utilizá-las no seu dia a dia. Um ponto extremamente relevante na área pública, por exemplo, é a Governança. Temos uma parceria com a Rede Governança Brasil, no sentido de envolvermos os profissionais da Contabilidade na implantação da Governança em todos os municípios e estados da Federação, para que possamos ter uma melhoria na aplicação dos recursos públicos, atendendo aos anseios da sociedade. Um contador com múltiplas facetas e condições de atuar em diversos segmentos entende que a tecnologia nos proporciona tudo isso.

 

CS: Quais desafios a pandemia da Covid-19 trouxe para a classe?
AP:
Inúmeros, mas também inúmeras oportunidades. Naquele momento inicial, os contadores precisavam trabalhar porque os empresários só encontravam neles a orientação que precisavam para não fechar as portas. Era todo dia saindo uma norma, uma medida provisória, impactando no funcionamento das empresas. O contador foi alçado a uma posição de protagonismo, e isso, eu diria, que foi a grande oportunidade que a pandemia nos trouxe, porque ele foi o braço direito do empresário naquele momento de extrema dificuldade. Muitas vezes os advogados não eram ouvidos, quem era ouvido era o contador. Era ele quem estava ao lado do empresário fazendo uma rescisão, uma redução de jornada de trabalho, para que de alguma forma pudesse economizar um pouco dentro do que foi estabelecido pelo governo e não fechar o negócio. No período de maior pico ficou comprovado o quanto o profissional é essencial. Eu acho que esse legado foi o grande ganho da classe na pandemia, se é que a gente pode falar em ganho num momento de tanta dificuldade. Mas eu diria que a essencialidade da profissão ficou bem mais evidente nesse período.

 

CS: Aproveitando o gancho, como o contador pode ajudar na superação dos efeitos da pandemia?
AP:
O papel nesse pós-pandemia, digamos assim, é um papel extremamente significativo. Eu falava da necessidade da mudança do perfil, que hoje é um contador consultor muito mais proativo. Aquele contador que deixa de ser um profissional de bastidores e passa para a linha de frente, analisa dados, senta com o gestor, mostra os melhores caminhos, investimentos, tem uma postura que o empresário ou o gestor público precisam para que haja sucesso no seu negócio, na sua instituição. Aliado a tudo isso, o uso da tecnologia. A tecnologia hoje nos permite, eu volto a dizer, a fazer o trabalho mais operacional, mais braçal, enquanto o profissional da Contabilidade tem um pouco mais de tempo para fazer o que ele mais sabe: analisar dados e mostrar os melhores caminhos. Para isso, obviamente, é preciso estar preparado para as demandas do mercado. Por isso incentivamos muito a educação continuada. Todos os Conselhos Regionais de Contabilidade, os 27 de todo o Brasil, desenvolvem inúmeras ações de educação profissional continuada para nos prepararmos para esta demanda do mercado. É o que o mercado nos exige. O pós-pandemia nos traz também essa oportunidade de protagonizar junto à economia um papel de extrema relevância e na retomada do crescimento econômico do país, na medida que temos ampla capacidade de auxiliar no desenvolvimento das empresas.

 

CS: O que tem em mente para ajudar os contadores, enquanto presidente?
AP:
Como disse antes, basicamente encarar os desafios desse novo posicionamento. Isto é, investir na educação continuada, trazendo a perspectiva de uma nova posição do profissional da Contabilidade diante dos avanços tecnológicos, que invadiram a nossa profissão.

CS: E para Sergipe, o que guarda de melhoria para a classe aqui no nosso estado?
AP:
Bem, aqui no estado a gente tem um alinhamento político com a presidente do Conselho. Lógico que, independente disso, pela oportunidade que eu estou tendo, como o menor estado da federação de presidir, o meu olhar para o meu estado é sem dúvida diferenciado. Conheço todas as dificuldades que o nosso Conselho tem, por já ter passado pela presidência, e a minha contribuição será no sentido de apoiar em todos os sentidos a gestão atual do Conselho Regional de Contabilidade de Sergipe, que é dirigido pela colega Maria Salete, para que ela faça uma excelente gestão, para que a gente busque mais espaços para o profissional da Contabilidade. Existem inúmeros desafios, muitas conquistas já foram comemoradas, mas ainda temos alguns espaços na sociedade que o contador precisa ocupar. Manter sempre esse relacionamento, esse respeito que hoje temos com as instituições, é fundamental. Apoiaremos integralmente o trabalho da nossa presidente para que ele seja bem sucedido. Hoje temos um Conselho muito bem estruturado. Na época em que estávamos na Vice-Presidência de Desenvolvimento Operacional, fizemos a construção de um auditório, reformamos. Temos uma estrutura física muito boa e hoje é manter a atuação e expandir naquilo que pode ser melhorado. Ah, outro ponto importante que foi trazido para o estado de Sergipe na gestão anterior, enquanto também estávamos na Vice-Presidência, foi o mestrado. A gente conseguiu trazer para o estado o primeiro mestrado em Contabilidade. A ideia é que a possamos, de repente, evoluir mais ainda nesse segmento e trazer novas turmas ou talvez até subsidiar algum programa de doutorado. O Conselho Federal trabalha nessa perspectiva de contribuir com os profissionais, dando um subsidio, um incentivo mediante processo seletivo, para que eles participem desses projetos que a gente denomina projeto excelência na contabilidade.