Eleição em Sergipe: analisando um oposicionista
Anderson Christian
christianjor@gmail.com
A coluna aproveita para informar aos seus leitores e leitoras que essa série, Eleição em Sergipe, é uma das coisas mais legais de fazer por aqui. Mas, veja bem, a principal razão dessa satisfação confessa na produção desse tipo de conteúdo em momento algum resvala, nem de longe mesmo, num suposto domínio do processo eleitoral vindouro, ou de alguma capacidade premonitória e coisa e tal.
Na verdade, o que deixa o colunista mais feliz nesta série é que ela se trata de uma “obra em aberto”. Explicando: todas as análises realizadas até este momento, quando a coluna deu uma geral nos nomes da base governista que almejam candidatura a governador, quando falou sobre um nome, o do senador Rogério Carvalho (PT), que pode tanto ser candidato pela situação, como pela oposição, ou ainda quando fez um apanhado das disputas governamentais sergipanas nas últimas quatro décadas, o colunista partiu de premissas efetivas, como nomes possíveis, resultados ocorridos e fatos relevantes na história política do Estado e daqueles que passaram por esta série até o momento.
Só que um cuidado sempre foi tomado pelo colunista: aqui não se vaticina nada, não se impõem verdades absolutas e nem se descarta a mudança de cenário mais à frente – aquela história da “política é como nuvem”, conforme o leitor e a leitora mais atentos devem lembrar. E a opção por esse tipo de condução nestas análises se baseia na mais simples e absolutamente verdadeira premissa: o fator tempo!
Faltando 15 meses para a eleição, mesmo sendo o mais abrangente possível na análise dá para dizer que o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), é a opção definitiva do governador Belivaldo Chagas (PSD) dentre os possíveis nomes da base governista à sua sucessão? Dá para definir em Rogério uma posição clara entre situação e oposição nesse momento? Dá para garantir que as eleições de 22 repetirão as últimas e uma força oposicionista, sem a benção do atual governo, não terá chance alguma de vencer? Ora bolas, claro que não, né?
Por isso que, a partir de agora, na análise específica do nome do oposicionista declarado e que, ainda que não declaradamente candidato, deve buscar, sim, a vaga de governador em 2022.
Trata-se do senador Alessandro Vieira, que manteremos, para efeitos analíticos, ainda no Cidadania – e, suma ironia, já nessa questão partidária há o tal “fator tempo” que a coluna cita como componente crucial do que poderá ou não acontecer, né isso?
Então, comecemos pelo começo! Alessandro Vieira foi o senador mais votado em 2018 e ponto. Mas o colunista revela que já ouviu muita gente boa da política atribuir essa vitória incontestável, além de surpreendente para muitos, ao fato de que Alessandro foi o pedido de segundo voto de praticamente todos os demais concorrentes ao cargo naquele ano, quando estavam duas vagas no Senado em disputa.
Ok, levemos em consideração essa tese. Acontece que esse fenômeno do pedido de segundo voto ser para outrem que não o companheiro de chapa senatorial não é uma novidade em Sergipe. Em 1994, ainda que de maneira muito menos ostensiva, algo similar aconteceu, quando o então senador eleito, José Eduardo Dutra (PT), saiu de mero figurante a vitorioso. Naquela eleição, o primeiro colocado para o Senado, Valadares, pedia o segundo voto para Eduardo, seu companheiro de coligação. Mas no agrupamento governista, com Lourival Batista e José Carlos Teixeira, ambos de saudosa memória, a luta interna acabou viabilizando muitos pedidos de segundo voto para… Eduardo Dutra! O outro candidato, Francisco Gualberto, não teve companheiro de chapa e nada mais natural do que liberar o segundo voto para o petista. Resultado: Valadares em primeiro, com 271.171 votos, e José Eduardo Dutra, em segundo, mas devidamente eleito, com 184.225 votos.
Cortemos para 2018: se a atribuição ao pedido de segundo voto pelos demais candidatos para Alessandro for encarada como razão única da sua eleição, ainda assim ele se sai como um fenômeno. É que, no resultado final, e ao contrário do exemplo dado de 1994, foi o tal do “segundo voto” que venceu como primeiro colocado a disputa pelas duas vagas senatoriais, pois Alessandro teve 474.449 votos e Rogério, eleito em segundo, 300.247. Portanto, insistir na tese de que Alessandro só se elegeu por conta do pedido dos concorrentes para ele fosse o segundo voto do eleitor é uma tese que, matematicamente, pouco se sustenta.
Numa outra frente, há quem argumente que o senador se elegeu graças a onda bolsonarista. É uma meia verdade: Alessandro, obviamente, se beneficiou da onda “armamentista”, “policialesca” ou outros termos menos cotados que, em 2018, surfou a onda maior, a do “combate a corrupção”. Nessa onda, muitos foram eleitos, inclusive Alessandro, sim, e também o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Mas, para desmistificar essa coisa do “eleito na onda bolsonarista”, o senador por Sergipe foi candidato pela Rede, cuja candidata a presidência foi Marina Silva. Dá pra ser mais antagônica a Bolsonaro do que Marina é?
E para encaminharmos os “finalmentes”, além dessas duas argumentações anteriores citadas, de segundo voto e de surfar onda alheia, outro senão que muita gente boa na análise política impõe sobre as chances de Alessandro se destacar na disputa pelo governo no ano que vem diz respeito ao fato dele “não ter grupo”. Pera lá, gente, é sério esse tipo de argumento? Porque, na mais absoluta sinceridade, quem é que, em Sergipe, possui grupo político com força estadual sem estar no comando do… governo estadual?
Expostos esses pontos, a coluna avalia que nenhum deles representam impeditivo considerável no sentido de impedir as chances eleitorais de Alessandro para o governo em 22. Mas, modestamente, o colunista entende que as dificuldades que o senador deve enfrentar para, primeiro, impor uma candidatura viável e, segundo, ter reais chances de vitória na disputa pelo governo estão exatamente no senador e no seu mandato.
Não, não se trata de nada grave, ou de falhas comportamentais ou éticas que comprometam a ele ou ao seu desempenho no Senado. A questão é que Alessandro, por características pessoais mesmo, é introspectivo, o que dificulta uma clareza, uma maior objetividade em relação aos seus intentos e aos seus feitos. Mas aí se trata de um traço de personalidade, não necessariamente de um defeito. Já em relação ao mandato, talvez agora, com os holofotes que a CPI da Pandemia têm direcionado a ele, talvez suas ações fiquem mais compreensíveis para o todo da população.
Mas, mesmo com essas questões mais pontuais que têm dificultado Alessandro quanto a popularização de seu mandato, considerar que ele é carta fora do baralho nas eleições para governador no ano que vem é um erro estratégico grave da parte de quem pretende ir as urnas no ano que vem. Aliás, esse mesmo erro já foi cometido em 2018. E o resultado está aí, com Alessandro Vieira senador! Simples assim!