Cerca de 80% dos infectados em Aracaju tem entre 20 e 59 anos

Por Cláudia Lemos
O Correio de Sergipe procurou a secretária de Saúde de Aracaju, Waneska Barbosa, para falar sobre a vacinação contra a covid-19, que teve início na última terça-feira, 19. A secretária detalhou quais e como serão as fases de vacinação e sobre todo o planejamento para aplicação das doses. Médica Cardiologista, a secretaria destaca a importância de a população continuar se protegendo contra o novo coronavírus usando máscara, higienizando as mãos e mantendo o distanciamento social. Ela diz que ainda não dá para precisar quando a população em geral começará a ser vacinada. Aracaju recebeu 21.878 doses, num total de 10.939 mil pessoas imunizadas, isso porque todas receberão duas doses. Se paramos para pensar que a capital sergipana tem mais de 670 mil habitantes, percebemos o quão distante está da chamada imunidade de rebanho, que é quadro mais de 70% da população está vacinada, lembrando ainda que não se sabe quando haverá vacinas que atendam a demanda do país. Segundo Waneska Barbosa, na capital o maior número de casos registrados de Covid-19 está concentrado em pessoas jovens de 20 a 59 anos, com um total de 51.079 dos 64.858, ou 78,75% dos casos confirmados serem desse grupo. “Isso significa que temos um acometimento maior de pessoas que estão em idade ativa de trabalho e não podem fazer o isolamento social recomendado”, observa. Sobre a possibilidade de alguém que não for do grupo prioritário furar a fila, a secretaria diz que o município tem controle total de quem está sendo vacinado. Ela também garante que o município está preparado para vacinar todos os grupo, tão logo receba as doses necessárias. Confira a entrevista a seguir:
Correio de Sergipe-Aracaju, como o restante do estado, começou a primeira fase da vacinação contra a covid-19. Como foi a imunização desse grupo prioritário. Quantas doses foram aplicadas e quando vai ser a aplicação da segunda dose?
Waneska Barbosa – Aracaju iniciou a vacinação assim que recebeu as doses do Governo Federal, no dia 19 de janeiro. Foram 21.878 doses, as quais serão utilizadas para imunizar 10.939 mil aracajuanos, já que metade dos imunizantes será reservada para aplicação da segunda dose nessas mesmas pessoas, de 21 a 28 dias depois. Nesse primeiro momento, conforme o Plano de Vacinação, o Município foi em busca ativa de trabalhadores da saúde, que estão na linha de frente do enfrentamento à pandemia, em seus locais de trabalho, como hospitais e Unidades Básicas de Saúde de referência para síndromes gripais, e idosos que moram em asilos ou abrigos e seus cuidadores.
CS- O prefeito Edvaldo Nogueira anunciou que a capital sergipana está preparada para vacinar sua população. Como se dará essa vacinação em massa. Serão utilizados somente os postos de saúde e UPAs ou há possibilidade de uso de espaços maiores como o Batistão ou o Ginásio Constâncio Vieira?
WB- Aracaju está preparada, tanto do ponto de vista dos insumos, como dos locais de vacinação e procedimentos. Iniciamos a campanha pelos grupos definidos nacionalmente, indo até o público-alvo da primeira fase e temos um planejamento pronto para toda a campanha na cidade. A partir da segunda fase, que irá contemplar os idosos a partir de 60 anos, serão organizadas ações por faixa etária para oferecer a imunização com segurança e evitar aglomeração de pessoas, como o uso de 40 Unidades Básicas de Saúde, escolas, ginásios e, até mesmo, nas residências, no caso de idosos acamados.
CS-O processo de vacinação em massa será o mesmo das demais vacinas, ou seja, o cidadão se dirige até a unidade de vacinação no dia e horário que melhor lhe convém, ou o processo será diferente?
WB – Esta campanha exige estratégias específicas, de acordo com as fases, grupos prioritários e cronograma do Ministério da Saúde. A organização fica a critério do município e será feita de acordo com a nossa realidade. Nosso planejamento é para que a vacinação nas UBS ocorra de forma espontânea nas UBS e também por meio de agendamento em plataforma on-line. Quem optar por fazer o agendamento, deverá apresentar documento de identificação original com foto, comprovante da marcação do dia e hora de aplicação. No caso do público que compõe a fase 3 – pessoas com comorbidade ou com deficiência – também precisarão apresentar documento que comprove a prioridade, conforme determinações do informe técnico emitido pelo Ministério da Saúde.
CS-Quais as próximas fases da vacinação contra a covid em Aracaju e qual a estimativa de duração da aplicação da vacina de cada um destes grupos?
WB – Não temos como estimar a duração de cada fase porque dependemos diretamente do repasse de doses do Governo Federal. Mas podemos garantir que temos estrutura e planejamento para aplicação de doses a toda a população, conforme plano de vacinação.
