Brasil, 194 anos de Independência: um marco significativo na história nacional
Joângelo Custódio
Em 7 de setembro de 1822, há exatos 194 anos, o Brasil cortava para sempre o cordão umbilical com sua pátria mãe, Portugal, para ser, de fato e de direito, um jovem independente, mas infestado por correntes políticas e conservadoras, embevecidas com a burrice da síndrome de sub-realeza. O dia histórico e representativo, que fez o Brasil decretar feriado e vestir-se de verde e amarelo em sucessivos desfiles país afora, ficou eternizado na célebre e exagerada pintura “Grito do Ipiranga”, do artista Pedro Américo, em 1888.
Como já é notório e sabido, o príncipe regente naquela época, Dom Pedro I, futuro Imperador do Brasil e Rei de Portugal, proclamou a independência no dia 7 de setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, com dor de barriga e montado numa mula ou cavalo baio. Nada de roupas de gala e cavalos robustos como pintou Pedro Américo. A simplicidade daquele ato fulgura numa das mais lindas páginas da história do Brasil, um divisor de águas, como explica o professor de história e historiador do município de Itabaiana, Wanderlei Menezes.
“O 7 de setembro é um marco. Uma data significativa na História Nacional. Ele serve como divisor entre duas fases do nosso passado: marcou o fim do período colonial para o Império. O que hoje nós denominamos de Brasil, era durante os séculos XVI, XVII e XVIII, territórios pertencentes ao império ultramarino português, tanto que o Brasil era também denominado América Portuguesa. A partir do ato do rebelde D. Pedro I, na época Príncipe Regente do Brasil, os laços de dependência administrativa foram cortados. Surgia uma nova nação independente: o Brasil. Foi um duro golpe para a monarquia portuguesa (a dinastia de Bragança), naquele momento era o monarca D. João VI, pai de D. Pedro I. Alguns historiadores defendem que a independência do Brasil foi um acordo de pai para filho, tanto que o Brasil pagou uma pesada indenização para ter sua independência reconhecida por Portugal. O famoso grito do Ipiranga (“Independência ou morte?”) parece não fazer sentido. A questão maior não era a morte (luta armada, guerra, revolução…), mas a independência. É importante salientar o papel desempenhado pelas elites nacional nesse processo. A oligarquia local, pelo menos sua imensa maioria, apoiou a independência e a escravidão e os privilégios foram mantidos durante o Império.”
Identidade
Muitos se perguntam: o que aconteceria se Dom Pedro não decretasse independência do Brasil com relação a Portugal? Seríamos uma nação sem identidade? Segundo Wanderlei Menezes, é preciso compreender que havia um processo de emancipação política e fortalecimento do sentimento de identidade brasileira em curso desde o século XVIII.
“Houve, antes do 7 de setembro, movimentos que buscavam desatar os laços de dominação portuguesa no Brasil. Na década anterior ao grito do Ipiranga, o Brasil era a sede da monarquia lusitana e o Rio de Janeiro abrigou toda a opulenta corte de D. João VI. Contudo, em 1822, essas aspirações foram concretizadas. Nossa independência política foi um processo elitista, excludente e caro. Mesmo assim, não podemos negar que, após 1822, é forjada uma identidade nacional. Literatos, historiadores e políticos buscaram dar sentido à nova nação. Nesse contexto, temos a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838), que tinha por missão estimular a propagação de estudos acerca do Brasil, contribuindo assim para a preservação da memória e identidade nacional. Encontramos na literatura romântica, da primeira metade do século XIX, primorosos exemplos da tentativa de criação de uma identidade nacional, um exemplo cabal são as poesias de Gonçalves Dias”.
Cenário Político em Sergipe
Dois anos antes da independência brasileira, em 1820, o rei D. João VI assinara um decreto régio isolando Sergipe da Bahia e bastante significativo para se compreender o processo de independência nacional. Conforme Wanderlei, o que atualmente denominamos Sergipe era, na realidade, uma capitania subalterna, sob a denominação de Sergipe D’el Rei.
