A semente, a terra, o crescimento e o fruto
Simples é a proposta do Reino de Deus e a sua mensagem de vida e de salvação. Um Reino, uma realidade de natureza elevada, mas, simultaneamente, acessível à humanidade. Prova disso está na atividade missionária de Jesus como preparatória para a Sua ação salvífica.
Recordemos do conceito oferecido por São Paulo: “O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e gozo no Espírito Santo” (Rm 14,17); ou ainda: “o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em atos” (1Cor 4,20). Também São Marcos (em quem vamos nos deter) frisa que “Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas […], conforme eles podiam compreender” (Mc 4,33), porque, diante da simplicidade de Deus, somente os humildes, a quem são revelados os mistérios do Reino (cf. Lc 10,21; Mt 11,25), abstrairão a sua proposta da mensagem anunciada por Jesus.
Utilizando uma linguagem agrária, compreensível a todos (cf. Mc 4,26-34), o Senhor trata de como, universalmente, as sementes do Reino são lançada aos corações, e, após um custoso processo que exige paciência, “a semente vai germinando e crescendo” (Mc 4,27). A esta germinação e crescimento, ações da semente da Palavra do Reino em nós, podemos dar o nome de conversão, que nos vai modelando, conformando-nos às exigências de Deus. Adequação que acontece paulatina e sutilmente, pois a conversão sincera não é instantânea, e, por vezes, conta também com os revezes da nossa fragilidade associada ao pecado: é quando regredimos, tendendo a mirrar, a murchar. Mas, o agricultor, que lança generosamente as sementes, tem paciência e cuida do seu roçado na terra do mundo, na “cova” do nosso coração.
Mesmo germinando e crescendo, a semente, que vingou em nós tornando-se planta altiva, frondosa e vistosa, frutifica. A planta nunca para de desenvolver-se para frutear. Mas, na continuidade do seu desenvolvimento, os seus rebentos aparecem e são alvissareiros, porque, direta ou indiretamente, apontam para a dinâmica de sua vida, onde alguém lançou a semente, testemunhando a bondade de quem a fez. No caso da parábola, de acertos em acertos, neste processo de conversão, de crescimento à luz da graça, somos chamados a dar frutos com o nosso reto agir, de maneira que aqueles que os percebam, vendo as boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus (cf. Mt 5,16), porque reconhecem a ação do Divino Agricultor e a nossa docilidade em acolher a semente da Sua Palavra, permitindo que o Reino e os seus valores cresçam em nós, e, neste nosso crescimento, atraiamos muitos para o que Deus nos fez.
A Virgem Santíssima é o maior exemplo inequívoco de como este processo de implantação do Reino em seu coração, de seu crescimento e de seu fruto foi sempre ascendente e bem-sucedido. Acolhendo o advento do Reino antes mesmo da encarnação do Verbo em seu ventre virginal, abrigou as sementes da Palavra em seu coração puríssimo. E, crescendo de virtude em virtude, frutificou muito, e, principalmente, Aquele que é para sempre bendito: Jesus Cristo, nosso Senhor. Por todas as suas obras, mas, sobretudo, pelo eminente fruto do seu ventre, atraiu tantos ao longo da história, atrai-nos em devoção filial e sempre atrair-nos-á, porque, como ela mesma reconheceu, tudo em si foi obra do Divino Agricultor, que escolheu a terra fertilíssima e única do seu coração, lançou ali as sementes das virtudes e aquela singular do Seu Verbo, gerando-as generosamente; frutificando-as imensamente. Por reconhecer o que Deus fez em seu ser – e nós com ela – é que Maria cantou no seu Magnificat: “Grandes coisas fez por mim aquele que é poderoso e cujo nome é santo” (Lc 1,49).
Que ao modo de Maria, cujo coração é solo puro e fértil, sejamos terras hospitaleiras às sementes de vida e de salvação, tal como se configura a Palavra de Deus, promotora do Reino em nós e no mundo. Amém.