Sindipetro vê cenário desolador em SE com saída da Petrobras

Por Anderson Araújo
Na semana em que o governador Belivaldo Chagas trouxe à tona a informação de que a Petrobras aprovou o investimento de US$ 2 bilhões em Sergipe, entre 2021 e 2025, o Correio de Sergipe e o Portal AJN1 trazem entrevista com o sindicalista Paulo da Silva Júnior, membro da Diretoria Colegiada do Sindicato dos Petroleiros em Alagoas e Sergipe (Sindipetro). Na entrevista, feita antes do anúncio do investimento, ele comenta a importância da Petrobras para Sergipe, o processo de desinvestimento da estatal no estado com o fechamento de unidades e venda de poços, a situação dos trabalhadores, dentre outras questões. A chegada da Petrobras em Sergipe data de 1963, com a descoberta, em Carmópolis, do maior campo terrestre no Brasil em volume recuperável de óleo. Como consequência foi inaugurada a sede administrativa na Rua Acre, em Aracaju, e entrou em funcionamento o Tecarmo (terminal aquaviário para o armazenamento do petróleo produzido no mar). A chegada da estatal possibilitou o desenvolvimento do estado, sobretudo a capital, Aracaju, seja por conta do pagamento de royalties, seja pela geração de empregos e atração de outras empresas. Para o Sindipetro, a alegação apresentada pelo presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, de que o fechamento de unidades da estatal é uma forma de promover economia e reduzir a dívida que hoje é de 90 bilhões de dólares, não se justifica. Para o sindicato, a motivação é política, “uma vez que o Governo Federal se mostra favorável a privatização”.
Frase
“O que se vê agora são as lamentáveis consequências, como o desemprego em massa, a desvalorização de terras outrora prósperas e o desalento generalizado. Todos os municípios do Vale do Cotinguiba, bem como Aracaju, se valem dos rendimentos da Petrobras, quer sejam Royalties ou geração direta e indireta de empregos”
Correio de Sergipe – Na avaliação do Sindipetro, o que de fato teria levado a Petrobras a fechar suas unidades em Sergipe, no caso, a sede administrativa na rua Acre e o Tecarmo, em Aracaju, além da Fafen, em Laranjeiras?
Paulo Júnior – O principal motivo dessa saída completa da Petrobras em Sergipe e no Nordeste é o fator político. Fica evidente quando analisamos o perfil do atual presidente da empresa, Roberto Castelo Branco, que mais de uma vez se declarou a favor da privatização da Petrobras. Como sabemos, esse gestor supracitado obedece a ordem do neoliberal Paulo Guedes e do atual presidente Jair Bolsonaro. Por uma questão mesquinha, a fim de enfraquecer a região Nordeste, que menos apoiou a candidatura Bolsonarista, põe-se em risco milhares de empregos.
CS – Qual a importância da Petrobras para Aracaju e o Estado como um todo?
PJ – Por décadas a economia sergipana girou em torno do eixo da indústria petrolífera. Atualmente ainda temos o petróleo como nossa maior fonte de renda para o estado como um todo, ainda que drasticamente reduzida, pelos sucessivos ataques ao campo de Carmópolis, Fafen e Tecarmo. O que se vê agora são as lamentáveis consequências. Desempregos em massa, desvalorização de terras outrora prósperas e desalento generalizado.
CS – Existe falta de reservas de petróleo em solo sergipano ou a decisão da estatal é uma consequência do mercado de reduzir custos?
PJ – O campo de Carmópolis foi fundado em 1963 e ainda hoje é o maior campo terrestre brasileiro, tanto em termos de volume original de petróleo quanto em reservas totais, correspondendo a 47% da produção e das reservas do estado. O campo conta hoje com cerca de 1050 poços produtores em atividade e produção acumulada de 414961 barris no ano de 2020 além da produção de gás natural. Como todo campo maduro, com décadas de exploração, Carmopolis necessita de constantes investimentos para aumento da fração recuperada.
CS – Como se encontra agora a questão do fechamento da Petrobras no Estado? Houve mudança alguma na decisão?
PJ – Oficialmente a empresa já entregou a proposta de venda dos campos de Carmópolis a preços abaixo do mercado, muitas vezes com flagrante prejuízo para o bem público. Deu um prazo inicial até o fim desse ano para a venda ou hibernação dos campos de Carmopolis, mas acreditamos que esse prazo inicial não se cumprirá devido a vários entraves políticos, burocráticos e por causa da pandemia de Coronavírus. Por isso seguimos na luta para a evitar a saída da empresa do nosso Estado.
CS – E os funcionários, petroleiros, parte administrativa, como está a situação deles, tanto dos que vieram de outro Estado para morar e trabalhar aqui, como daqueles que são de Sergipe ou se foram forçados a mudar de Estado?