“Os laços de dependência com a Bahia eram bastante acentuados, por ser Salvador, até 1763, a capital administrativa do Brasil. Nas primeiras décadas do século XIX, a capitania de Sergipe não tinha autonomia administrativa, ou seja, era um território anexo da Bahia. Os capitães-mores (governadores) eram indicados pelo capitão-general e governador da Bahia com a aprovação régia. Quando D. João VI promulgou o referido decreto acabando com a subordinação de Sergipe em relação à Bahia e nomeou a Carlos Cesar Bulamarqui para ser governador de Sergipe, os baianos não aceitaram de bom grado a nova situação de Sergipe. Não era apenas uma questão política, mas, sobretudo, econômica. Sergipe tinha uma produção açucareira e de farinha destacada. Segundo a professora Maria Thétis Nunes, o processo de independência do Brasil e o de Sergipe foram concomitantes, pois, em 1821, a Bahia, sob o comando do português Madeira de Melo, não respeitou a ordem régia e ordenou a prisão do governador nomeado pelo rei. Era o Brasil buscando se tornar independente de Portugal e Sergipe tentando se livrar do jugo baiano, importante reduto de portugueses que resistiram à decisão de D. Pedro I de tornar o Brasil independente de Portugal. Apenas em 1823, ou seja, um ano após o Grito do Ipiranga, as forças baianas foram derrotadas pelos exércitos que apoiavam a causa da independência (compostos por mercenários e populares) e Sergipe conseguiu sua independência política, tornando-se uma província do império fundado por D. Pedro I.”
Patriotismo perdido?
Nos dias de hoje, vê-se certo desinteresse, principalmente por parte dos mais jovens, quando o assunto é patriotismo. Muitos não entendem ou tampouco sabem cantar o hino, o que dizer das lutas antológicas e das mortes das sumidades brasileiras que ajudaram a construir uma nação soberana. Nomes como do auferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, ou simplesmente Antônio Conselheiro, que liderou a Guerra de Canudos, passam despercebidos e quase esquecidos pela geração “Smartphone”. Torcer pelo Brasil somente em épocas de Copa do Mundo. Com a palavra, o professor Wanderlei:
“Durante a Ditadura Militar (1964-1985) havia a disciplina Educação Moral e Cívica e hábitos como cantar o hino antes de adentrar a escola. O respeito e a valorização do chamado amor pátrio passa pela educação. Vemos isso aflorar de forma mais acentuado durante as chamadas “semanas da Pátria” e só. A manifestação mais clara do amor pátrio aparece no futebol. Esse esporte é paixão nacional. O Brasil é também conhecido como pátria de chuteiras e como a nossa seleção não anda convencendo nem encantando, nem mesmo esse patriotismo o povo brasileiro tem tido. Acredito que o patriotismo deve estar relacionado aos interesses nacionais. Ele deverá servir como bandeira de luta contra a corrupção, desigualdades e dependência econômica e tecnológica do Brasil em relação aos países mais desenvolvidos. Sonho em ver o povo brasileiro demonstrando todo seu amor ao país não apenas da boca para fora. Mas, para isso é preciso que o Estado faça sua parte, através de atitudes como fortalecendo a democracia, combatendo o analfabetismo e erradicando a mortalidade infantil, por exemplo. Percebo que a relação entre Estado e Sociedade no Brasil é bastante complexa. O sergipano Tobias Barreto expressou bem a desconfiança que havia da sociedade em relação aos governantes na lapidar expressão “Há algo de podre lá em cima (nas instâncias de poder)”. Acredito que o país enfrenta graves crises nessa relação entre seu povo e seu governo. Vejo bem nitidamente uma crise política (governabilidade ameaçada), acentuada pela crise econômica e a pior de todas as crises: a moral. A corrupção é câncer que precisa ser extirpado do país. As classes políticas e empresarial brasileiras estão fragilizadas com tantas denúncias e investigações. Atualmente, vejo que há desconfiança e incerteza por toda parte. As manifestações de ruas, que acompanhamos desde 2013, apesar de terem variados motivos, são as provas cabais que mudanças são necessárias. O país avançou muito neste novo milênio, porém os desafios são gigantescos.”