‘A Caminho do Céu’ mostra um novo jeito de ver a morte

 

Nunca se falou tanto sobre morte. O mal irremediável do nosso estranho destino sobre a terra ganhou marcas dolorosas e profundas com a pandemia de covid-19. E a cinematografia refletiu isso. Primeiro com produções caseiras de qualidade. Depois incluindo a quarentena na trama. A morte não é um personagem novo. Mas encontrar A Caminho do Céu, mesmo embebido de dor, foi uma grata surpresa.

Inspirada no ensaio de não-ficção Things Left Behind, de Kim Sae-byul, um dos primeiros auxiliares de trauma da Coreia, a série original da Netflix acompanha a vida de Geu-ru, um jovem com síndrome de Asperger. Após o falecimento precoce de Jeong-woo, seu pai, ele passa a ser tutorado por Sang-gu, seu tio, um ex-detento até então desconhecido para ele, que inicialmente só parece interessado nos bens materiais do sobrinho.

Além de se responsabilizar pelos cuidados do sobrinho, Sang-gu herda também o ofício do irmão de auxiliar de trauma. Com o filho, Jeong-woo coordena a Move to Heaven, uma empresa responsável pela limpeza de cômodos ou imóveis após a morte dos seus proprietários. A série dá a entender que o serviço é razoavelmente popular, mas o cuidado ofertado por pai e filho logo mostra como a Move to Heaven se destaca no mercado, e logo percebemos o motivo.

As sequências de limpeza pós-morte não deixam de lado nenhum elemento chocante e são o ponto alto da série. Há sangue, há restos mortais, mas há, sobretudo, sensibilidade. Guiado por trilhas sonoras clássicas, escolhidas por Geu-ru, o espectador passa a presenciar um ritual muito particular de respeito ao falecido. Ao mesmo tempo em que prestam um serviço de utilidade pública, pai e filho também se transformam em detetives, descobrindo a mensagem que cada morto guarda. E em cada episódio temos a chance de concluir esses quase sessenta minutos de capítulo com uma mensagem positiva diferente. É uma nova forma de se deparar com a morte, que nos parece tão abrupta.

Ao mesmo tempo, a parceria com o tio Sang-gu abre uma possibilidade interessante para o desenvolvimento dos personagens. E não só pelo passado até então desconhecido do tutor, mas pelo próprio Geu-ru. Outra personagem que merece destaque é Yoon Na-mu, a melhor amiga e vizinha do jovem protagonista. Ela dá o alívio cômico para a produção sem deixar de ser certeira nos momentos que pedem seriedade.

Fonte: Terra