Não vivo sem mim

Dia desses eu estava meio que Alice no país das maravilhas: conversando com coelhos, lagartas e chapeleiros. Só que, no meu caso, eu era minhas próprias personagens. Calma, não se preocupe. Não sou esquizofrênico. É que, às vezes, é bom puxar conversa com os botões e ver noque tem dentro.

E nessa “viagem ao fundo do ego”,  foi que me peguei pensando nessas crônicas que tenho escrito e aqui publicado. Refleti sobre os assuntos e percebi quanto meu conteúdo tem sido voltado pras coisas da infância, pra momentos de quando era apenas um menino de olhos verdes saltados.

– Será que estou sem assunto?

Tanta coisa acontecendo, e eu preocupado com o barulho do trem na Avenida Rio de Janeiro ou as cerejas dos primeiros raios da manhã. Mísseis na Ucrânia, Biden nos EUA, assassinatos de crianças via aborto liberados na Colômbia, só miséria, e eu pensando nos meus oito anos no melhor estilo Casimiro de Abreu? Acho que tem algo errado!

Ou não. Talvez sejam mecanismos de fuga dessa realidade tão hedionda que a gente vive? Pode ser. Não estamos muito certos do que vemos. Então é melhor nós pautarmos onde nosso coração se sente seguro.

Foi aí que, no emaranhado dessas reflexões, percebi ainda mais o valor das coisas mínimas, dos cheiros, sabores, sons e sorrisos. Intensifiquei o meu suspiro por aquilo que me fez ser quem sou, as pessoas que me construíram, as que me fazem bem. E levemente sorri. Com uma leveza que toma a alma.

Daí concluí que não há nenhuma esquizofrenia, ambiguidade de Smeagol (conhece O senhor dos anéis?) ou qualquer traço de personalidade dual. Apenas foi mais um encontro comigo mesmo e a constatação de que não vivo sem mim.

Autor

André Brito

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