Assim que recebermos as próximas doses, de acordo com o esquema de distribuição e disponibilidade de doses do Ministério da Saúde, nossa prioridade será finalizar a meta de 90% do público da primeira fase. De acordo com a campanha de vacinação da Influenza de 2020, estimamos uma média de 29 mil trabalhadores da saúde e idosos institucionalizados contemplados nessa etapa de imunização contra a covid-19. Na fase 2, foi estabelecido imunizar pessoas com mais de 60 anos, que são cerca de 82 mil, divididas em cinco etapas – iniciando com os que possuem mais de 80 anos até chegar ao grupo de 60 a 64 anos.
Logo em seguida, a fase 3, que abrange pessoas com comorbidades comprovadas, de 0 a 59 anos, que são cerca de 17 mil pessoas em Aracaju. Já na fase 4, entram professores, profissionais das forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e pessoas privadas de liberdade.
CS-Qual a importância da vacinação em massa?
WB – O objetivo da vacinação em massa contra a covid-19 é garantir que mesmo pessoas que não foram vacinadas sejam protegidas contra a doença e isso só será possível com a maioria das pessoas vacinadas. Com a chegada da vacina, diante das limitações da disponibilidade de doses, a prioridade é imunizar pessoas que compõem o grupo de risco para reduzir o número de óbitos e preservar a vida. Somente com a maioria da população com anticorpos conseguiremos alcançar o efeito de imunidade de rebanho, ou seja, teremos o controle dessa doença altamente infecciosa.
CS-A prefeitura pretende realizar alguma campanha de conscientização quanto a importância de o cidadão se vacinar?
WB – Sim, a conscientização da população também faz parte do plano municipal de vacinação. Com tantas informações inverídicas e teorias negacionistas circulando indevidamente entre a população, nossa equipe de comunicação atua desde o primeiro momento com estratégias para o aumento da confiança na vacina, apresentando os reais benefícios e importância dessa conquista da ciência para o bem coletivo.
CS-Tanto a coronavac, como a AstraZeneca e as demais vacinas já aprovadas pelo mundo foram concebidas em tempo recorde e isso acaba causando receio. Muitos temem um efeito colateral. Porque essas vacinas são seguras?
WB – Não foram registrados efeitos colaterais significativos envolvendo a aplicação da CoronaVac, apenas leve dor no local da aplicação e alguns casos de dor de cabeça, sintomas comuns na aplicação de outras vacinas. Os riscos são muito pequenos em relação aos benefícios e isso nos dá segurança para que possamos vacinar a população de forma tranquila.
Essas duas vacinas foram aprovadas por unanimidade no último dia 17, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e os testes para a elaboração da vacina Coronavac – que é a vacina que atualmente está sendo utilizada em Aracaju -, que tiveram início em julho de 2020, foram elaborados com mais de 13 mil voluntários, de sete estados brasileiros, seguindo todos os protocolos exigidos pelos comitês científicos e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ficou comprovado que a CoronaVac realmente estimulou o desenvolvimento de anticorpos, que é o que a gente precisa para se proteger da contaminação. A eficácia da Coronavac é de 50,38%, índice acima do padrão estabelecido pela OMS, que exige uma eficácia de 50% para aprovar um novo imunizante. Isso significa que de cada 100 pessoas, metade não desenvolverá qualquer sintoma ao ter contato com o vírus. Os estudos apontam, ainda, que 100% dos vacinados não desenvolvem os sintomas graves da doença. Isso levará a uma radical diminuição da mortalidade provocada pela covid-19.
CS-Qual o perfil do grupo que mais tem contraído covid em Aracaju?
WB – O maior número de casos registrados de Covid-19 está concentrado em pessoas jovens de 20 a 59 anos. Um total de 51.079 dos 64.858 casos confirmados. Isso significa que temos um acometimento maior de pessoas que estão em idade ativa de trabalho e não podem fazer o isolamento social recomendado.
CS-Quantos casos confirmados até agora e quantas mortes?
WB – Até a última quarta-feira (20), contabilizamos 65.204 pessoas diagnosticadas com covid-19 em Aracaju. Dessas, 251 estão internadas em hospitais; 3.688 estão em isolamento domiciliar; 60.298, que estavam infectadas já estão recuperadas; e 967 vieram a óbito. Temos ainda 24 pacientes suspeitos internados, que aguardam resultados do exame. Já descartamos 62.554 de 127.782 testes realizados.
CS-Qual o papel do município no tratamento da covid?
WB – O município de Aracaju busca garantir o pleno direito à saúde ao cidadão, por meio da oferta de serviços de atendimento de baixa e média complexidade e estratégias de combate à pandemia. Desde o início da pandemia, baseado no número de casos, temos desenvolvido ações para ampliação desse acesso dos aracajuanos.
