João Ribeiro, o brilhante erudito

João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes é daquela rara safra de intelectuais sergipanos que despontaram além-fronteiras. Homem de extensa sabedoria, nasceu na fecunda Laranjeiras, nossa Atenas sergipana num dia 24 de junho do ano 1860. Era filho de Seu Manuel Joaquim Fernandes e de Dona Guilhermina Rosa Ribeiro Fernandes, pais que se dedicavam de corpo e alma pela sua base educacional. Terminou seus primeiros estudos na sua seara local, mudando-se para Aracaju onde acabou sendo aceito no prestigiado Colégio Atheneu Sergipense.

Matriculou-se na Faculdade de Medicina de Salvador, onde notou que não era vocacionado. Depois ingressou na Politécnica do Rio de Janeiro e lá estuda de maneira simultânea várias disciplinas, dentre as quais: arquitetura, pintura, música e uma cornucópia de seivas literárias, em específico, a filologia. Essa fascinante área o deixou arrebatado, sendo filólogo dos mais referenciais. Dedicou-se como poucos ao jornalismo, ao magistério, tendo trabalhado no clássico Jornal O Globo fundado por Quintino Bocaiúva.

Viajante nato, foi por duas vezes à Europa sob a função de desempenhar missões oficiais. Representou o Brasil no relevante Congresso de Propriedade Literária, realizado em Dresden e a segunda estação foi no dever de atuar como assessor da delegação sob a então presidência de Joaquim Nabuco, encarregada das barganhas da antinomia anglo-brasileira na nevrálgica questão da Guiana. Personagem exponencial na época da fundação da Academia Brasileira de Letras, João Ribeiro foi eleito logo na primeira oportunidade, por conta da sua amplificada obra.

Na sua prolixa carreira, podemos enfatizar seus livros didáticos, gramáticas, antologias e compêndios. Exemplos: “História do Brasil”, “O Folclore: Estudos de literatura popular”, “Floresta de Exemplo”, “Cartas Devolvidas” dentre outros. Além desses, notabilizam-se também os excelentes estudos de filologia e ensaios dos mais diferenciados. Foi um dos primeiros a assinalar a questão marcante da contribuição dos indígenas e da população africana trazida ao Brasil na formação cultural do país. João Ribeiro faleceu no Rio de Janeiro num dia 13 de abril do ano 1934, depois de passar nove anos escrevendo crônicas, ensaios, e crítica arguciosa para o Jornal do Brasil.

Por concurso público, trabalhou na Biblioteca Nacional, e depois no prestimoso Colégio Pedro II, na cadeira de Português. Como estudioso da filologia, é bom que se registre que João Ribeiro teve papel decisivo nas reformas da própria língua nacional. Estudou pintura na Europa e expôs seus quadros, mas como bem sabemos, foi mesmo no jornalismo e na literatura que se realçou como essa briosa figura que retratamos aqui. Chegou a ir para Alemanha em 1895 para analisar novas teorias sobre o folclore. Foi ele quem ministrou o primeiro curso de Folclore na eminente Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Seu nome é alçado à Casa de Cultura em Laranjeiras, fundada no dia 09 de agosto do ano 1974 sendo instituição cultural de relevo além-fronteiras.

Já dizia ele que: “Os homens de pouca alma são práticos, ativos, rápidos e amigos da experiência. Os de muita alma são naturezas indecisas, platônicos, inúteis e incapazes de perceber as conveniências próprias”. Eis um epítome de muita alma entre nós, seus conterrâneos. Homem conciliador, deixa legado de visão humanística e apaziguadora. Um genuíno mestre, àquele que enxergava nos sinuosos bosques da vida a inerente sabedoria. Não à toa Sergipe na segunda metade do século XIX era conhecida como a pátria dos poetas com o devido louvor.

Autor

Igor Salmeron

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