Escolas privadas de Sergipe estão prontas para o retorno dos alunos

Por Cláudia Lemos 24/10  às 07h

 

Com o retorno das aulas presenciais para alunos das turmas de terceiro ano do ensino médio, previsto para 03 de novembro, as escolas particulares de Sergipe se declaram preparadas para receber os alunos. Mais que isso, direção, professores e estudantes não veem a hora dessa retomada. Nessa entrevista especial e exclusiva ao Jornal Correio de Sergipe e ao Portal AJN1, o presidente da Federação dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de Sergipe (FENEN-SE), Renir Damasceno, que também é membro do Conselho Estadual de Educação- CEE, e diretor do Colégio Amadeus, fala sobre a expectativa, o preparo e os desafios enfrentados por escolas e alunos neste ano atípico. “Além das preocupações com a aprendizagem, é preciso garantir a segurança sanitária de todos que convivem no ambiente escolar”, observa. Um fator que preocupa muito é a questão financeira, sobretudo pelo aumento significativo da inadimplência. “A escola privada de Sergipe que conseguir voltar em 2021, pode-se dizer ser uma escola vencedora. É um ledo engano pensar que a escola por não estar com atividades presenciais, teve grande redução nos gastos. Houve redução de custos, mas houve aumento superior à redução”, dispara. Segundo Renir, creches e berçários foram severamente afetados e 38 destes estabelecimentos já fecharam. Para ele, os tabus quebrados com a educação a distância de crianças e adolescentes foram avanços que chegaram para ficar. Confira a entrevista seguir:

 

 

 

 

 

 

 

Correio de Sergipe -O governo do estado liberou o retorno das aulas presenciais para alunos da terceira série do ensino médio para 03 de novembro. As escolas particulares já estão preparadas para o retorno presencial das aulas?

 

RENIR DAMASCENO – A Federação vem debatendo com seus diretores, filiados e não filiados, a forma mais segura para o retorno. Estamos absolutamente convictos de que a escola privada de Sergipe está pronta para as aulas presenciais. Nossa preocupação é com um retorno criterioso seguindo as normas do protocolo, que elaboramos em parceria com o Instituto Motivação, de São Paulo, empresa com expertise no assunto. O material foi apresentado a diversos setores importantes da sociedade, a exemplo da AMASE, do Tribunal de Justiça de Sergipe (TJ-SE), do Ministério Público de Sergipe (MP-SE), da Defensoria Pública e dos Conselhos de Educação Estadual e Municipal. Recebemos elogios pelo rigor do documento e estamos realizando a segunda fase do protocolo que abrange os treinamentos e as capacitações do corpo técnico das escolas que se inscreveram, junto a FENEN-SE e ao Instituto para capacitar diretores, coordenadores, auxiliares de coordenações, professores, auxiliar de professores, administrativo financeiro, manutenção e manipuladores de alimentos. São 900 pessoas capacitadas. Asseguro à sociedade sergipana que a escola particular está fazendo o seu papel para garantir um retorno seguro dos nossos alunos, professores e demais funcionários. As escolas que pretendem retornar terão que se adequar ao rigor do protocolo da FENEN-SE que está em absoluta consonância com o protocolo da Secretaria Estadual da Saúde. O controle sanitário já acontecerá na portaria da escola. Seja pela medição de temperatura corporal, pela desinfecção do calçado, mochila e pelo uso obrigatório de máscaras e álcool em gel.

 

CS – Quais devem ser as preocupações dos educadores com o retorno das atividades presenciais?

 

RD – Não será possível retornar de onde paramos. Devemos trabalhar para definir padrões e procedimentos adequados a este momento, para fortalecer a educação e tornar a aprendizagem efetiva. Além das preocupações com a aprendizagem, é preciso garantir a segurança sanitária de todos que convivem no ambiente escolar. Nossos educadores enfrentarão grandes desafios para entenderem que tipo de perda aconteceu nesse período de isolamento social. As perdas de caráter emocional só podem ser avaliadas presencialmente. Este é, sem dúvida, um momento de aprendizado coletivo e de valorizar as relações entre a escola e a família. É preciso repensar as práticas docentes.

