Peru: com mais de 86% dos votos apurados, vantagem de Keiko Fujimori diminui

 

O Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE, na sigla em espanhol) divulgou nesta segunda-feira (7) mais uma parcial das eleições presidenciais do Peru. Com mais de 86% dos votos apurados, a candidata da direita, Keiko Fujimori, lidera com 50,59%, contra 49,41% de Pedro Castillo, da esquerda.

Mais cedo, pesquisa de boca de urna do instituto Ipsos indicou vitória muito apertada de Keiko, com 50,3% dos votos válidos (contra 49,7% de Castillo). Depois, o mesmo instituto passou a falar em “empate técnico” e apontou uma inversão do resultado, com 50,2% para o professor de escola rural e 49,8% para a filha do ex-presidente Alberto Fujimori, após uma contagem rápida dos votos.

A diferença de Keiko tem diminuído nas últimas horas, com a contagem dos votos do interior. Castillo, de 51 anos, havia pedido calma após os primeiros resultados parciais e em sua região natal, Cajamarca, advertindo que “ainda falta contar os nossos votos, da zona rural”.

Keiko, 46 anos, está em Lima com sua família e ainda não comentou os primeiros números oficiais. Mais cedo, ela declarou que a boca de urna deveria ser considerada com “prudência” porque a margem de diferença era “pequena”.

Embora Keiko se coloque como representante da democracia e prometa respeito à Constituição, o sobrenome Fujimori faz com que ela tenha muita rejeição — sobretudo porque ela ainda elogia o pai, Alberto Fujimori, que governou o Peru em um regime autoritário na década de 1990 e está preso por desrespeito aos direitos humanos. Ela mesma admitiu que prefere que o país viva uma “demodura”, o que chamou de “mistura de democracia e ‘mãos duras'” em relação ao crime.

Além disso, a herdeira do fujimorismo ficou presa entre 2018 e 2020, com intervalos em liberdade, por acusações de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht, em um escândalo de corrupção que atingiu políticos de diferentes partidos.

Keiko ficou muito perto de não passar para o segundo turno da eleição, após uma primeira votação bastante fragmentada. No campo da direita, os votos ficaram divididos principalmente entre ela e os candidatos Rafael López Aliaga e Hernando de Soto.

Com o segundo turno definido entre ela e Pedro Castillo, Keiko afiou o discurso contra o temor de que o Peru caísse em um governo de extrema esquerda próximo de regimes autoritários como a Venezuela. Esse posicionamento tem muito eco nas cidades mais ricas, principalmente a capital Lima.

Keiko inclusive conseguiu apoio do escritor Mario Vargas Llosa, que concorreu contra Alberto Fujimori em 1990 e representava um dos maiores nomes da oposição ao fujimorismo. O vencedor do Nobel de Literatura defendia que uma vitória da direitista seria a chance de o Peru permanecer um país democrático, citando o que classificou como risco de arroubos autoritários das propostas de Castillo.

Durante a campanha, a candidata do partido Força Popular priorizou o discurso de moralização na política — muito embora ela mesma e correligionários estejam envolvidos em escândalos de corrupção — e de combate ao crime.

Ao longo do segundo turno, Keiko Fujimori fez aceno a outros grupos para tentar diminuir a rejeição a fujimorismo: prometeu respeitar a democracia e as instituições públicas peruanas. Conservadora, ela se colocou contra flexibilizar a legislação sobre o aborto, mas admitiu aceitar uniões civis entre pessoas do mesmo sexo.

Veja algumas das propostas e promessas de Keiko Fujimori:

  • Manter a Constituição de 1993, promulgada no governo de Alberto Fujimori
  • Promover uma “verdadeira economia de mercado”
  • Fomentar turismo com a vacinação prioritária a profissionais desse setor e incentivos fiscais
  • Criar o Ministério da Pesca
  • Acelerar a formalização dos pequenos empresários peruanos
  • Firmar acordos entre os setores ambiental, agrário e da mineração; comumente em conflito político no país.

Pedro Castillo espera virada

O resultado muito apertado da boca de urna indica alguma esperança para o esquerdista Pedro Castillo, que liderou as pesquisas na maior parte da campanha.

Aos 51 anos, Castillo surpreendeu no primeiro turno das eleições e conseguiu o maior número de votos em uma votação bastante fragmentada — com sucessivas crises políticas e quedas de presidentes, o Peru vive uma onda de descrédito em relação às principais forças do país.

Castillo ficou conhecido no cenário nacional em 2017, após liderar uma greve de professores de quase três meses exigindo aumento de salários dos professores — uma das bandeiras que ele manteve ao longo da campanha. O lápis se tornou inclusive o símbolo de sua candidatura e do partido Perú Libre. Ele também prometeu garantir “acesso livre às universidades”.

O candidato nasceu na pequena cidade andina de Puña, na província de Chota, onde os moradores costumam usar chapéu de aba larga, como Castillo usava em suas viagens e até mesmo no único debate presidencial realizado nesta campanha. Também dirigente sindical, ele foi votar a cavalo no domingo na região andina de Cajamarca, onde reside.

Assim, a votação de Castillo foi muito forte no interior do país, em províncias pobres e majoritariamente agrárias do Peru. No segundo turno, foi preciso que revertesse a rejeição nas maiores cidades do país, incluindo a capital Lima.

Castillo ficou marcado por posições polêmicas no início da campanha: chegou a prometer desativar o Tribunal Constitucional, a mais alta corte do país, porque afirma que ela defende a “grande corrupção”. Ameaçou também fechar o Congresso, se os parlamentares não aceitarem seus planos.

Entretanto, ao longo da corrida presidencial, Castillo mudou de tom. Prometeu seguir a Constituição “enquanto ela estiver em vigor” — mas assumiu que buscará uma nova Assembleia Constituinte.

Em relação aos costumes, Castillo adota postura mais conservadora: se recusa a legalizar o aborto, é contra o “enfoque de gênero” na educação e tem relutado em reconhecer os direitos das minorias sexuais.

Veja algumas das promessas e propostas de Pedro Castillo:

  • Descentralização do governo
  • Reforço à Polícia Nacional
  • Ampliar o acesso às refeições nas escolas
  • Criar o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação
  • Apoio às micro e pequenas empresas
  • Acesso livre e gratuito à internet
  • Prioridade à produção nacional

Fonte: G1