Presidente da Abrasel-SE, Bruno Dórea, diz que bares e restaurantes não são os responsáveis pelo aumento dos casos de covid

Por Anderson Araújo
O entrevistado desta semana é o presidente da Associação de Bares e Restaurantes, seccional Sergipe, Bruno Dórea. Ele fala sobre como a pandemia impactou o setor, consequências, e alternativas encontradas pelos empresários para sobreviver. Bruno diz que aqueles já acostumados ao sistema de delivery e aqueles que conseguiram se adaptar a esse modelo, até viram a receita crescer, porém, a maioria enfrentou o período mais crítico de portas fechadas e tiveram que dispensar seus funcionários, e todos passaram a necessitar do auxílio emergencial dado pelo governo federal, para sobreviver. “Quem não tinha (delivery), foi muito complicado, porque 90% não conseguiu implantar esse sistema e acabaram fechando as portas e dispensando os empregados com o auxílio governamental”. Questionado sobre se o setor teria contribuído para o aumento no número de casos de Covid, Bruno diz não acreditar nisso. “Para nós do setor, sempre propomos o retorno com uma devida precaução com capacidade reduzida, distanciamento entre as mesas, uso de máscaras, utilização de álcool gel”. Ele observa que os bares e restaurantes reabriram em agosto, com adoção das medidas sanitárias estabelecidas e opina que se o problema fosse o setor, o reflexo se daria 15 dias após a reabertura. “Porém, o aumento de casos só veio acontecer agora. Em dezembro. Justamente 15 dias depois das eleições. Eu entendo que a culpa não é totalmente das eleições. Realmente, a população afrouxou, mas as eleições contribuíram muito, tendo em vista que a população estava vendo seus líderes aglomerando e fazendo campanha em todos os lugares”. Mas Bruno entende que a situação toda precisa de soluções práticas para que o problema, do ponto de vista desse segmento econômico, ao menos possa ser enfrentado. “A gente espera que aconteça alguma contrapartida, como por exemplo, um projeto que demos entrada na prefeitura, pedindo para que possa ser liberado o uso de calçadas e vias públicas em frente aos restaurantes, tendo em vista, que a gente possa aumentar o número de mesas para amenizar os prejuízos”. Confira mais nessa entrevista exclusiva ao Correio de Sergipe.
“Fechamento obrigou setor a se adaptar ao sistema delivery”
Correio de Sergipe – Por conta da gravidade da pandemia da Covid-19 a partir lá de março, quando o Governo do Estado e prefeituras baixaram decretos fechando hotéis, bares e restaurantes, shoppings e proibindo shows para conter o avanço do vírus, como a Abrasel viu essa medida lá no início?
Bruno Dórea – No início foi tudo muito assustador. Não sabíamos muito o que iríamos fazer. Sorte que a Abrasel já tinha feito um protocolo de reabertura de bares e restaurantes, então deu um suporte para que todo o país pudesse ter uma base de como agir e funcionar na reabertura. Porém, tudo foi muito assustador, afinal de contas, a gente não sabia como seria o nosso trabalho, planejamentos foram todos esquecidos. E tivemos sorte de receber auxílio do Governo Federal que pelo menos tínhamos onde nos apoiar.
CS – Depois destas medidas quais as consequências sentidas pelo setor ao longo do ano?
BD – Com o fechamento todos os restaurantes tiveram que se adaptar ao delivery, quem não tinha, foi muito complicado, porque 90% não conseguiu implantar esse sistema e acabaram fechando as portas e dispensando os empregados com o auxílio governamental. Os que conseguiram se adaptar ao delivery aumentaram muito a demanda, porém ainda não era suficiente para manter a estrutura de um restaurante.
CS – A partir de outubro as autoridades sanitárias entenderam que os casos estariam se estabilizando, e por isso, houve certa flexibilização das medidas e alguns setores voltaram a funcionar com 30% e até 50% da capacidade. Foi o momento certo ou deveria ter sido antes ou depois?
BD – Para nós do setor, sempre propomos o retorno com uma devida precaução com capacidade reduzida, distanciamento entre as mesas, uso de máscaras, utilização de álcool gel. Porém foi tardio e a gente gostaria que as pessoas começassem a se acostumar. A gente sabia que a volta seria difícil, que esse retorno seria complicado. Como foi. Quando retornou as pessoas não sentiram confiança para sair, mas a gente precisava de um retorno.
CS – Já em novembro os casos da doença voltaram a aumentar. Na sua avaliação o que teria ocorrido? Simples relaxamento das pessoas ou a flexibilização também contribuiu?
BD – Esse aumento dos casos foi curioso. Isso porque, os bares e restaurantes já estavam funcionando desde 19 de agosto. Então se a culpa fosse dos estabelecimentos, assim falando, com certeza 15 dias depois já teríamos um aumento de casos, tendo em vista, que a nossa margem de percepção da doença é de 15 dias. Porem, o aumento de casos só veio acontecer agora. Em dezembro. Justamente 15 dias depois das eleições. Eu entendo que a culpa não é totalmente das eleições. Realmente, a população afrouxou, mas as eleições contribuíram muito, tendo em vista que a população estava vendo seus líderes aglomerando e fazendo campanha em todos os lugares.