Qualquer escola, pública ou privada, da capital ou do interior, após o retorno, deverá promover, no retorno às aulas presenciais, uma avaliação diagnóstica, instrumento que facilitará o reconhecimento das estratégias a serem adotadas para equiparar os diferentes níveis de aprendizado em que se encontram os alunos.

 

CS – Na sua avaliação, já era o momento de iniciar o retorno gradual do ensino presencial, ou seria mais prudente aguardar o início da vacinação?

 

RD – Deveríamos ter retornado antes. Há meses aguardamos essa retomada. Dificilmente uma criança está totalmente isolada em casa. Outros espaços sociais representam mais riscos para a saúde das crianças. Estávamos no aguardo da liberação pelos órgãos competentes, por entender que as escolas estão preparadas para esse retorno. Solicitamos, inclusive, ao Governo do Estado, a volta às aulas presenciais, também para as crianças de 3 anos de idade. Sugerimos o retorno pelas pontas, o formato mais utilizado por outros países e estados, que consiste em retornar, gradativamente, com as classes iniciais e finais, avançando para as demais turmas. Precisamos entender que a escola também é um local seguro e um espaço de preservação da vida. Esse retorno não pode estar atrelado apenas à vacinação, até para evitar que os alunos sejam mais penalizados.

O alunado sergipano que fará o ENEM não poderia ser penalizado, ainda mais, concorrendo com outros estados, que já retornaram. O Exame é nacional e a concorrência seria injusta, caso Sergipe não liberasse o retorno para esse grupo de alunos do 3º ano, a partir do dia 3 de novembro. Apesar de tardiamente, ainda poderemos amenizar as perdas. Vamos discutir com o governo, na próxima quinta-feira, a possibilidade de retorno de outras séries. Mesmo restando menos de 2 meses para o fim do ano letivo, estamos na expectativa de que outros níveis de ensino possam ser liberados para as aulas presenciais.

 

 

CS-O senhor acha que o ensino online do 1º, 2º e 3º graus de alguma forma chegou para ficar, ou é uma medida apenas para situações extremas?

 

RD–  Acredito ser um caminho sem volta. Chegamos a um momento em que foi preciso evoluir muito rápido. Por conta dessa nova perspectiva global, as escolas quebraram tabus e enxergaram que as mudanças são necessárias e urgentes. Esse foi um grande desafio para alunos e professores. Até então, as novas ferramentas eram um auxílio para as aulas presenciais, mas passaram a ser essenciais.   A grande maioria das escolas está tendo oportunidade de trabalhar com a parte digital para a transmissão de aulas síncronas, ao vivo, ou assíncronas, gravadas e disponibilizadas em uma plataforma.

Em abril o Conselho Estadual de Educação emitiu a primeira resolução a respeito das aulas on-line e flexibilizou estratégia para o trabalho com atividades não presenciais. Sabemos que existem comunidades em que não oferecem cobertura de internet, nesse caso, as escolas podem trabalhar com métodos convencionais, através de materiais impressos, como revistas, cadernos, livros, entre outros. É preciso reconhecer o esforço que o Governo de Sergipe vem fazendo para que através de parcerias a internet chegue para a casa de todos os alunos.

 

CS – Quanto a questão financeira, a inadimplência nas escolas aumentou? Como donos de escolas conseguiram driblar todo tipo de problema que surgiu nesse ano atípico para manter seus estabelecimentos “vivos”? Qual a principal dificuldade?

 

RD – Sobre a realidade financeira nesse período, a situação é crítica. Levamos ao conhecimento do governador e do prefeito, as dificuldades por que passam as escolas. Para as instituições que trabalham só com a Educação Infantil a situação é caótica. É um ledo engano pensar que a escola por não estar com atividades presenciais, teve grande redução nos gastos. Houve redução de custos, mas houve aumento superior à redução. A inadimplência teve um aumento significativo. As escolas, conforme acordado com o Ministério Público de Sergipe, têm obrigação de disponibilizar ao pai que tiver interesse, a planilha de custos para comprovar que o aumento de custos é real.