PJ – Os funcionários concursados em sua maioria se viram obrigados a procurar áreas para transferência na região Sudeste (SP, RJ e ES). Muitos deles abandonaram famílias para dividirem espaços exíguos ganhando a mesma coisa e muitos sem ajuda financeira da empresa para readequação no novo estado de trabalho. Alguns ainda continuam aqui esperando os próximos fatos ou aguardando aposentadoria.
CS – Quais as consequências econômicas para o povo sergipano e o próprio governo local sem os royaltis da estatal?
PJ – A cadeia produtiva gerada pelo campo de Carmopolis é um dos fatores principais de sua relevância social, contribuindo para o sustento direto de milhares de famílias no estado. Todos os municípios do Vale do Cotinguiba e da capital Aracaju se valem dos rendimentos, quer sejam Royalties ou geração direta e indireta de empregos, para sua subsistência. A saída, por motivos políticos, da Petrobras do Estado de Sergipe, trará como consequências imediatas desemprego e miséria para milhares de pessoas. A sociedade brasileira, apesar da insistência do atual governo, reprova a venda da Petrobras bem como seu sucateamento. A empresa foi erguida à custa de muita luta e não deixaremos que ela seja entregue. A diminuição da participação do Estado nas empresas públicas nacionais e a entrega das companhias aos interesses meramente lucrativos acarreta o empobrecimento e desigualdade em todos os setores sociais. A diretoria da Petrobras comete um crime flagrante de lesa-pátria. Ao qual nos declaramos contra.
CS – Que tipo de benefícios a Petrobras proporcionava para Aracaju e o interior?
PJ – Cidades do Vale do Cotinguiba orbitavam em torno da Petrobras, assim como boa parte da capital, Aracaju. Tantos benefícios diretos, como Royalties e empregos, quanto em benefícios indiretos como escolas técnicas profissionalizantes e evolução das cidades nas áreas de saúde e segurança.
CS – Muita gente foi afetada direta ou indiretamente com esse fechamento. Quais setores o Sindipetro destacaria e que profissionais?
PJ – Diretos temos a maior parte dos trabalhadores terceirizados e indiretos toda a cadeia produtiva que alimenta, veste e presta serviços aos trabalhadores petroleiros.
CS – Desde o fechamento, o que a categoria e sindicato tem feito? Mantém ainda contatos com o Governo Federal e parlamentares locais para reverter a situação ou não tem mais jeito?
PJ – Temos feito contatos com diversos políticos, dentre Câmaras de Vereadores, Deputados Estaduais e Federais, Prefeitos, Governo do Estado, movimentos sociais e políticos, uma luta extenuante que se arrasta a pelo menos dois anos desde antes da privatização da Fafen.
CS – Nos Estados vizinhos, como Alagoas; Bahia, Pernambuco e demais do Nordeste a situação é a mesma?
PJ – Com suas particularidades o cenário no Nordeste é similar ao que acontece em Sergipe.
CS – O Sindipetro vê tudo isso como uma atitude meramente capitalista o desmonte da Petrobras ou vê como uma decisão acertada?
PJ – Desta forma, a privatização/hibernação do campo terrestre de Carmopolis e o TECARMO a grupos privados ameaçará a sobrevivência de milhares de famílias no Estado de Sergipe, além de causar a desestruturação nas cidades e nas regiões que contam com os serviços prestados pela empresa, de caráter fundamentalmente sociais. Por tudo isso, pela população brasileira e Sergipana, os campos de petróleo devem continuar a ser públicos. A saída é diversificar as atividades, investir em tecnologia e não esquecer que a Petrobras é uma empresa pública, sendo assim do povo brasileiro, não devendo, por esta razão ser usada para fins políticos. A população não quer privatização, mas sim, uma vida mais digna.
CS – Apesar de ter fechado sua sede administrativa e desativado o Tecarmo, além de extinguir a Nitrofertil, a Petrobras acabou de anunciar esta semana, investimentos em Sergipe no valor de US$ 2 bilhões entre 2021 a 2025 em seu Plano Estratégico de Investimentos. Que avaliação o Sindipetro faz dessa nova postura da estatal?
PJ – Desde que decidiu suspender suas atividades no Estado, a direção da Petrobras se recusa a falar com o Sindipetro, e ela não nos comunicou sobre esses investimentos em seu Plano estratégico. Desta forma, fica impossível dar uma resposta coerente sobre essa atitude, uma resposta que não seja pessoal, pois todos os nossos posicionamentos são discutidos num ambiente colegiado. Então, essa última pergunta, infelizmente, não tenho como responder. Me desculpe.