Por que cientistas querem enviar tardígrados em viagens interestelares

Um dos grandes pilares da exploração espacial é permitir que seres humanos viajem entre outros planetas e estrelas. Esse feito, no entanto, ainda está bem longe da nossa realidade, mas alguns cientistas já estão dando os primeiros passos com a ajuda de uma das criaturas mais resistentes da Terra: os tardígrados.

Pesquisadores da Universidade da Califórnia querem estudar como viagens espaciais longas afetam os corpos e funções vitais desses animais. A pesquisa seria um pontapé para viagens interestelares tripuladas com humanos.
Uma pesquisa, publicada em outubro na revista Acta Astronautica, discorre sobre as possibilidades de enviar sondas para longe do nosso sistema solar com esses pequenos organismos a bordo. As sondas seriam pequenas espaçonaves que fazem parte do programa Starlight, da Nasa, que estuda novas formas de propulsão de foguetes para a exploração interestelar.

Os tardígrados, popularmente conhecidos como ursos d’água, são animais terrestres ultrarresistentes de cerca de 0,5 milímetro de comprimento. Entre as características que fazem com que eles sejam os primeiros tripulantes terrestres perfeitos estão a capacidade de sobreviver à radiação, uma fogueira, ao congelamento e até mesmo ao vácuo do espaço.

Essa não seria a primeira vez que os ursos d’água embarcariam para o espaço. Em abril de 2019, um módulo cheio de tardígrados caiu na Lua após a missão israelense Beresheet fracassar. A ideia era medir o campo magnético da Lua e enviar simultaneamente para a base na Terra imagens e vídeos, por estar equipada com câmeras, sensores magnéticos e transmissores.

Com fins educacionais, a missão também tinha uma cápsula do tempo com arquivos digitais que incluía uma Torá, desenhos feitos por estudantes israelenses, uma cópia do hino nacional e uma bandeira de Israel.

Além dos tardígrados, o estudo considera outros candidatos possíveis para viagens pelas estrelas. Um deles é o verme Caenorhabditis elegans. Frequentemente usados em pesquisas científicas, os C. elegans também são tolerantes à radiação, principal requisito para a jornada interestelar, e são capazes de criptobiose, ou seja, podem ser colocados em animação suspensa em que praticamente todas as funções metabólicas são interrompidas.

Esses vermes já fizeram parte de experimentos realizados na Estação Espacial Internacional (ISS) e sobreviveram até mesmo à trágica desintegração do ônibus espacial Columbia, que matou a tripulação de sete astronautas em 2003.

O principal objetivo em enviar esses animais ao espaço é examinar como a viagem afeta os seres vivos em distintos pontos, como metabolismo, fisiologia, função neurológica, reprodução e envelhecimento. Para os pesquisadores, saber os efeitos biológicos de uma viagem interestelar é de extrema importância para que, um dia, seja possível enviar seres humanos para além do nosso sistema solar.

“Os efeitos de viagens tão longas na biologia animal podem ser extrapolados para efeitos potenciais em humanos”, afirma Joel Rothman, professor da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e um dos autores da pesquisa.

Programa Starlight
O programa Starlight da Nasa consiste no desenvolvimento de espaçonaves miniaturizadas capazes de viajar com velocidades próximas à da luz que, num futuro, permitiram viagens interestelares tripuladas. Para isso, a iniciativa estuda novas tecnologias de propulsão que usam a luz como força motriz.

A propulsão química tradicional – combustível de foguete – não consegue fornecer energia suficiente para mover uma nave com a rapidez necessária para viagens interestelares, principalmente pelo peso e sistemas atuais de propulsão da nave. Considerando que o maior desafio para essas viagens em escala humana é a enorme distância e tempo que leva entre a Terra e as estrelas mais próximas, é essencial que a nave consiga viajar o mais rápido possível.

As naves das missões Voyager provaram que é possível enviar objetos através dos 12 bilhões de quilômetros necessários para sair do nosso sistema solar. Mas as sondas do tamanho de um carro, viajando a velocidades de mais de 56 mil km/h, levou 40 anos para chegar. Se colocarmos o destino para a estrela mais próxima da Terra, tirando o Sol, seriam necessários mais de 80 mil anos para alcançá-la.

Os pesquisadores da Califórnia desenvolveram protótipos de sondas que devem detectar, coletar e transmitir dados de volta à Terra enquanto viajam a 30% da velocidade da luz. As naves seriam impulsionadas pela própria luz usando uma matriz de laser estacionada na Terra, ou possivelmente na Lua.

Do Uol