O custo com a implantação de plataforma, de gravação de aulas, foi superior a redução eventual de alguns custos que a escola deixou de ter. Algumas instituições deram desconto linear nas mensalidades e outras concederam atendimento personalizado. Desde o início da pandemia e em concordância que tivemos com o Ministério Público e o Procon, sempre defendemos total transparência e abertura de diálogo entre escola e família. Não tem nosso aval a escola que se negue a dialogar. Não houve medida única, o que há é que as escolas precisam ser transparentes para que na medida do possível, consigamos todos, escolas e famílias, passar por esse momento único da forma menos traumática possível.

 

CS -Já estamos nos aproximando do final do ano letivo, como as escolas estão se preparando para manter e atrair novos alunos?

 

RD – Não é fácil pensar em matrícula com as escolas fechadas. Depois de um longo período de isolamento social e de confinamento por causa da pandemia, retornar às atividades será desafiador uma vez que nada será como antes. As escolas estão capacitando seus funcionários para a aplicação das regras contidas no rígido protocolo de cuidados do ambiente escolar que trata do retorno às aulas presenciais, seus contextos, orientações e práticas. A escola, como espaço de produção de conhecimento e interação social, deverá estar atenta às novas formas de comportamento, que obrigatoriamente surgem para garantir a segurança. As instituições estão adequando o novo espaço que deverá respeitar o distanciamento, o isolamento de algumas instalações, troca das portas de banheiro para fechamento automático, ou seja, adequar os ambientes às normas sanitárias.

As avaliações feitas pelos pais ou responsáveis para o processo de matrícula são completamente diferentes das adotadas em anos anteriores. O pai terá que encontrar na escola, um local seguro para deixar seu filho.

 

 

CS – O Sindicato registrou o fechamento de alguma escola, em decorrência da pandemia?

 

RD – Infelizmente essa é a realidade. Na semana passada fui informado de que em Aracaju, foram fechados 38 creches e berçários, que são os mais afetados. As que não fecharam estão se reinventando e alugando seus espaços ou preparando quentinhas para vender porque o nível de cancelamento de matrículas está na casa de 80%.

A escola privada de Sergipe que conseguir voltar em 2021, pode-se dizer ser uma escola vencedora.  A inadimplência é alta. Fazemos questão de registrar o compromisso de grande parte dos pais, em continuar mantendo o pagamento das mensalidades para possibilitar o funcionamento das escolas. Apesar do auxílio que o governo flexibilizou, muitas escolas não demitiram professores e funcionários da parte técnica administrativa e estão honrando com seus compromissos.

 

 

CS -Como o senhor vê o ensino pós pandemia?

 

RD – Ainda não podemos falar em pós pandemia. Ela persiste e estamos nos adaptando a essa nova realidade. O que estamos vivendo é uma novidade no mundo inteiro. No momento é preciso chamar a atenção das pessoas para que continuem com os cuidados necessários para não sermos acometidos com uma nova onda da doença. Cada um tem que fazer sua parte. É importante enfrentar os desafios e manter uma educação de qualidade. A introdução de inovações tirou muita gente da zona de conforto, porém algumas mudanças já estavam acontecendo. Dirijo uma instituição que há 3 anos já vem trabalhando com metodologias ativas de ensino híbrido. Fazendo experimentações, porque a sala de aula é um grande laboratório. O ser humano é resistente às mudanças e o que não conhece, o deixa receoso.

 

CS -Qual mensagem o senhor pode passar para a sociedade?

 

RD –    Nossa obrigação é esclarecer a sociedade e ajudar a minimizar as dificuldades desse período de pandemia. Que tenhamos um 2021 abençoado. Será um ano difícil, mas com fé em Deus conseguiremos passar por tudo isso. Dizer também que como membro do Conselho Estadual de Educação, presidente da FENEN-SE e conselheiro, nossa posição é trabalhar pela educação de Sergipe, e não apenas para a rede privada.