O caminho do sacrifício

À medida em que rumamos à Páscoa do Senhor, somos convidados a inserirmos-nos no mistério do ápice da vida de Jesus na terra, em meio aos homens. Não devemos ficar estáticos diante da grandiosa profundidade que a nossa Redenção comporta, pois ela é a Aliança irrevogável entre Deus e a humanidade que, em Cristo, encontra-se restaurada. 

Recordando do dom de Deus no Filho para a Nova Aliança, observando a história de Abraão, de sua fé e obediência, sabemos da promessa que fez Deus: o unigênito de Abraão era potencial de um povo (cf. Gn 15,5). Isaac, figura do Cristo, é conduzido ao monte por Abraão; Jesus, ao contrário, não é conduzido, mas vai, livremente, a Jerusalém para sofrer, morrer e ressuscitar. No caso de Isaac, ele é levado ao Monte Moriá, cujo nome significa “visto por Deus”; Jesus ascende ao Calvário, “lugar da caveira”, para apresentar-nos puros a Seu Pai. Se Isaac, silenciosamente, leva a lenha do seu sacrifício às costas (cf. Gn 22,6), Jesus, sem nada pronunciar, levará o lenho do Seu sacrifício redentor. Se Isaac é figura do Cristo, Abraão é representação de Deus Pai que, a partir da Cruz, oferece o seu Filho “o amado” (cf. Mt 3,17; 12,18; 17,4; Mc 1,11; 9,7; Lc 9,35). Isaac, o amado de Abraão, não morre; Jesus, o Amado do Pai, entrega-Se e dá a vida. Isaac iria ser sacrificado como aliança que, embora não fosse eterna, iria abarcar toda uma posteridade numerosa: os filhos de Abraão; Cristo foi sacrificado de uma vez por todas como Aliança Nova e Perpétua para integrar, em um só povo, uma multidão incomparável: os filhos de Deus. Isaac, enquanto sinal de Cristo, cessa aí. A partir da interrupção do anjo, ele não mais prefigura Jesus, mas há uma transferência de figura, agora será o carneiro que, oferecido em holocausto no lugar de Isaac, é sinal do Cristo, cujo sangue redimiu a humanidade, aproximando-a, em Aliança irrevogável, a Deus.

No desfecho desta passagem do Gênesis, temos mais uma vez a promessa que Deus faz a Abraão: “Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra, por que me obedeceste” (Gn 22,18). Não é por Isaac que o Senhor abençoará, mas é Cristo que, descendente de Abraão enquanto carne (cf Mt 1,2), é a bênção de Deus, não somente para o povo judeu, mas para toda a humanidade, representada pelo termo “todas as nações da terra”. É por Ele que somos presenteados com toda a sorte de dádivas e bênçãos do céu (cf. Rm 8,32).

Enquanto não nos chegam as maravilhas da eterna glória de Deus, realização plena das promessas que a Nova e Eterna Aliança nos embute, sigamos Cristo Sofredor, com o olhar esperançoso na Ressurreição, sigamos em frente em meio aos desafios e sofrimentos que a vida pode nos apresentar. 

Autor

Pe. Everson Fonseca

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