De telefone e de telefonemas

O telefonema pousou no meu celular, numa época em que o número de quem chamava não aparecia. Atendi. O nome da pessoa, a quem o telefonema era dirigido, foi a primeira verdade surgida. Não era para mim. Mas, resolvi entrar na conversa, sem que a interlocutora, do outro lado, se alertasse para a diferença de voz. De logo se revele: era uma mulher. Deveria ter tido um encontro em dia anterior e buscava um novo. Na suma do diálogo, eu a pegaria no mesmo local de ontem, iríamos para o mesmo lugar, e faríamos tudo o que tínhamos feito na vez. Tudo igual. Começou e terminou aí. Mais não apurei.

O meu número deveria ter um ponto em comum com o da outra pessoa, porque, em outro dia, perto do almoço, atendi a novo telefonema. Voz de homem. Perguntou pelo cidadão. O mesmo nome, aliás. Respondi que tinha ido a Propriá, numa pressa tão danada que deixou o celular. E o motivo da pressa? Ora, a avó morreu. O cidadão reclamou, dando a entender que o titular, digamos assim, não era de cumprir a palavra. Passou. Não fui mais incomodado. Depois ocorreu no telefone fixo. Voz de mulher. Perguntava por outra, que, acredito, era irmã e solteira ou viúva. Ao ouvir minha voz, queria saber o que eu fazia ali na casa da irmã. Estava preparando a farofa, a salada, cozinhando o arroz, porque a dona da casa, a procurada, tinha ido a um supermercado comprar um galeto. A mulher tornava a perguntar se eu estava mesmo lá e sozinho. Claro, minha amiga, senão como poderia atender o telefone. Não sei como a irmã, depois, se saiu para explicar a minha fictícia presença em sua casa.

Ainda ao tempo do telefone fixo, atendendo uma ligação, antes da pessoa falar, anunciei que era do Palácio Episcopal, o Senhor Arcebispo falando. A pessoa desculpou-se, foi engano, e, eu, aproveitei para pedir calma, a fim de que eu pudesse lhe dar a abençoa, e eu o fiz em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

O telefone fixo perdeu espaço. O celular tomou conta, e por ele recebo cobranças de débitos, ameaças de lançar meu nome no Serasa, mensagens falsas em nome de entes públicos. Não respondo. De problema, basta a pandemia que há dois anos debulha mortes e enche o saco.

Autor

Vladimir Souza Carvalho

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