Alina Leite Paim, por um mundo mais justo
Escritora das mais talentosas, Alina Paim é, infelizmente ainda, figura desconhecida entre os sergipanos. Nascida em Estância num dia 10 de outubro do ano 1919, filha de Seu Manuel Vieira Leite e de Dona Maria Portela de Andrade. Sua alumiada obra chegou a ter prefácio e elogios de vultos como Graciliano Ramos e Jorge Amado. Marcada por trôpega infância, perdeu a mãe muito cedo vitimada por tuberculose, sendo criada na cidade de Simão Dias por três tias, tendo que conviver num sistema educacional intransigente e ríspido.
Estudou na Escola Menino Jesus e no Grupo Escolar Fausto Cardoso onde recebeu formação religiosa. Alina Paim foi aprovada no ano de 1932 no primeiro ano do curso fundamental em Salvador, especificamente no Colégio de freiras Nossa Senhora da Soledade. Desde tenra idade, Paim teve forte inclinação para defesa dos direitos das mulheres em geral. Na seara doméstica, contraiu matrimônio em 1943 com o médico baiano Isaías Paim com quem conviveu por quase cinco décadas. Paim, ao longo do tempo, se mostrou daquelas personagens que colocaram sua arte a serviço da população.
É importante registrar que Alina Paim já havia começado a escrever contando 12 anos de idade no jornal do colégio Nossa Senhora da Soledade até a época em que se formou professora. Lecionou em Salvador numa escola pública em área empobrecida, nesse sentido, conheceu de perto as mazelas sociais, a miséria das crianças e as dificuldades que paralisam a educação brasileira desde a década de 30. Foi amiga próxima de Graciliano Ramos, o mesmo chegou a fazer correções dos seus três primeiros romances. Conflitos familiares fizeram Paim ficar num stress muito alto, e foi nesse momento que chegou a ser internada num sanatório.
No sinuoso período do regime militar acabou sofrendo perseguições e ficou sob os auspícios das mais variadas pressões, inclusive judiciárias. Profícua literata, realizou colaborações importantes em inúmeros jornais. Escreveu dez romances e quatro livros infantis, com destaque para alguns deles que acabaram sendo editados em países como a Rússia, China, Bulgária e Alemanha. Suas reluzentes obras se observarmos com o devido afinco, estão repletas de personagens que defendem a feminilidade e que, sobretudo, digladiam por um mundo mais equânime.
Podemos realçar obras como: “Estrada da Liberdade” do ano 1944 e “A Correnteza” de 1979. Nelas, as batalhas das mulheres estão caracterizadas de maneira notória no quesito de propor ambiência mais justa e pela implantação eficaz de um regime democrático. Ao analisar seus escritos, percebemos verve artística bastante aflorada, permeada por sísmica intuição e sensibilidade. Nós, como seus leitores, acabamos sendo conduzidos a mundos alternativos, isto é, temos mulheres trabalhadoras e descrições bem arquitetadas no que se refere ao Nordeste campesino. Paim foi militante do Partido Comunista do Brasil e das causas feministas.
Muitos confirmam que o seu ‘cancelamento’ é arbitrário, devido ao seu envolvimento com o socialismo. Alina Paim era figura que desagradava ao governo pelas suas posições consideradas ofensivas na época auferida. Conclui-se que Paim foi lutadora incansável pelos direitos não apenas das mulheres, mas das pessoas em seu todo, na sua mais altiva completude. A sergipana gloriosa não fica atrás de escritoras célebres exemplificadas em acadêmicas como: Clarice Lispector, Lygia Fagundes Teles, Raquel de Queiroz dentre outras avultadas. Faleceu num dia 1º de março do ano 2011, aos 91 anos.
Alina Leite Paim para sempre fulgura entre as melhores romancistas da sua geração!