CS – Durante o período mais grave da pandemia como o setor conseguiu superar as consequências das medidas restritivas?
BD – O setor que conseguiu se adaptar foi aquele que melhorou seu delivery, afinal, não tínhamos outra opção de trabalhar. Mesmo assim, trabalhamos neste sistema com a intenção de tentarmos sobreviver ainda. Foi um período muito complicado e difícil para o setor.
“Bares e restaurantes á estavam funcionando desde 19 de agosto. Então, se a culpa fosse dos estabelecimentos, com certeza 15 dias depois já teríamos um aumento de casos”
CS – Se tem conhecimento que muitos empregados perderam os empregos e estabelecimentos fecharam. Como se encontra agora? A situação pode piorar?
BD – Nossa situação é bem delicada, afinal de contas, era um problema que ninguém estava medindo na pandemia, que era o aumento dos insumos, que se tornou nosso maior inimigo, pois aumentaram muito. E a gente não consegue repassar agora para a população, clientes, e isso se tornou um “calo em nosso sapato”, afinal de contas a margem de lucro diminuiu bastante. Tirando a situação de que a população não está totalmente confiante em sair de casa para ir aos restaurantes com sua família. Agora no verão mesmo pra piorar vem esse novo decreto diminuindo o percentual de ocupação das mesas nos restaurantes, bem no período que a gente acreditava que poderia recuperar o prejuízo. Pra nossa surpresa não está tendo reserva para confraternização e encontros. Tudo isso só piora a situação.
CS – A Abrasel tem mantido contatos frequentes com as autoridades sanitárias, governo e prefeituras para discutir a questão e apresentar sugestões? Quais?
BD – A gente respeita a decisão das prefeituras e governo, afinal de contas, existe um estudo feito pela Vigilância Sanitária envolvido. A gente sabe que esse problema do vírus é mundial, porém sempre somos os primeiros a sermos limitados, e foi o setor que mais sentiu: restaurante e turismo. A gente espera que aconteça alguma contrapartida, como por exemplo, um projeto que demos entrada na prefeitura, pedindo para que possa ser liberado o uso de calçadas e vias públicas em frente aos restaurantes, tendo em vista, que a gente possa aumentar o número de mesas para amenizar os prejuízos.
CS – Na última terça (15) por conta do avanço do contágio, o Governo do Estado baixou novas medidas reduzindo a ocupação nos bares, restaurantes e eventos. Como a Abrasel ver a volta das restrições agora, as vésperas do Natal e Réveillon?
BD – Como disse anteriormente, a gente entende a decisão, porém pode ser fatal por ser o período em que a gente fatura, que a gente achava que ia sair do prejuízo, e se tornou nosso maior problema, porque todo mundo sabe que no turismo e nos restaurantes as procuras aumentam de acordo com o verão. Infelizmente, não podemos usufruir desse período que a gente tanto gosta de trabalhar.
CS – Todos os protocolos sanitários vinham sendo cumpridos rigorosamente ou houve falha de alguma parte ou de ambos?
BD – A gente vem obedecendo todos os protocolos, somos a favor da fiscalização, porém achamos que a fiscalização só acontece nos principais estabelecimentos. A mesma deveria adentrar mais nos bairros e nos grandes centros de comércio, onde ocorre uma aglomeração maior de pessoas. A aglomeração acontece em todos os lugares e não só nos restaurantes.
CS – Como a volta de restrições, o setor tem como sobreviver por mais tempo? Existe o receio de um novo fechamento dos estabelecimentos?
BD – A volta das restrições será fatal para nosso setor. Dificilmente a gente vai se recuperar sem nenhuma ajuda do governo, e existe sim, um receio desse aumento. E acredito que, se isso acontecer, os restaurantes vão ficar para a história, porque será impossível sobreviver com o fechamento.
CS – Para justifica as medidas o Governo do Estado manifestou preocupação com a volta do aumento da ocupação de leitos de UTIs e falou que teme o colapso na saúde pública. Disse que Sergipe tem o maior índice de contagio do país. Que avaliação o senhor faz dessa preocupação governamental?
BD – A gente respeita a decisão vinda do Governo do Estado, porem o aumento do número de leitos ou a porcentagem de ocupação é primordial que não aumente mais para o retorno normal das atividades da economia. Então acreditamos que o número de leitos deve ser aumentado o mais rápido possível tendo em vista que a economia não aguenta outro problema dessa natureza. É preciso voltar a ter leitos suficientes, afinal, o Hospital de Campanha já foi fechado e número de leitos caiu.
CS – Diante de tudo o que estamos vivendo e da contaminação e da gravidade da situação, que perspectivas a Abrasel tem para o setor já no próximo ano, visto que ainda se discute no Brasil quando a vacina estará disponível e quando será aplicada?
BD – Não vemos a hora dessa vacina ser aprovada e aplicada na população, para que tudo volte ao normal, já que a gente trabalha não só com restaurantes e gastronomia, mas também com turismo, diversão, lazer. E é isso que a gente quer continuar oferecendo a população. Trabalhar e cozinhar para os clientes, turistas, como sempre fizemos, oferecendo o melhor da culinária, bebidas geladas e bons serviços. É tudo o que a gente deseja para 2021.