Por um ótimo começo
Dia desses eu estava retornando à minha humilde residência (conhece essa expressão usada para dar um tom de singeleza ao discurso? Nem sempre ela é simples de verdade, viu?!), feliz da vida, após terminar mais uma aula bem proveitosa de Literatura ministrada lá na cidade de Lagarto. Aula no Pré-Universitário do governo, escola pública. Voltava extasiado (como sempre volto) devido à participação efetiva dos alunos, com sede de saber, olhos fixos e atenção 100% no que é dito.
Para quem não sabe, ver os discentes (conhece essa palavra?) interagindo é um troféu para o professor vocacionado, é um gol de final de campeonato, é beber a última Coca-Cola do deserto acompanhada do último pacote de biscoito. Ter turmas assim interessadas não têm preço. É o sonho de quem nasceu para ensinar.
Você pode até achar que estou exagerando, romantizando um fato corriqueiro, mas não estou. Um olhar mais focado no ensino público dos últimos trinta anos vai desvendar, com muita clareza e facilidade, que houve deterioração da qualidade de quem estuda, acompanhando um processo de destruição da imagem do professor, que foi, ao longo do tempo, vilipendiado (a palavra é bonita, mas seu significado é triste), desmotivado, execrado, cancelado e muitos outros –ados da vida que jogam para baixo do limbo a vontade de novos docentes vocacionados surgirem com fervor.
– Rapaz, como você exagera!
Exagero? Pergunte às pessoas mais próximas a você, que estão em idade de realizar o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, se querem ingressar na carreira de professor. Vão dar uma “carreira” (eu não poderia deixar de fazer o trocadilho!) para bem longe e dizer um sonoro:
– Deus me livre!
Infelizmente, entrar na vida do magistério tem sido opção de quem não consegue adentrar outros recantos profissionais. Não acredita em mim? Faça outra pesquisazinha no meio de sua convivência. Tudo bem que esse contexto não se aplica a 100% dos profissionais. Eu também não saberia precisar esse percentual.
Contudo, pelo que tenho presenciado, há muito ingresso de segunda opção 9ou terceira…). Diria até que há mágoa pela estrada que construíram para nós. Eu nem vou falar do aumento que foi aplicado em Sergipe. Realmente, aplicaram (mais um jogo de palavras…)…
– Professor André, é possível reverter essa situação?
É sim. Pode levar uns vinte anos ou mais. Ações efetivas, marketing, valorização, a volta do respeito pela profissão e seus profissionais, melhoria salarial, condições de trabalho… e um pergaminho inteiro de outras ações poderiam, talvez, começar uma nova versão deste profissional, que tem lugar cativo dentre as mais importantes da humanidade.
Mas melhorar a qualidade do aluno já seria um ótimo começo!