Brilha a cruz
Com tanta informação, podemos dizer – e com razão – que o mundo está sinalizado. Muitos são os sinais propostos na atualidade. E, para nós, seguidores de Jesus, não necessitamos de outros, basta-nos um: o signo, o sinal da cruz; que, muito mais do que uma imagem dentre tantas presentes no arcabouço significativo da nossa atualidade, é realidade de vida e de salvação.
Do Apóstolo dos Gentios, Paulo, temos a constatação: “os judeus pedem sinais milagrosos, os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos. Mas, para os que são chamados, tanto para judeus como gregos, esse Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Cor 1,22-24). Repito: como cristãos, marcados na fronte com a cruz de Cristo desde o dia em que recebemos o Santo Batismo, esta [a cruz] não deve ser um sinal dentre tantos, mas o único. Com a sua força, a cruz afugenta o demônio, e o fez, de uma vez para sempre, desde quando Deus foi “destruído” no templo do Seu corpo humanado, mas ressuscitou ao terceiro dia, como o Senhor prediz no Evangelho (cf. Jo 2,13-25). E de símbolo de derrota, a cruz, por causa Daquele que ela sustém, brilha invicta e gloriosa.
Para andarmos no seguimento Daquele que a dotou com o Seu poder, é preciso o discernimento necessário para, em meio às conturbadas informações deste tempo presente, reconhecermos e seguirmos as suas lições. Sim, a cruz nos oferece graves e belas lições: de sofrimento, de resignação no Senhor, de esperança, de amor, de fé… O cristão que deseja aprender dos seus ensinamentos deve reconhecê-la, indubitavelmente, com aquele outro atributo adjetivado por São Paulo: o Cristo Crucificado é sabedoria de Deus. Caminhando atrás do Cristo crucificado e ressuscitado, o fiel sabe que nada acontece por um acaso, ou por azar, tampouco castigo pessoal, mas é consentido por Deus, na Sua inefável sabedoria, para que a força de Sua divina vontade resplandeça.
Infelizmente, muitos cristãos, não honrando a cruz do Senhor – e, portanto, o seu poder e a sua sabedoria –, agem como os judeus, exigindo sinais, e sinais milagrosos; pensam como pagãos, achando que a cruz é loucura. Não sabem ou se esquecem de que o santo sinal do Senhor é o nosso essencial distintivo. E, desde aquela Sexta-Feira Santa, com o corpo do Senhor nela estirado, passando pelo pascal Domingo, até que Ele volte, com as Suas chagas gloriosas, a cruz participa, intrinsecamente, do nosso ser, da nossa fé. A vida da cruz é a prática da Santa Igreja de Cristo, que, diariamente, a celebra na Eucaristia, oblação incruenta do Senhor crucificado. E quantos são os que buscam um cristianismo diferente da cruz do Senhor?! Querem parar de sofrer, de carregar a cruz como participação daquela única redentora. Agindo assim, não demonstram a valentia da fé, a temperança do testemunho, do martírio da cruz, a nobre ousadia de pormo-nos “sob a poderosa mão de Deus” (Tg 4,10), mão ensanguentada porque crucificada. Quantos dizem propagar a fé cristã, mas fazem das palavras de Jesus comércio, barganha, prometendo uma vitória sem a vivência da cruz de Cristo em suas próprias existências. A estes, Jesus lhes diz, com um olhar de reprovação, inquirindo à conversão: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo 2,16); por casa do Pai, entendamos tudo aquilo que a mensagem do Evangelho inspira como santo, verdadeiro, nobre, inegociável.
Se o máximo portento realizado pelo Senhor foi a nossa salvação, por que ainda duvidarmos? Por que fazer da fé conveniência, interesse? Testemunhemos o Crucificado de maneira generosamente gratuita, ainda que Ele não precise do nosso testemunho. Porém, façamo-lo porque, somente assim, a nossa vida será frutuosa, como frutífera é a cruz do Senhor.