Isso vem ocorrendo através da separação e criação de leitos exclusivos para atendimento de pacientes infectados, bem como, Unidades Básicas de Saúde de referência para casos de síndromes gripais – que já chegou a oito unidades e agora são quatro -; criação do MonitorAju para acompanhamento e orientação de casos suspeitos e confirmados; o programa Aracaju pela Vida, que realiza busca ativa de pacientes nas residências de pacientes que já foram atendidos pela Saúde municipal, mas que possuem riscos de agravamento, como idosos ou em pessoas com algum tipo de comorbidade; o Serviço de Apoio Psicológico remoto por telefone, em que o usuário é direcionado diretamente para um psicólogo; e a instalação do Hospital de Campanha, que possibilitou salvar diversas vidas e não permitiu que o nosso serviço de saúde entrasse em colapso; ampliação da testagem através do TestAju, que realiza ações em locais públicos.
CS-Pesquisa da UFS aponta para um novo pico da covid em Sergipe entre os meses de março e abril, a Secretaria de Saúde de Aracaju está se preparando para isso. O Hospital de Campanha, que foi desativado, faz falta hoje?
WB – Estamos dando continuidade ao nosso planejamento de ampliação de retaguarda, com o objetivo de fortalecer a rede municipal, conforme crescimento do número de casos confirmados na cidade. No início deste mês, passamos a contar com mais cinco leitos de enfermaria credenciados ao Hospital São José. Com isso, nossa rede passou a ofertar 37 leitos de enfermaria exclusivos para pacientes infectados pelo novo coronavírus e todas as acomodações contam com respiradores para estabilização.
Também estamos trabalhando para implantar mais cinco leitos no Fernando Franco até o fim de janeiro, bem como, para o processo emergencial de contratação de mais 20 leitos na rede privada. O Hospital de Campanha teve um papel fundamental nos seus quatro meses de funcionamento. Sendo um dos principais equipamentos de saúde no atendimento covid-19 na capital sergipana, o HCamp atendeu 461 pacientes, teve uma taxa de 74% de resolutividade e recuperou 343 pessoas infectadas pela covid-19. Ele foi necessário em um momento de pico, que não tínhamos tempo hábil de ampliar a rede já existente. Não há previsão de reativação já que estamos ampliando nossa rede de retaguarda.
CS -Em Sergipe veio à tona o caso da vacinação do prefeito de Itabi, que não fazia parte do grupo prioritário. No Brasil casos semelhantes não param de acontecer. Em Aracaju, como é feito o acompanhamento dessa vacinação, para garantir que apenas o grupo definido seja vacinado?
WB – Para essa garantia, solicitamos previamente aos hospitais a lista completa de todos os seus funcionários com os setores de trabalho e a vacinação é realizada nos locais de trabalho desses profissionais. No caso dos idosos institucionalizados, requisitamos a lista de todos os residentes por idade e dos cuidadores, que também devem apresentar documentos comprobatórios no ato da imunização.
Além disso, trabalhamos em parceria com o Ministério Público Federal e Estadual, enviando as listas dos profissionais de linha de frente dos equipamentos de saúde para que esses órgãos possam fiscalizar.
CS-Ainda não há uma data definida para o recebimento de mais vacinas, isso é fato. Porém há algumas possibilidades como a aprovação da Sputnik e as 4 milhões de doses que serão produzidas integralmente pelo Butantan. A Prefeitura de Aracaju tem uma estimativa de quando alcançará a imunização de pelo menos 70% da população? Há um plano B?
WB – Não temos essa perspectiva porque isso irá depender do esquema de distribuição do Ministério da Saúde. O nosso posicionamento, conforme decisão do prefeito Edvaldo Nogueira, é defender que o Governo Federal lidere o processo de imunização da população brasileira para a covid-19, coordenando o plano nacional de vacinação. Porém, não ficaremos esperando. Como uma medida precavida, em virtude das circunstâncias de indefinições e problemas que estamos vivendo, ainda no dia 16 de dezembro, antes mesmo que a vacina CoronaVac tivesse sido aprovada pela Anvisa, enviamos uma Carta de intenções ao Instituto Butantan para a aquisição inicial de 300 mil doses da vacina contra a covid-19. O objetivo é de que, caso o Governo Federal não tome essa medida de coordenar um plano no âmbito nacional, Aracaju tenha uma alternativa.
CS-Qual a importância de a população continuar adotando as medidas de segurança sanitária como uso de máscara, higienização das mãos e o distanciamento social?
O volume de doses que recebemos é ainda pequeno em comparação com o quantitativo populacional da nossa cidade. Isso significa que temos que permanecer com todos os cuidados, que foram tão essenciais para o enfrentamento dessa doença em nossa capital, como o uso da máscara, higienização constante das mãos, utilização do álcool a 70% e distanciamento social.
WB – A compreensão e colaboração de todos continuam sendo essencial nessa luta, sobretudo neste momento, em que apesar do recebimento da vacina, voltamos a registrar crescimento preocupante nos números de novos casos.
CS-Que mensagem você deixa para os aracajuanos?
WB – Nossa mensagem é de responsabilidade social. Vacinação é um pacto social com a saúde e precisamos que cada cidadão tenha consciência de sua responsabilidade neste momento de pandemia, que vivemos há dez meses. Precisamos, também, manter os protocolos sanitários de uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social.