Preços dos alimentos
Abordarei neste ensaio alguns pontos de atenção sobre a atual situação dos preços dos alimentos. A motivação para escrever sobre o tópico foi a partir da leitura de um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) que apresentou alguns informes relevantes sobre esta pauta.
De acordo com o FMI, os preços globais dos alimentos devem continuar subindo mesmo depois de saltar para um recorde em fevereiro, colocando o fardo mais pesado sobre as populações vulneráveis e aumentando os ventos contrários para a recuperação econômica global, conforme analisado por vários especialistas do órgão.
Os preços das commodities alimentícias subiram 23,1% no ano passado, o ritmo mais rápido em mais de uma década, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, ajustados pela inflação.
O estudo do FMI aponta que a guerra na Ucrânia e as sanções contra a Rússia estão suspendendo os embarques e possivelmente a produção de dois dos maiores produtores agrícolas do mundo. Os dois países respondem por quase 30% das exportações mundiais de trigo e 18% do milho, a maioria dos quais é enviada por portos do Mar Negro que agora estão fechados. Os futuros de trigo negociados em Chicago, a referência global, recentemente atingiram um recorde.
É lamentável saber, conforme o relatório do FMI, que os choques de preços terão impacto em todo o mundo, especialmente nas famílias pobres para as quais os alimentos representam uma parcela maior das despesas. Os custos dos alimentos representam 17% dos gastos do consumidor nas economias avançadas, mas 40% na África Subsaariana. Embora esta região seja altamente dependente da importação de trigo, o grão constitui apenas uma pequena parte das necessidades calóricas totais.
Esta situação dos preços dos alimentos na esfera mundial repercute no Brasil e, isto pode ser verificado conforme a última pesquisa da Cesta Básica de Alimentos realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), que é realizada mensalmente, os dados da pesquisa de fevereiro/2022, apontam o seguinte: o preço do feijão aumentou em todas as capitais. Para o tipo carioquinha, pesquisado no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, em Belo Horizonte e São Paulo, as altas oscilaram entre 1,81%, em Natal, a 10,14%, em Belo Horizonte. Já o preço do feijão preto, pesquisado nas capitais do Sul, em Vitória e no Rio de Janeiro, apresentou taxas entre 1,20%, em Vitória, e 7,25%, no Rio de Janeiro. Segundo o DIEESE, a baixa oferta do grão carioca e a redução da área plantada explicaram as altas de preço, mesmo com a demanda interna fraca. Em relação ao tipo preto, houve aumento da procura nos centros consumidores, o que elevou as cotações. Sobre o café, o preço do quilo em pó subiu em 16 capitais, exceto em São Paulo, onde houve redução de -3,86%. As altas mais importantes aconteceram em Goiânia (7,77%), Vitória (5,38%), Aracaju (5,02%) e Brasília (4,99%). Para o DIEESE, a preocupação com a queda do volume produzido na safra atual está causando impactos no preço do café nos mercados futuros, com reflexos também no varejo. Diversos outros produtos foram pontuados pelo DIEESE com viés de alta na pesquisa da cesta básica de fevereiro/2022, a exemplo do óleo de soja, que registrou aumento em 15 capitais; a batata, pesquisada no Centro-Sul, apresentou elevação de preços em todas as 10 cidades; o preço do quilo da manteiga aumentou em 14 capitais; a carne bovina de primeira teve o preço elevado em 14 capitais. Os principais aumentos ocorreram em Aracaju (4,75%), Brasília (3,69%), Salvador (3,37%) e Belém (3,20%).
Analisando a questão dos preços dos alimentos em Sergipe, com base em informações coletadas na Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe – EMDAGRO, com base no Boletim de preços médios recebidos pelos produtores da agricultura e da pecuária, podemos observar os seguintes destaques:
Agricultura – viés de alta na maioria dos produtos, apresentarei adiante os preços em reais de janeiro e fevereiro de 2022: Abacaxi, o cento (R$185,00 – R$213,33); abóbora de leite, a arroba (R$25,00 – R$ 45,00); acerola in natura, cx com 20Kg (R$27,50 – R$30,00); arroz em casca, sc de 60kg (R$56,25 – 62,49); arroz beneficiado, sc de 60 Kg (R$160,00 – R$ 180,00); banana prata, o cento (R$13,33 – R$15,75); batata doce, sc de 40Kg (R$34,50 – R$65,75); coco seco, o cento (R$106,67 – R$110,00); coco verde, o cento (R$45,00 – R$48,40); mamão hawai, cx de 25Kg, (R$25,50 – R$31,17); mandioca farinha, sc de 50kg (R$135,00 – R$148,89); mandioca raiz, tonelada (R$487,00 – R$518,64); maracujá para consumo in natura, cx 15Kg (R$26,58 – R$31,25): maracujá para a indústria, a tonelada (R$1.187,50 – R$1.300,00); quiabo, sc de 25Kg (R$45,00 – R$ 50,00) e tomate, cx de 25Kg (R$100,00 – R$150,00).
Pecuária – também viés de alta na maioria dos produtos, apresentarei adiante os preços em reais de janeiro e fevereiro de 2022: Bezerro até 1 ano, a cabeça (R$2.175,00 – R$2.240,00); boi magro, a cabeça (R$3.206,88 – R$3.347,33); carne ovina, a arroba (R$308,67 – R$313,00); frango de corte granja, o kg (R$8,96 – R$9,85); galinha caipira, o kg (R$17,11 – R$18,98); mel de abelha, o kg (R$25,17 – R$ 30,00); vaca descartada, a acebaça (R$2.670,59 – R$2.813,75); vaca leiteira comum, a cabeça (R$5.270,59 – R$5.318,75); vaca leiteira de raça com duas lactações, a cabeça (R$8.547,06 – R$8.562,50).
Vê-se, portanto, que entre de janeiro para fevereiro uma evolução de preços de diversos produtos, tato da cesta agrícola como da cesta pecuária, isto no preço recebido pelo produtor rural, o que significa que os preços de venda no varejo que é que influencia nas decisões do consumidor serão afetados com elevação nos valores praticados.
Destaco ainda que este viés de alta dos preços dos alimentos no Brasil está influenciado as vendas externas dos produtos agropecuários brasileiros, que segundo dados do Ministério da Agricultura, desde janeiro de 2019, o governo brasileiro abriu mais de 200 novos mercados para produtos da agropecuária brasileira. Mas também existe a preocupação que as exportações prejudiquem a busca da segurança alimentar interna e o fluxo de oferta que poderia afetar ainda mais, a elevação dos preços dos alimentos.