Cunha nega renúncia e diz que não fará delação premiada
O presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, classificou como “boataria” a tese de que ele renunciaria à Presidência da Casa. E disse que não fará delação premiada. “Não renunciei e não tenho o que delatar, pois não tenho crime praticado. Sei que existe boataria, mas a minha posição não mudou uma vírgula”, ressaltou, durante entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (21) no Hotel Nacional, em Brasília.
Cunha afirmou não ser “herói nem vilão” no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Porém, segundo ele, a ira do PT pelo fato de “ter perdido suas boquinhas” fez com que ele, Cunha, pagasse um preço alto. “Tenho a consciência tranquila de que livrar o Brasil da Dilma e do PT será uma marca que terei a honra de carregar”, disse.
O presidente afastado reafirmou que não agiu por vingança no caso da abertura do processo de impeachment de Dilma. Ele alegou ter rejeitado 40 pedidos com esse teor antes de acatar o que foi aberto em 2 de dezembro de 2015.
Cunha afirmou que resolveu voltar a dar entrevistas para não ter mais a sua defesa prejudicada e cerceada por falta de comunicação. Ao longo da entrevista coletiva, Cunha teceu críticas ao PT, ao governo de Dilma, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot; e ao presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, deputado José Carlos Araújo (PR-BA).
Troca de apoio
Eduardo Cunha disse que o PT tentou fazer acordo com ele para livrá-lo do processo no Conselho de Ética em troca da rejeição do pedido de impeachment de Dilma. De acordo com Cunha, o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, chegou a oferecer a ele o controle dos votos do PT e de José Carlos Araújo no Conselho de Ética. O presidente afastado disse ainda que Wagner teria garantido que a esposa de Cunha não seria alvo de denúncias, o que ele, Cunha, interpretou como chantagem.
Cunha também se defendeu das acusações de manobras para protelar seu caso no Conselho de Ética. Ele disse que sempre agiu conforme o Regimento Interno da Câmara dos Deputados e que foi o presidente do colegiado quem trabalhou para que o processo, iniciado em novembro do ano passado e votado na semana passada, fosse tão longo.
José Carlos Araújo rebateu dizendo que as manobras de Eduardo Cunha foram claras ao tentar, por exemplo, mudar o relator do caso diversas vezes. O presidente do Conselho também descartou qualquer interferência de Jaques Wagner no processo. “Eu não tenho controle do que o ministro Jaques Wagner fala, mas com certeza o ministro Jaques Wagner não tinha total controle sobre mim”, ressaltou.
Recurso
Eduardo Cunha disse ainda que vai apresentar à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), na quinta-feira (23), recurso contra a decisão do Conselho favorável à cassação de seu mandato. Um dos pontos que Cunha questionará será a votação nominal do caso, o que em sua avaliação gerou um “efeito manada” — influência de um voto sobre o outro. A votação, segundo ele, não teria seguido o Regimento. José Carlos Araújo negou: “Se algum deputado mudou o voto por sua consciência, é um problema do deputado”.
A respeito da decisão do presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão, de tirar de tramitação a consulta feita à CCJ sobre o rito a ser seguido nos casos de processo de quebra de decoro parlamentar, Cunha disse que os parlamentares que fizeram a consulta poderiam questionar o ato.
Fonte: Agência Câmara