É COVID outra vez
Ansiosos por comemorações e festas de final de ano, parece que o que nos espera não é a festa de um novo Natal mas sim um novo aumento de casos de Covid19 em Sergipe. Assistimos outras capitais passando por esse aumento nas últimas semanas e imaginávamos que poderia acontecer aqui também. Aconteceu e mais rápido do que pensávamos.
Saindo de uma história dramática de aumento de casos com o tão desejado achatamento da curva nos deparamos com uma sociedade ávida por retomar suas atividades profissionais e de lazer de forma normal em um momento nada normal. Somado a necessidade física de sair do confinamento, o período eleitoral foi uma aberração a qualquer orientação sanitária de contenção do novo coronavírus. Festas, shows, churrascos, comícios, máscaras no queixo, nas mãos, vimos de tudo.
Aeroportos lotados sem medidas de afastamento e higiene adequados, aglomerações absurdas e orientações sem sentido foram rotina dos viajantes nos últimos meses. Na sala de espera do embarque não pode sentar lado a lado, mas no avião pode. Durante a viagem é obrigatório o uso de máscaras, mas para comer e beber água é permitido tirar. Até parece que o coronavírus tira folga enquanto ficamos sem máscara para comer. Nunca antes presenciei tamanha falta de sentido em orientações e ações de bloqueio epidêmico. Na prática não bloqueamos nada, fizemos um convite ao vírus para entrar, e ele aceitou.
Cobertura hospitalar
Já na primeira “onda” ficaram claros nossos limites de oferta de leitos de internação e leitos de UTI para os casos graves. Houve uma grande mobilização com abertura de hospitais de campanha com pouca estrutura e leitos de UTI sem capacidade real de operacionalização. Parece que a experiência não trouxe sabedoria. Tivemos um grande pico de demanda hospitalar em um cenário onde havia isolamento social. Atualmente, com a curva crescendo outra vez e a grande população na rua podemos pensar que nas próximas semanas viveremos um caos nunca antes visto. Podemos esperar que somente a fé resolva ou podemos entender a potencial gravidade da situação e tomar ações sólidas para tentar atenuar o drama.
A vacina
Sim, a vacina é a grande esperança da sociedade e dos governantes. Ela já está sendo aplicada em massa em alguns países como Reino Unido, Rússia, China e Emirados Árabes mesmo sem eficácia comprovada, mas com dados animadores. Por aqui o cenário é bem diferente. Além da guerra contra o vírus há uma guerra política que burocratiza qualquer ação no sentido de trazer a vacina para o Brasil. A entrada da vacina depende da validação da ANVISA cuja agilidade e competência tem sido questionada pela comunidade científica atrelada a processos de vacinação. Outro grande ponto é o plano, ou a falta dele. Publicado recentemente, já criou polêmicas. São quatro fases de vacinação abrangendo populações específicas e foi altamente criticado por especialistas. Entre negociar a vacina, ter a aprovação dos órgãos responsáveis, desenhar a logística de aplicação e a população receber propriamente a imunização há uma grande lacuna.
Enquanto isso
Enquanto o governo não se organiza para conseguirmos um plano de vacinação resolutivo, seguimos completamente expostos a COVID19. Poucos dados existem sobre reinfecção e podem ser questionados pela baixa qualidade dos testes aplicados que sabemos que trabalham com uma grande porcentagem de falsos negativos e positivos. A enorme maioria da população ainda não foi exposta nem infectada, não há “imunidade de rebanho “que possa bloquear o avanço da epidemia. Seria necessário que 70% da população fosse infectada e desenvolvesse anticorpos para que isso acontecesse, e seria às custas de milhares de mortes.
Precisamos urgentemente entender que aglomerações devem ser evitadas, que o melhor lugar para estar é em casa sempre que possível e que medidas sanitárias sejam rígidas. As festas de final de ano estão chegando e sem essa consciência, já começamos 2021 com o pé esquerdo e vamos sentir saudades do ano bizarro que foi de 2020. Atente-se. Até semana que vem.