Nunca fica doce
Dia desses eu estava lembrando dos meus tempos de escola, das várias escolas onde estudei, dos inúmeros colegas que fiz na trajetória de anos de estudo, das minhas reprovações (duas vezes), do pular do muro pra ir lanchar em casa e mentir pra minha mãe dizendo que o porteiro me deixava sair.
Ops, vou parar aqui pra aprofundar a história. Essa mentira teve perna curta. Dona Salvelina foi ao colégio e perguntou ao porteiro se ele me liberava pra ir lanchar. Não teve parceria. O porteiro, no exercício da sua função, fez uma delação que me rendeu como prêmio uma surra alvoroçada. Nem fiquei triste. Sabia que tinha errado e aquilo era apenas consequência da minhas fuleiragens de criança. O couro doía, mas a consciência estava tranquila porque havia me livrado de inverdades que não dizia à minha “veinha”.
– E por que cargas d’água você pulava o muro, André?
Tantas respostas pra essa pergunta. Uma delas: não gostava da comida (quando era servida) da escola. Às vezes rolava um mingau amarelo. Os caras diziam que era catarro. Aí, iguém queria saber daquilo porque havia associação direta à secreção amarelada. Aí eu pulava o muro pra pegar um pão com queijo em casa e um suco topado de maracujá. Quem não faria o mesmo.
Ah, eu também pulava só pra me sentir “adulto’. Quem conseguia saltar o muro pelo fundo era tido como um herói às avessas. Toda aventura para nós, naquela idade, era história pra contar. Quem não gosta de uma história pra contar? Aí eu pulava o muro para virar um Ulisses na volta pra casa.
Eu também “fugia” quando estava querendo um pouco de sossego. Nunca entendi essa vontade de ficar sozinho às vezes, sem ouvir ninguém. Vez em quando ficava somente ali, sentado no muro, olhando a paisagem, as pessoas na escola e tentando entender o sentido daquilo tudo.
Acredito que esses instantes já era a poesia brotando em forma de pensamento e eu ainda não sabia traduzi-la em forma de palavras. É, tudo tem sua hora. Não adianta a gente querer amadurecer antes do tempo. Nunca fica doce.