Quero lembrar de você
A cada ano temos vivenciado um aumento na expectativa de vida da humanidade, mesmo em países em desenvolvimento como o Brasil. Vivemos mais, mas pagamos um alto preço. As doenças crônico-degenerativas tem sido cada vez mais comuns entre os idosos e há uma busca árdua por maneiras de barrar sua evolução. A doença de Alzheimer, também cada vez mais comum é uma delas. Convidamos essa semana, Dr.Wesley Soares da Cunha, médico pela Universidade Federal de Sergipe e neurologista clínico pelo IAMSPE em São Paulo para discorrer sobre essa doença que tem levado embora a identidade e a vida de tantas pessoas :
“ A Demência de Alzheimer é uma doença neurológica, degenerativa e progressiva, associada frequentemente ao envelhecimento. O que de fato acontece no cérebro de uma pessoa que desenvolve esta doença é algo, ainda, amplamente pesquisado e discutido entre os especialistas. Por enquanto sabe-se que a grande responsável pela demência é uma proteína presente em todos os seres humanos, a proteína beta-amiloide, que, por algum defeito na configuração, começa a se agregar e formar placas que se fixam nas células cerebrais e causam danos, incluído a morte do neurônio.
Diante dos fatos atuais, os cientistas, especialistas e grandes empresas farmacêuticas, buscam um tratamento para ajudar médicos, familiares e pacientes em tentar bloquear a progressão ou até reverter a doença. O último tratamento liberado para as demências foi em 2003, a memantina. Hoje, os neurologistas dispõem apenas de quatro substancias para o tratamento do prejuízo cognitivo nas demências: risvastigmina, donepezila, galantamina e memantina.
Mais recentemente está em estudo um novo tratamento para demência de Alzheimer que parece promissor, por ter a perspectiva de mudança no curso da doença, fazendo com que ela pare de progredir e, quem sabe, melhore a memória perdida. Isso é o que prometem os responsáveis por essa nova terapia imunobiólogica, as empresas Biogen e Eisai: “Se aprovado, o aducanumabe seria o primeiro tratamento a alterar significativamente o curso natural do Alzheimer” referem os pesquisadores.
A nova medicação, o Aducanumabe, é um anticorpo monoclonal que são proteínas usadas pelo sistema imunológico para identificar e neutralizar corpos estranhos, que podem ser bactérias, vírus ou mesmo células tumorais. Estas proteínas são específicas, pois elas reconhecem um alvo em especial, o chamado antígeno, que vai estar presente nas células estranhas ao organismo. No caso da demência de Alzheimer, o anticorpo vai agir sobre a proteína beta-amiloide, identificando e eliminando-a do organismo, protegendo assim o cérebro da ação deletéria destas proteínas sobre o neurônio, bloqueando a progressão da doença e provavelmente melhorando as funções cognitivas (memória, linguagem, juízo, autocrítica).
Mas devemos ter cautela com as novas medicações ou terapias que surgem, pois ainda estão em fase de testes clínicos e aguardando liberação das agências de regulação de medicamentos. Atualmente, o Aducanumabe aguarda avaliação e liberação para comercialização nos Estados Unidos, pois o FDA (agencia regulatória do país) reuniu-se com especialistas para analisar os dados apresentados pela empresa farmacêutica fabricante da medicação.
Os especialistas entenderam que não há evidencias consistente de eficácia da medicação e por isso não deveria ser liberado neste momento.
Foi marcada outra reunião para março de 2021 para analise dos estudos. E qual imbróglio? Além do aducanumabe, outros anticorpos monoclonais também estavam e estão em estudos, fases 2 e 3, mas não demonstraram os desfechos esperados (interrupção da progressão, melhora da memoria e raciocínio). E em especial ao aducanumabe, a empresa responsável interrompeu o estudo em março de 2019 por não atender as expectativas sobre os efeitos, mas, após alguns meses, os dados foram reavaliados e encontrado em um deles que a medicação poderia sim apresentar os efeitos esperados. Isso é o principal fato para a desconfiança dos especialistas que negaram a liberação pelo FDA.
O fato é que estamos assistindo à evolução das terapias para doenças neurológicas, degenerativas, com um futuro promissor, não muito distante.”
Seguimos torcendo. Até semana que vem !